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sábado, 1 de maio de 2010

TEATRO

Longo Diálogo No Oráculo Dos Desencantados Entre Dois Amigos Que Se Reencontram.
- Alô! Como vai meu amigo? Estou em campanha e vim visitar o oráculo. Você já escolheu os seus candidatos?

- Não acredito em eleição. Devo dizer ao meu amigo que esse mundo, dito civilizado, onde se escraviza pelo dinheiro a maioria dos seres vivos, continua o mesmo de quando era criança e tomei a consciência de que ele existia. Só muito tempo depois, de fato e de direito, eu descobri como ele era extremamente cruel.

- Mesmo com toda essa crueldade do mundo, eu gosto da vida e dos desafios que ela me proporciona. Você não é feliz e não gosta da vida? Não estou lhe conhecendo...

- Essa não é a questão! Não é o mundo, mas o homem que é cruel. O que você acha de uma civilização onde se tem de pagar caro para viver, do nascimento até a morte, onde tudo só se resolve com dinheiro, dinheiro fatal e necessário a vida? Alguém pode ser feliz em um mundo onde milhares de crianças morrem de fome todos os dias?

- Você acha que é o dinheiro, a fonte energética que movimenta as personagens desse mundo, a sociedade, é o que mata todas essas crianças?

- A falta dele! Acho e penso que é o dinheiro e sua energia diabólica, que movimenta o dia-dia de cada um de nós e fazem da cobiça o véu social dos homens que acham que o domina, ou que são atrelados a esse poder financeiro, a essa força negativa. Pois são esses mesmos pobres homens que construíram e alimentam esse sistema predador, onde se forja o seu doentio caráter, onde são eles os responsáveis por todas essas mazelas.

- Sou seu amigo e não pertenço a essa classe de homens maus, mas sei que em qualquer parte do planeta o homem comum, que somos nós, está inexoravelmente vinculado ao sistema financeiro que rege as diferentes classes sociais...

- Mas quem tem o comando? Quem tem o poder do capital? Quem domina o mundo e escraviza, hoje, de diferentes e sutis maneiras, os diversos setores da sociedade?

- Para cada classe social um tipo de tratamento político financeiro. Viva a democracia!Temos a eleição e podemos livremente mudar o governo, mudar as coisas, através do voto.

- Triste ilusão! O estado democrático, que se imagina o povo escolhendo os seus representantes, é hoje a terra fofa onde se semeia a maior das farsas capitalista: a selvageria econômica do predador com a pele de cordeiro. Veja que todos os partidos, todos os políticos, têm a sua ética (pseudo-ética) estruturada filosoficamente no pensamento e na prática financeira do neoliberalismo democrático.

- Eu sei que você optou por não votar em mais ninguém! Mas em quem o povo vai votar?É preciso mudar! Buscar novas opções! Avançar! O que você tem contra a democracia social brasileira? Se não escolher o melhor entrega-se o poder ao pior.

- Eu ouvi, certa vez, de um coronel fazendeiro do interior das Minas, a seguinte revelação: O melhor regime é o democrático. Não existe nada melhor. No regime democrático toda a eleição pode ser comprada. Algumas vezes com o dinheiro compra-se a maioria das pessoas, domina-se um Estado, outras vezes, com mais um pouco dinheiro se domina o país, mas, com muito mais dinheiro, domina-se todo o mundo. Cada homem tem o seu preço, é só saber comprar.

- Meu caro, você me conhece há muito tempo. Eu nunca comprei e nunca fui comprado! Assim você esta me ofendendo...

- Amigo, a política transformou-se em um mercado de interesses, de compra e de venda, de vantagens e desvantagens, de verdades muitas vezes ocultas, onde quem sempre comanda é o capital. Não há mais liberdade de escolha. Estamos perdendo o livre-arbítrio. No mundo capitalista do planeta terra comprou-se a liberdade com os juros das 30 moedas malditas. Estão robotizando-nos!

- Pelo menos agora temos a liberdade de dizer o que pensamos!

