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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Yeyo Llagostera produtor de cinema no Brasil

Locura de vivir narra la increible historía de Yogo LLagostera, un español millonario que derrochó su fortuna viviendo la vida y que tras arruinarse resurgió de sus propias cenizas. Su historía nos presenta una galería de singulares personajes del ámbito cultural, potítico y social que formaron parte de su vida, durante sus continuos viajes alrededor del mundo. El final de sus aventuras se centra en Marbella, ciudad emblematica del lujo y la jet set internacional, donde LLagostera forma parte del famoso grupo los Chorys, absolutos protagonistas de la época dorada marbellí.

Não li o livro do meu amigo, produtor do meu filme Bandalheira Infernal, 1975, Rogelio Llagostera. O espanhol-catalão mais interessante, mais anti-sistema, mais anti-mundo, mais anti-esquerda, anti-direita, anticlerical, que eu conheci.
Nascido em berço de ouro, filho de uma família proprietária de uma indústria farmacêutica na Espanha, ele, embora riquíssimo, era um inconformado com o seu tempo. Queria transformar o mundo em que vivia. Não queria freqüentar mais os palácios, nem a aristocracia que ele por certo desprezava. Inteligente e polemista queria entrar para o grupo revolucionário basco ETA, mas não conseguiu ser aceito.
Por pressão da nobre família assustada, querendo ver-se livre do filho rebelde, recebe uma polpuda mesada, e, ainda jovem, passa a viajar pelo mundo, gastando como um rei a sua herança, a sua fortuna.
Eu o conheci através de um amigo comum, um sujeito refinado que tinha como apelido o formidável título de Barão.
Foi esse espanhol das arábias que me presenteou com um pouco do dinheiro que ele estava disposto a queimar. Mas para mim já era o suficiente para completar o meu sonho de adolescência: realizar o meu primeiro filme.
Um dia estava em casa, no Alto da Boa Vista, quando recebo um telefonema da Espanha me informando que ele, El louco, estava chegando de volta ao Brasil com minha encomenda... Minha encomenda?...
Fui até o seu apartamento na Lagoa e lá estava a minha encomenda aberta na sala – um moderno equipamento de cinema - câmera Arriflex 35mm completa – som direto - Nagra IV cristal – tudo em sincronismo com o que eu havia de brincadeira, um dia, lhe encomendado..O meu sonho estava a um passo de ser realizado... E ainda me deu de sobremesa a notícia que abriríamos uma produtora e seu primeiro projeto seria produzir o meu primeiro filme e que ele havia lido o roteiro e gostado muito – disse-me que queria ser o ator e faria o papel do espanhol no filme...
Esse cara não era um homem, era um deus!
Ele era no momento histórico do pesadelo que o nosso país vivia aquele que me permitia voar, ser livre e sonhar o impossível.
Para um jovem apaixonado por fotografia, vivendo em um país subdesenvolvido, em regime de ditadura militar, imaginar que um dia pudesse fazer o seu cinema de arte, era realmente um sonho impossível. Mas Rogelio Llagostera acreditou e apostou no sonho daquele garoto que conheceu do outro lado do mundo.
Rodei com esse equipamento todos os meus filmes feitos em película 35mm. Todos! Quer dizer: se não fosse este estrangeiro, vindo de longe, da alta burguesia européia, eu não teria feito cinema no Brasil. Essa é a mais pura e triste verdade.
Vejam vocês qual era a nossa primeira produção: um filme chamado O Navio Fantasma. A história e o roteiro, escritos por mim, retratavam um espanhol e um português que naufragavam na costa brasileira, na época do descobrimento, e, por acharem que estavam em uma ilha, penetram pelo continente tropical até atingirem a civilização Inca, do outro lado da cordilheira, no oceano pacífico. Magicamente, no fim da longa viagem, tinham avançado quatrocentos anos, chegando à realidade do nosso tempo na cidade de Santiago do Chile.
Abrimos uma produtora em Ipanema, na praça N. S. da Paz. - a Lagos filmes. Tudo ia muito bem – o nosso projeto em andamento. Chegamos a começar as filmagens do épico de longa-metragem, na Bahia, mas tudo deu pra trás.
Naquele ano Yeyo já estava namorando a sua mulher brasileira, futura mãe dos seus filhos e por uma brincadeira de mau gosto do intrépido Barão, em uma noite mal dormida, na sua ausência... Foi uma cagada no ventilador da produção. E também por um defeito na câmara, que antes de viajarmos tinha sido alugada contra a minha vontade, não demos continuidade no projeto. Tudo ia acabar em uma tragédia espanhola se não fosse o espírito anárquico e aventureiro de Rogelio, que tudo superou com firmeza e bom humor.
Mas o meu sonhado primeiro filme foi perdido nas águas da Bahia de todos os santos.
Em 1986, quando fui exibir o meu filme 100%Brazileiro no Festival de Berlim, passei por Marbelli, na Espanha e ele foi me receber no aeroporto com sua mulher.
Fiquei na sua belíssima casa, em uma colina de onde podia se observar todo o mar do Mediterrâneo. Foi uma semana de aventuras. Ele nos levou na sua limusine preta até Madri, passando lentamente por recantos belíssimos do interior da Espanha. Tenho tudo isso registrado em VHS e um dia vou editar.
Essa foi a última vez que o vi. Nunca mais consegui falar com ele...
Se alguém sabe onde ele se esconde atualmente, me passa o endereço, telefone, email, qualquer coisa, para que eu possa novamente desfrutar deste grande personagem dos contos e das lendas espanholas. Olé!

Um comentário:

humberto ribas disse...

José, a brincadeira de mau gosto do intrépido baráo foi feita muito antes de conhecermos o Coño.

Decrépito Barão