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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Notas para o futuro... (1)

UM MINUTO DE SILÊNCIO

Minha jovem e inesquecível atriz, amiga, Roberta Pires, que viveu tão perto e tão pouco daqueles que há muito tempo amamos; que filmou comigo o Labirinto de Pedra; que passou como um cometa muriliano pela nossa história. Tenho a sua imagem presa na minha retina. Quem te conheceu não vai te esquecer, pois, quem sabe, outro dia poderemos voltar a nos encontrar...

Da mesma maneira que Villa-Lobos, com a sua música, escrevia cartas para o futuro, eu também quero escrever para o amanhã, creio eu, os meus pictogramas sonoros, hoje ideogramas desconhecidos.

Fiquei pensando na minha “fortuna crítica”, como gostam de dizer os acadêmicos, e cheguei à conclusão que algo de muito estranho aconteceu com ela...

Há tempos atrás eu escrevi e dirigi, pela primeira vez, um espetáculo de teatro que chamei de “Eu e os Anjos”, onde transformei os poemas de Augusto dos Anjos, o ator personagem, em diálogos poéticos – onde ele falava consigo, com os seus pensamentos. Kimura Schetino era o ator. Tempos depois em uma remontagem da peça, eu e uma pequena equipe filmamos (gravamos) o espetáculo. Depois entrevistamos quatro poetas: Ferreira Gullar, Ledo Ivo, Ivan Junqueira e Alexei Bueno. Nesta mesma época eu tinha acabado de comprar uma ilha de edição e começava a me familiarizar com as técnicas da montagem eletrônica. Editei, aprendendo com “Eu e os Anjos”, como um amador, deslumbrado com os seus novos recursos e ferramentas. Resultado: a primeira edição ficou uma merda! Peço desculpa a todos que assistiram a esta colagem de imagens, a esse desespero de quem queria mostrar, a si mesmo, que tudo sabia e que poderia dominar a complexa máquina. Pensava na máquina e esquecia-me do filme, muito mais complexo, não observando a preciosidade de todos os depoimentos e dos grandes momentos de interpretação do ator. Agora estou corrigindo esse meu desleixo, reeditando todo o material e fazendo o filme documentário que deveria ter sido feito antes.

Não sou um irracional depressivo, paranóico, rancoroso, não queria a princípio participar de nenhum festival de cinema com o meu novo filme Amaxon. Mas, os mais íntimos, dizem que estou me escondendo e que é preciso mostrar o meu trabalho para um público que gosta de cinema e freqüenta as centenas de festivais espalhados pelo Brasil e pelo mundo, eu não resisti ao argumento, da maioria dos amigos e experimentei mandar para dois festivais, completamente diferente um do outro, Cuba e Natal, foram os festivais escolhidos para testar o filme. Amaxon foi recusado pelos dois. Recusaram uma obra nova, de vanguarda... Na certa que não entenderam o que Amaxon queria colocar em discussão. Pensei: Foda-se! Não vou defender a obra e nem atacar os medíocres que não me selecionaram, mas aposto com o Sérgio Santeiro, que não chegou ali nada parecido com a cinematografia, a estética e a linguagem poético-revolucionária, proposta por esse meu novo filme de ficção.

É como eu disse a um amigo pelo telefone: - Há algo de estranho com a minha fortuna crítica..., ou serei eu a ficção?

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