- Liberdade como? Ô cara-pálida conformista! Disse Sartre a um estudante nas manifestações de 1968 em Paris: que a liberdade é a “potencialidade (nem sempre concretizada) de escolha autônoma, independente de quaisquer condições e limites, por meio da qual o ser humano realiza a plena autodeterminação, constituindo a si mesmo e ao mundo que o cerca”. Perdemos a liberdade em todos os momentos vividos, em todas as batalhas perdidas, essa é a história moderna e contemporânea do homem. As únicas exceções foram talvez os primeiros anos da revolução soviética, observava o poeta Maiakovski: “A mim nem um vintém sequer os versos jamais me deram...” depois veio à ditadura do proletariado, a cortina de ferro, o medo do novo, onde destruíram todas as manifestações da vanguarda artística russa. Os que sobraram tiveram que cooptar com Stalin. A epígrafe: “A arte para a revolução e a revolução para a libertação total das artes”, passou da morte de Lenine, mas morreu com o assassinato de Trotsky.

- Pobre homem!

- Pobre é o pensamento (de direita) conservador de certa esquerda social democrática, nascida na Europa e nos USA. Essa doutrina foi desenvolvida e aperfeiçoada a partir da década de 1970. Ela defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só podendo o estado intervir no que for imprescindível e ainda assim num grau mínimo. Depois da queda do regime comunista da União Soviética, o neoliberalismo era a salvação do capital e a sua prática foi logo espalhada pelo mundo afora. Apresentada e apregoada pelos seus ideólogos aos representantes dos grandes interesses financeiros internacionais, foi de cara aceita por políticos de partidos tidos como da esquerda, tornando-se, imediatamente, a bandeira inescrupulosa de seus militantes almofadinhas, liderados por senhores com ares de nobreza. Uma doutrina adorada por homens acima do bem e do mal, que se julgam inteligente e de bom gosto, por intelectuais e professores, pela alta burguesia e pela elite nacional, que dizem que a economia de mercado é como uma religião, uma igreja, onde com a fé e com o dinheiro teremos as soluções de todos os nossos problemas.

- Mas isso tudo é verdade! Nós temos do nosso lado as melhores pessoas desse país, os mais preparados, e queremos sim, através da expansão do mercado consumidor, criar mais empregos e tentar melhorar a situação dos menos favorecidos! Para isso precisamos de dinheiro, de muito dinheiro. Você já pensou nisso?

- Contraditoriamente, esses senhores da moeda, esses sacerdotes da esperança, não sabem solucionar uma simples crise de mercado a não ser comprometendo toda a sociedade, todos os inocentes homens úteis de todas as classes, com ela. Assim os escravos da classe dos trabalhadores passam a ter de trabalhar dobrado, para não perderem o seu emprego e manterem os privilégios dos mais favorecidos. É uma história sem fim.

- Assim falando você me deixa assustado. Pois você afirma que eles têm o domínio de tudo... Mas posso lhe dizer que ninguém me domina, tenho noção exata dos meus limites. Não vejo diferença substancial entre a direita e a esquerda se o fim social é o mesmo. Quem pode não querer o bem do próximo? Só o diabo! Somos todos filhos de Deus.

- A ação nefasta do pensamento de direita, violento e selvagem, se apresenta sempre mais inteligente, articulado e munindo-se de todos os meios para agradar aos incautos eleitores. Eles, com as armas devastadoras de propaganda, fazem de tudo para serem mais atrativos ao não tão inocente eleitor. Ao partido é oferecida, pelos grandes interesses internacionais, vultosa munição financeira para dominar o grande embate democrático de uma eleição presidencial.

- E acabamos ganhando a eleição! É o que sempre acontece comigo... Sempre ganho as eleições com expressiva votação, sem comprar um voto! O mundo tem melhorado bastante, as pessoas estão mais educadas, estão mais bem informadas, nossos filhos podem ir para as universidades, podemos esperar um futuro melhor... Tenho contribuído e pretendo contribuir muito mais com ele.

