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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dois casos e uma medida

TRÊS AMIGOS E UM CANHÃO

Caboclo Sete Lira
Uma história real

Outro dia estava entrando na galeria do café, vindo na contraluz da história, quando percebi, caminhando em minha direção, a figura simpática, alegre e carioca, de um ícone da cidade, tratado ainda hoje, aos 63 anos de idade, carinhosamente, pelos amigos, pelo diminutivo do seu nome.

Conheci-o, este sujeito simpático e inteligente, cheio de idéias criativas e apreciador das boas coisas da vida, sendo-me apresentado por um amigo comum. Pouco tempo depois, em uma reunião na casa do mesmo amigo, conheci o outro personagem desta minha história: era, a primeira vista, um jornalista simpático, bem informado, jocoso, irônico, inteligente e bem humorado, de quem me tornei amigo.

Nosso primeiro personagem estava com a sua fisionomia cansada quando o encontrei em frente daquela insuportável televisão. Sentamos a mesa e ele, depois de algumas conversas, me mostrou seu olho direito avermelhado, bastante irritado. Disse-me então que aquilo, uma forte infecção nas vias respiratórias, muito lhe incomodava. Já havia sido operado, pingava remédio todos os dias, etc. e tal, mas nada adiantava.

Sendo eu filho de um médico e por não cuidar bem dos meus dentes, sou um fumante inveterado, tive que descobrir remédios alternativos que me ajudassem a manter em dia a minha higiene bucal. De todos os líquidos, químicos e naturais, que eu experimentei - um só, somente um, de fórmula antiga, famoso lá no interior das Minas, feito a base de álcool e ervas fina, foi que resolveu os meus problemas. Faço uso dele quase todos os dias. Há mais de vinte anos. Nunca mais tive infecção e nem dores de dente. O que de melhor eu podia indicar ao meu amigo, para o seu sofrimento, do que esse santo remédio?

Levantamos das cadeiras e fomos à farmácia comprar o milagroso produto. Expliquei a maneira que eu usava o elixir: primeiro passe o fio dental, com força, nos dentes e lave. Segundo, escovar os dentes normalmente e só depois de bem lavado é que chega a hora de jogar puro, entre os dentes, o líquido vermelho e denso na boca... Encontramos em seguida com o jornalista que bebia um mate com limão e deixei os dois velhos amigos conversando.

Passa todo um dia. Estou em casa escrevendo. O celular toca. Já é noite. Atendo. Do outro lado da linha ouço o famoso chamado do jornalista, quando me telefona: - Alô! 1,2,3,4,5,6,7, meu caro caboclo, disse ele, você quase matou o nosso amigo comum... Eu respondo: - O que aconteceu? ... - Sette, eu vou lhe passar o consulente e ele vai lhe dizer... - Alô Sette! Sou eu, meu querido... – O que aconteceu? Perguntei assustado. – Olha! Joguei metade do vidro daquele líquido vermelho na minha boca e segurei com valentia a queimação infernal que eu passei imediatamente a sentir. Queimava-me a boca, os olhos, o nariz e a garganta, como que se eu estivesse ali tentando engolir uma brasa acesa. Lembrava-me da sua orientação de não cuspir, de maneira nenhuma, o elixir, não antes da queimação passar. Cerrava os dentes e queria gritar de dor. Resistia, e, para aliviar o sofrimento, pulava de um lado para o outro e, em seguida, abaixava e subia a cabeça, num frenesi de assustar os menos avisados. Enquanto eu me contorcia, o amigo palhaço que me acompanhava, que estava a minha frente, observando-me com os seus olhinhos miúdos, arregalou os olhos, esticou os lábios e passou a fazer passos e passos de macumba, como se recebesse um santo, dizendo com voz de preto velho: - Óxente! Caboclo Seu Sete da Lira baixou, sarava! Ele esta cuspindo fogo! Ó caboclo malvado, deixa esse Omi em paz!... Não resisti ao personagem representado pelo nobre amigo e cuspi longe todo o líquido que estava na minha boca. Que alívio me deu, não sei se consigo fazer toda essa experiência novamente... Disse-me ele rindo.

Corte cinematográfico. A bateria do telefone celular acaba. Silêncio. Voltei, chateado com essa minha mania de dar conselhos médicos, a trabalhar no texto do meu novo filme... “Herói Marginal”. Foi quando imaginei a cena dos dois zombeteiros, fazendo pilhéria, dançando no terreiro... Parei de escrever e não consegui mais parar de rir de mim mesmo.


Elixir do Pagé

Como esse mundo esta ficando mais careta, moralista, teocrático, tecnocrático, fundamentalista, personalista, néscio, estúpido, violento, brocha, etc., eu pergunto aos amigos de Cabo Frio se eles conhecem ou se já leram “Elixir do Page”, o livro raro de Bernardo Guimarães? Eu possuía o exemplar 0280, do qual fiz uma cópia. Trata-se de dois poemetos, “de inspirado trovador”, publicados pela primeira vez em 1875. É como disse o maranhense Artur Azevedo: “É raro o mineiro que o não saiba de cor... Há na província espalhadas um cem números de cópias deste Elixir...” Poemas eróticos, obscenos, ou sei lá como classificá-los! Que julguem os amigos da província. Vamos apresentá-los!

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