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quarta-feira, 7 de novembro de 2012


MINHA VIDA É UMA MERLUSA
 Fábio Carvalho
Cristais letárgicos, como as belas nos bosques,
e as joias nas malas, antiquários ainda não
nasceram que virão um dia buscá-las.
Carlos Drummond de Andrade

É igual a não se esquecer que a vida é que tem razão. Aprendi a dizer não. Estou em busca da sereia do mar. O risco de me afogar é grande. Sei que mergulhei. Não contemporizei. Pelo menos isto. Da espera virá. O verão vertical. Vasto é o mar espelho do céu. Ainda estamos na primavera. Nada melhor do que uma quinta que já é sexta. Vi dois siris jogando bola. Apenas uma questão musical, pode ser que depois do feriado voltemos a ser mais semanais. Se quisermos. Como escapar deste recorrente plural que ainda não descobri de onde vem logo de mim que sempre me achei completamente singular. Pode ser um novo engano. É bom sofrer pelo seu time do coração, dizia o velho mestre João Etienne, ele mesmo que escreveu o extraordinário livro de contos chamado Os Tristes, que infelizmente poucos tiveram a oportunidade de conhecer. Se o espetáculo é bom, para quê público? Perguntava Ronaldo Brandão. Realmente nunca vou saber a resposta. Parece uma previsão. Sei que tenho sofrido. Memória nacional. Deixa-me penetrar na tua onda. Belo verso. Só com uma pequena correção. Do que jamais houve. Aquela princesa me ferrou. Curo esse rasgo ou ignoro qualquer ser. Eu preciso aprender. E isto é problema meu. Não me incomodo que você me diga que a sociedade é minha inimiga. Isto eu já sei. Coisa linda. Lua. Eu e a brisa. E só não conto mais nada. Não servirei ao deus da carnificina. O assunto é cinema. Sem fuga nem saída. O futebol é mestre em surrupiar jargões e ditados populares para tentar se auto-explicar: contudo, um dos provérbios mais batidos, que decanta que “nos pequenos frascos estão os melhores perfumes”, não serve para representar a escala de produção de jovens jogadores. Rejeitado pelo Cruzeiro, Bernard faz o Atlético voltar a sonhar com títulos e algumas dezenas de milhões a mais na conta do clube. Consciência da representação. Para mim. Vertigem. Tristemente tudo é negócio baixo. Dai-nos senhor o pão de açúcar de cada dia. Glória a todas as lutas inglórias. Minha amiga Guga está me deixando com inveja: toda vez que pergunto dela, ela está no Rio de Janeiro. Mais uma vez o João me disse. Longos anos se passaram. Acredite no final. A emoção musical que ficou. Quem diria. Cada vez sou mais fã do Sean Penn. Ótima personalidade de ator, nomeado embaixador da mastigação da coca boliviana e temos ainda o Johnny Depp. Quero entrar nesta. Alguns poucos se salvarão, eu acho que até no norte da América. Forever drunk. Nada além de um fim de tarde a mais. Se alguém lhe oferecer uns óculos sem lentes é armação. Nunca passei por isto. Fazem exatamente trinta e cinco dias e noites que atravesso sem ver um filme sequer. Incredível. Mas é possível e natural. Desconfio que não sou adicto. Foi só uma pequena deformação. Depois de nove meses, tomei uma Coca-Cola gelada. E não doeu. Não esculhambei de propósito, o caso não foi pensado nem programado. Nem dizer preciso. Embora esteja a dizer. A barra está pesada mãe e quem está na chuva tem que se molhar. Se não, não vale a pena. A gente não precisa que organizem nosso carnaval. Até sonhar de madrugada uma moça sem mancada. Uma mulher não deve vacilar. Para comer um espinafre refogado e uma carne temperada comprada pronta só restando ir ao forno com o gás cheio e tudo, tive que esperar mais de 48 horas, o tempo do habeas-corpus. Logo eu que só como peixe. Enfim, tenho enlouquecido de fome, cheguei a achar que era o álcool, mas não, era o ronco da barriga que é surdo. É bom saber a causa da sua loucura. Vou voltar à cachaça sem culpa. Me dê motivo. Acho que é o inverno do meu coração, embora estejamos às vésperas do esperado verão. Estás tão aflita para me abandonar. Sinto Maria. A vida Maria não passa de um dia, não vou te prender. Sem lenitivos. Mais difícil que a vida foi assistir o modorrento jogo do Galo com o Coxa no Paraná na noite deste domingo. Meu mundo masculino caiu. Amanhã que é segunda feira acordo mulher, pagarei todas as contas que puder. E foi só agir pelo coração, aqui estou duro de novo. Por onde ela anda, não sei, agora vou mentalizar e só assim poderei descobrir sem saber. Esta é minha esperança cega: encontrar a pérola. Em câmera lenta parou na porta do Bar vestido com uma roupa imunda e descalço, cheirando uma garrafa de plástico contendo Tiner, um cara que é a cara do Bob Marley, com a mão levantada segurando duas moedas. Algum tempo depois o Pouca-Prática apareceu e trocou as duas moedas por um cigarro na mão erguida do nosso Bob Marley, que sem me pedir fogo, seguiu seu caminho na mesma marcha que veio. O triste fim de Policarpo Quaresma.

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