- No mundo neoliberal o futuro é previsível, a educação, quando existe, está compartimentada, estanque, engessada, não se renova. A maioria das universidades está presa a um academicismo pseudocientífico de professores que não se interessam pelo que pode ser novo, são burocratas do saber, não são livres, não conhecem a liberdade, a maioria ali sabe do valor pago pelo seu trabalho e por sua aposentadoria. Os seus alunos só querem o diploma para se estabelecer no sistema, no mercado de trabalho e acreditar que terão futuro uma vida feliz e venturosa. Só que esse futuro nunca chega...

- Hoje as indústrias, os sindicatos, ONGs, os partidos políticos, tem uma preocupação constante nos serviços tecnológicos, na segurança militar e civil, na alimentação, no transporte, na saúde e na educação, enfim, na melhoria do povo e de tudo que permite para ele uma vida feliz...

- Uma vida medíocre! Cheia de desejos doentios em uma sociedade viciada e corrompida pelo dinheiro. Como ser feliz quando se vê, pela mídia, em suas cidades, ao seu lado, tanta fome e tristeza? Como viver, eleger, participar, votar, ser amigo, ser puro e honesto, acreditar e crescer neste mundo caótico e desequilibrado?

- Então é como eu disse de você, muitas vezes, aos nossos amigos: Não tem solução, o mundo para ele que vive de sonhos utópicos, sonhos que aos poucos ele os vai transformando em grandes pesadelos, é um enigma que ele ainda não decifrou... O problema não está no mundo, está em você! Já pensou nisso? Quando éramos adolescentes tínhamos nossos sonhos parecidos, sempre fomos amigos, embora na vida seguíssemos caminhos diferentes, você na arte e eu na política. A sua arte te levou mundo afora, conseguiu conquistar todos os melhores prêmios que os homens e o sistema lhe ofereceram. Eu segui o meu caminho, muito mais difícil que o seu, e hoje quando posso dar um salto consistente na transformação do meu sonho em uma nova realidade, quando preciso mais de você, da sua arte, você vai me abandonar? O tempo passou e o que parecia a consolidação das idéias nas quais perdemos horas de sono, tornou-se um caldo grosso de desentendimento e chateação. O que aconteceu com você, meu amigo, não é tomando essas posições radicais, inexeqüíveis, utópicas e obsessivas, que vais mudar o mundo. Onde está a lógica que você sempre professou?

- Hoje é o que se apresenta. Não quero mudar mais nada. Ando assim, descrente de tudo e de todos. Não consigo conviver nem com os artistas com os quais sempre me identifiquei. Muito menos com meus velhos amigos. Depois de um tempo de polêmicas sem fim, descobri que eles não sabem de nada do que se chama arte e nem do que é liberdade criativa, liberdade infinita, pois vivem arraigados aos desejos mais inconfessos de consumo, de acúmulo do capital e de vida culpada por conta de uma burguesia desvairada. Não é uma questão lógica, mas só um desastre natural e definitivo pode mudar o caráter e o desejo do homem neste novo milênio.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

http://www.gilbertodeabreubr.blogspot.com/

Essa foto tirada por aninha sette no rio de janeiro, no dia 12 de setembro de 2001, mas tudo começou um dia antes quando eu e o kimura chegamos ao rio para o lançamento, na academia brasileira de letras, do vídeo eu e os anjos de autoria de josé sette. vídeo que além de documentar a peça homônima traz entrevistas e depoimentos de vários intelectuais, escritores e poetas brasileiros. eu e os anjos é uma montagem de poemas do augusto dos anjos interpretados por kimura, os cenários de minha autoria e sob a direção do josé sette. da casa do músico claudio nucci, que encontráramos no ônibus que viajamos, ligamos pro zé para combinarmos sobre a sessão e lançamento do vídeo, quando ele nos disse que estavam explodindo prédios em nova yorque. pensei que o cineasta josé sette estava como o cineasta orson welles quando anunciou pelo rádio uma suposta invasão de ets. mas não, era verdade vimos in loco pela tv o momento da 2ª torre. fizemos o lançamento, convivemos com alguns imortais, dormimos na casa dos sette, e pela manhã, antes do almoço familiar, a aninha clicou para sempre esta foto para nós.

sábado, 24 de abril de 2010

Notícias

PSICOLOGIA DE MASSA, DO POVO E DA FÉ Leitores amigos, quando Brizola disse que se em vez de fazer os 500 Cieps (Escolas de tempo integral) para educar e dar cidadania as crianças do Rio de Janeiro, ele tivesse construído 500 igrejas, ele não teria perdido a eleição para o bispo da universal. O Darcy Ribeiro disse que durante a vida perdeu quase todas as lutas a favor de um país melhor, mas apesar disso ele não gostaria nunca de ter combatido ao lado dos seus vencedores. O que vimos ontem pela televisão, no encontro promovido pela Universal no centro do Rio, é a explosão de toda uma massa despreparada, desesperada, desinformada, deseducada e massificada com o que de pior se tem na mídia imposta por todos os canais abertos e fechados da televisão brasileira. Essa massa de gente possuída e poluída por desejos inconfessáveis são abastecidos, nos seus sonhos consumistas e de ascensão social, pelas novelas com suas histórias construídas na vida da alta sociedade de países ricos, inexistentes ao sul dos trópicos; valorizados pela propaganda consumista das grandes empresas estrangeiras que dominam os intervalos comerciais; pelos enlatados made in USA; pelos programas de auditório alienantes; pela proliferação de canais religiosos e mistificadores e até pelo novo cinema brasileiro – quem não quer ser um Chico Xavier, um pobre que deu certo através da fé e de Deus? Onde está embasado tanto sucesso? Na falsa felicidade de ser um assalariado ou na miscigenação de todos os credos? Do desprezo surge a esperança. Lula, o filho do Brasil, de formação católica, abandonou o culto quando frei Beto deixou o seu governo. A multidão de fieis que fecharam o aterro do flamengo no Rio assustou os meios informativos da poderosa e católica emissora de tevê. O povão que causou um grande congestionamento em todo centro da cidade, foi até ali na esperança do milagre, tantas vezes propagados pelos canais de tevê da igreja salvadora, onde cada graça é concedida dependendo das vultosas doações dadas por milhões de fieis que abastecem o cofre desta hoje poderosa organização nacional e internacional. Agora então com a pedofilia dos padres católicos, melhorou, em muito, o montante arrecadado por essas outras igrejas. É incrível! É preciso de muita força e saber para se manter correto e ideológico nesta babel de ignorantes desejos. Não precisa ser fanático religioso para saber que Cristo expulsou os mercenários do templo e fez de toda a natureza que o envolvia a sua igreja, o seu púlpito. Mostrava-se a todos, do alto da montanha, dizendo aos seus seguidores: que Deus, seu pai, estava nele e em cada um, e que Ele não precisava de templos suntuosos para dizer ao mundo todas as suas verdades. Todo mundo sabe disso! Ninguém consegue enganar a todos por muito tempo. Michel Foucault (Geanologia do Poder) afirmou quando visitou o Brasil que nós aqui, com tantos terreiros de macumba, candomblé, umbanda, não precisávamos da psicanálise. O esperto bispo criou uma igreja “universal” onde o sincretismo religioso toma de assalto, de todos os outros cultos, aquilo que é mais popular, que é mais oculto, que provoca mais mistérios e que oferece mais benefício ao praticante. Sempre tem alguém que resolveu definitivamente a sua vida depois de freqüentar os cultos. Satanás foi expulso do corpo de um visinho e ele ganhou na mega-sena. Maria parou de trair João, quando recebeu a benção… É tudo verdade! Quer assunto mais interessante? O homem comum não encontra isso em outra religião e anda desprezando e debochando de qualquer outra explicação dos católicos. No Brasil não se acredita e muito menos se tem paixão por nenhum partido político. Nem os velhos comunistas mantiveram suas legendas. A única coisa que supera isso tudo na alma do nosso povo é o futebol, como paixão e movimento de massa. O grande Wilhelm Reich, dissertando sobre a problemática da psicologia de massa diz, mais ou menos, o seguinte: quando os trabalhadores, devido aos baixos salários, entram em greve, essa ação deriva de sua situação econômica. O mesmo acontece quando um esfomeado rouba. Para explicar o roubo pela fome ou a greve pela exploração na provocação do poder econômico estabelecida por tão cruel sistema, é necessário, para psicologia de massa, explicar o inverso dialético deste caso: o que é necessário explicar não é que o faminto roube ou que o explorado entre em greve, mas por que razão a maioria dos famintos não rouba e a maioria dos explorados não entra em greve? Quem foi que disse que a religião é o ópio do povo?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Poesia

Efemérides Caboclas

No longínquo 1500
onde ode aves raras clamam sobre o manto negro da paixão.
A noite infindável. A seara. O Saara.
O descobrimento. A primeira invasão.
A primeira explosão.

O paraíso é invadido barbaramente
pelos portugueses, tal qual os espanhóis,
queimando, mutilando, destruindo,
dividindo as mulheres ao meio
com o facão afiado no corte vaginal.

Varando a terra sagrada
cobrindo-a de sangue
os anjos tocam suas trombetas
entre os índios
batendo borduna contra a cruz.

Anchieta e Vieira
A língua mãe nheengatu se encontrava com o latim
e suas poderosas vozes.

Invadimos a mata dos gigantes adormecidos
Imenso é o silêncio quando falam.

O Manifesto de Jurema
Pai velho e moça nova
Sincretismo de padre.

Todos se envolvem no elixir do pajé
Uma bela e jovem índia de corpo moreno
pintado de urucu passa e encanta o aventureiro
civilizado vestido da cabeça aos pés.

Na casa do caboclo bebendo água de coco
Pedro caminha e depois levita.

No ar uma fé terçã
O brasileiro das matas
Yapacam
A nação dos ventos
Tapiirapé.

Na noite brilham as estrelas
Os pássaros nas árvores
O silêncio

O breve e poderoso silêncio dos ventos
espanta na gávea o mágico observador
em pânico.

No alto barco do descobrimento
A terra é vista da linda ilha de Santa Cruz
0 duro pau brasil e o velho Cabral.
Perdidos na praia

No paraíso do continente dos trópicos.
Nas roupas coloridas do seu colonizador

Nos ricos índios nus com suas vergonhas
expostas tal qual malandro mirando o céu azul
cavalgando com as miçanga e seus brilhos
fazem a troca dos ladrões conquistadores

Em Itacuruçá a pemba vale à pena
Os riscos cabalísticos do caboclo na areia.
O Pegi e as coisas secretas
trazidas pelos negros enterradas
no quintal à sombra do cajazeiro

Do alto de uma paineira todo terreiro
perde-se na mata onde se encontra.

Os tambores batidos com os cachimbos tortos
Na Rua São Pantaleão dos encantados no Maranhão.
Mata, Ramos, Lund, Stradelli, Niemandaju, Nunes.

Estrangeiro amigo, macuco ferido,
perdido morto no igarapé do pós guerra
Flechado pela antropofagia branca
Pelo desentendimento cultural do
Bispo Sardinha até a segunda grande guerra.

As sete cidades irão inflamar a pré-história universal.
Já não bastassem as escritas do alto amazonas
todas cuneiformes contando e cantando a mitologia
grega nas viagens de Ulisses determinadas por uma
língua que ainda permanece em silêncio magistral
escondida no remo mágico dos Maués
interiorizada no noquén das mulheres guerreiras.


O Eldorado amazônico é o Brasil
Na mão da história o destino dos deuses
Na chapada do Espinhaço o diamantino
O mais fino dos homens.

Guimarães, Minas não há mais
No mar, só o ar do deserto
Chagas das montanhas
Na luz e na sombra da noite.

Fostes ontem Lua hoje é Marte no céu.
Na terra a morte do tijuco é contada

O sertanejo é um forte, fonte do saber
enterrado nos tesouros dos Rosas.

Nas grimpas do norte e do nordeste
Há inscrições desconhecidas em misteriosas cavernas

Nas cidades do ouro perdida nas matas
Mataram e sumiram com muitos aventureiros.

Há uma alma forte em negras aflitas
No forte Mina imprime-se e exporta-se
A fera África - A cultura moura
A terra arábica da guerreira imutável.

Do Ceará ao Saara
A divisão atlântica dos sonhos
O chorinho é o bálsamo dos trópicos.

Nas praias infernais e mediterrâneas
Parreiras antigas dos cânticos cobrem
O colosso de Rodes em ruínas

Onde estão os poetas de outrora?
Lusíadas e o céu de Alá
Quando se achará?


Os quinhentos anos já chegaram e você
escravo permanece cego

Entre tamanha terra de infindáveis riquezas
e inúmeros prazeres
O tabu dos jesuítas encantados
com as infindáveis festas de valor religioso e duvidoso
nunca imaginadas pelos europeus deslumbrados
com tamanha fé se vê bem e o mal
o seu ver é sofrer o nosso é gozar
carnaval-salada oculta de todas as poesias

Pessoa é Portugal que Sá Carneiro
em mil e quinhentas lutas.
desfraldou Cabrália na Cruz desfeita
Fez o cardeal a inquisição
Belém, Belém, batem os sinos
Os autos contra o guerreiro
tocam badaladas de horror
nos sinos da matriz.

As duras penas o sonho branco da riqueza fácil
É a cachaça dos engenhos, dos negros,
dos pesadelos indígenas.

No fim das mangueiras e das madrugadas frias
Só resta o terreiro de macumba
Os ratos no deserto
A praça da Paz da zona sul

O mangueiral colorido de verde e rosa
o vermelho estendido e entendido no varal da história

Deixa-me perplexo pensar agora se há glória na glória
de ser colonizador.

Chama-se Brasil o mênade menestrel das desgraças
geométricas de um povo latino americano sem nenhuma história.

Para cada começo sempre existirá um fim.
Nenhuma sombra há de apagar a luz de uma vela.
Poucos papagaios e muitas piranhas nas matas e rios.

Eu tenho vinte anos e não exerci ainda a minha cidadania
Sobra de tudo aqui, pois aqui tudo se dá
Os portugueses nos ensinaram

Goiabada industrial é banana com chuchu
A cachaça e a tiquira
Só é saborosa com caju

O guaraná na mata dos Maués
pinga de mandioca brava com biju

Feijão com angu, sururu, umbu com leite
talha, coalha, espalha energia de um povo
Para o mundo
Para o deleite ufanista do conquistador.

Terra a vista! É o Brasil! Ora pois...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

CONTO (final)


Estava a caminho do meu encontro com Demóstenes quando sou surpreendido por um assalto a uma joalharia do balneário. Em seguida aconteceu o tiroteio entre o proprietário da loja e os dois bandidos. O proprietário leva um tiro fatal. A munição dos bandidos acaba. Os dois correm. A população enfurecida cerca e ataca os dois bandidos promovendo um linchamento. Cheguei à casa de Gabriel e toquei a campanhinha. Gabriel é que veio atender a porta. Eu disse para ele: - Sou o Dr. Zomadoni e vim ver o professor Demóstenes.
Gabriel:
- Pois não doutor. Sou Gabriel, filho do professor, vamos entrar.
Dei ordem para os dois marinheiros ficarem me esperando e entrei.
Marcos:
- Quem é o senhor?
Zomadoni:
- Sou médico e amigo do seu pai.
Marcos:
- Ele se deitou e não deu mais sinal de vida.
Gabriel:
- Não é nada disso doutor, ele só esta dormindo.
Zomadoni:
- Vamos vê-lo!
Entrei no quarto onde Demóstenes estava deitado. Tirei a sua pressão e tentei reanimá-lo. Quando fui tirar o seu capacete, Gabriel interveio:
- Meu pai pediu para que não mexesse no seu capacete!
Zomadoni:
- Preciso examinar a sua cabeça...
Marcos:
- Pode tirar doutor esse ridículo capacete...
Gabriel:
- Ninguém toca no capacete do meu pai...
Marcos:
- Gabriel, não seja ridículo!
Zomadoni:
- Sou médico e preciso examinar a cabeça do seu pai. Retiro o capacete, examino rapidamente e coloco o capacete novamente nele... Tudo certo?
Marcos:
- Por mim tudo bem.
Gabriel:
- Faça tudo o mais rápido possível e depois coloque o capacete no lugar.
Peguei com delicadeza o capacete da cabeça de Demóstenes e retirei do seu fundo, sem eles notarem, a moeda dourada ali guardada. Coloquei novamente o capacete no professor. Peguei no seu pulso e verifiquei que sua vida estava no fim.
Zomadoni:
- O seu pai está muito mal e eu aconselho aos dois levarem ele para um hospital. Se vocês quiserem eu providencio a ambulância.
Marcos:
- Não é preciso, o único hospital da cidade é de um grande amigo, vou telefonar para ele...
Zomadoni:
- Então estou indo...
Gabriel fica sentado na cama ao lado do pai. Só, quando a porta da entrada é fechada, é que ele nota que o médico havia ido embora.
Gabriel:
- Marcos! Cadê o Doutor com a sua boquinha de anjo?
Marcos:
- Boquinha de Anjo... Você acertou em cheio, o cara tinha um ar andrógino e uma roupa bastante bizarra...
Gabriel:
- Parecia um ser de outro planeta...
Gabriel coloca o seu ouvido na boca do pai e fica um tempo ali tentando ouvir alguma coisa. Com a mão na cabeça ele grita para Marcos:
- Você já chamou o médico? Da sua boca não sai nenhum ruído e o seu corpo esta gelado. Acho que o nosso pai morreu.
Marcos apressado aproxima-se da cama, pega no pulso de Demóstenes e sente que ele está vivo. A ambulância chega com as sirenes ligadas. Os enfermeiros entram apressados carregando a maca. Atrás vem o médico, o amigo de Marcos.
Vejo tudo de longe.Tenho pena de Demóstenes. Ele era uma rara figura humana. Pelo seu achado na África vai ganhar uma fortuna... Só não sei onde ele vai poder gastá-lo.
Demóstenes, mais jovem, está nu na sala onde tem um piano. Ele senta-se e toca uma música de Chopin. Mariana, também nua, chega perto dele e acaricia o seu pescoço, seu rosto, seu ombro, suas costas, suas pernas, e depois, agachada, engatinha para debaixo das pernas de Demóstenes e acaricia o seu desejo.
Julio acorda de sobressalto e quando vê ao seu lado Mariana, sorri, abraça Mariana que também acorda assustada com Julio lhe agarrando pela cintura.
Mariana:
- O que você quer Julio? Diga-me rápido: se o farol piscar três vezes, o que é que você vai fazer?
- Eu vou amar você!
Julio e Mariana fazem amor.
Julio diz alto e depois sussurra no ouvido dela, sem parar:
- Mariana o amor pode tudo, pode tudo, pode tudo... Eu te amo! Amo-te e te quero muito!
Mariana, não se entusiasma e nem sente prazer completo naquela relação. Ainda tem muitas dúvidas a respeito desse amor.
No hospital os filhos recebem a notícia da morte do pai.
Eu naveguei com o meu barco até a praia deserta onde havia marcado o encontro final com Demóstenes para recuperar a última moeda. Toda a negociação feita com antecedência pelo professor renderia uma mala de dinheiro que seria entregue para Mariana quando eu recuperasse a última moeda.
Mariana:
- Olhe! Silêncio! Eles estão chegando.
Mariana e Julio saem do carro e caminham até as luzes que se encontram a beira mar. Estou com os meus dois marinheiros. Eu passo para Mariana a mala com o dinheiro combinado. Julio me entrega o capacete. Mariana abre a mala e confere o dinheiro.
Os dois caminham pela praia em direção do carro. Eu os observo e grito bem alto: - Demóstenes! ... Julio e Mariana continuam caminhando sem olhar para trás. Os dois entram no carro. À noite esta muito escura. De repente, ali sentados, os dois olham para frente e ficam ofuscados com a forte luz que brilha como sol no pára-brisa do carro. Julio aciona a ignição e o carro não pega. A luz desaparece no mar. O sol nasce no horizonte. O carro pega no arranque e eles saem da praia em disparada entrando na estrada em direção contraria do nascer do sol.
Quando volta do enterro do Pai, Gabriel recebe em casa um cartão da sua mãe Mariana, remetido da cidade de Buenos Aires, com os seguintes dizeres: Gabriel, nós estamos vivos, voltamos em breve.

Epílogo

Escrevi este conto, dia a dia, parte a parte, sem revisão, nem correções, vejo agora que elas são necessárias. Assim vou fazer as revisões e publicarei, em seguida, ele na página do blog que eu chamo de Folhetim.

FIM

quarta-feira, 21 de abril de 2010

CONTO

Demóstenes orienta seus filhos sobre o que eles deveriam fazer caso tivesse um novo ataque.
- Não mexam comigo! Não tirem de maneira nenhuma o meu capacete, ele é a minha proteção...
Marcos, assustado:
- Mas papai! Um capacete nazista? O que ele pode fazer bem ao senhor?
Demóstenes:
- Não toquem nele! Gabriel sabe que quando eu o coloquei na cabeça, a minha memória, o meu estado físico, melhorou muito. Se eu desmaiar, só me coloquem na cama e não coloquem a mão em nada. Chame um médico, mas deixe o capacete na minha cabeça. Ele vai chegar e medir a minha pressão. Ela praticamente não vai existir, estarei morrendo? Não! Ai ele vai tirar o meu capacete e levar com ele, não deixe isso acontecer...
Marcos:
- Você estará morrendo...
Gabriel:
- Vamos deixar essa morbidez para outros momentos. Papai, o senhor esta em plena recuperação... Nada de mal vai lhe acontecer.
Marcos:
- Eu também acho...
Demóstenes:
Assim estará tudo bem. Agora estou um pouco cansado e vou me recostar ali na cama. Vou tentar dormir um pouco...
Gabriel:
- É isso ai. Descansa enquanto eu vou preparar uma comidinha leve para te dar força e ajudar na sua recuperação.
Demóstenes:
- Obrigado meus filhos, Fiquem tranqüilo que nada vai acontecer comigo enquanto eu tiver esse capacete na minha cabeça.
Demóstenes deita na cama e fecha os seus olhos.
Mariana e Júlio estão no quarto do hotel. Julio que havia aberto o embrulho e descoberto o capacete, esta com ele na cabeça. Mariana sorri quando o vê assim e ele faz a mesma brincadeira que Demóstenes fez para ela quando comprou os dois capacetes.
Mariana:
- Julio, o que você faria se eu piscasse o farol três vezes?
Julio, com a voz diferente:
- Nós temos que ir atrás daqueles colaboracionistas que irão receber um carregamento de armas?
Mariana:
- Você às vezes me parece uma criança para quem temos de repetir milhares de vezes o mesmo pensamento para que ela possa entender alguma coisa verdadeira.
Julio:
- Desculpe-me... Uma verdade dita mil vezes torna-se uma mentira...
Mariana:
- Pisque o farol três vezes novamente.
Julio:
- No mar pode-se ver uma luz piscando três vezes. São as armas chegando, precisamos detê-los! Olhe! Estão piscando as luzes, você pode ver?
Mariana:
- Claro! Mantivemos o contato. Agora é esperar.
Julio:
- Enquanto isso nós fazemos o quê?
Mariana:
- Fale-me um pouco sobre você, sobre a sua família, seus amigos...
Julio:
- Não sei mais quem eu sou... Sou uma pessoa que aceitei um trabalho e me apaixonei pela contratante.
Mariana:
- Estes são os desejos mais comuns a todos os homens que se dizem civilizados...
Julio:
- E por acaso sou um bárbaro?
Mariana:
- O que você está sentindo agora?
Julio:
- Um torpor agradável. É como se fosse um sonho...
Julio deita-se na cama e fecha os seus olhos. Mariana bastante assustada observa com atenção os acontecimentos. Depois se deita ao lado de Julio.