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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

UM NOVO FILME

QUEBRANTO

O Primeiro Passo

Durante muitos anos eu possuía na minha pequena biblioteca três livros escritos por James Joyce. Confesso que sempre que começava a ler desistia de continuar. Não conseguia acompanhar a sua intricada narrativa. Assim Ulisses, Dublinense, Retrato do Artista Quando Jovem e também um Estudo sobre o romance moderno com textos de Ezra Pound, Umberto Eco, Ítalo Svevo, Richard Ellmann, onde encontrei o seu Giacomo Joyce, ficaram adormecidos nas estantes.

No ano passado, numa noite de insônia, devorei “As Irmãs” o primeiro dos contos de Dublinense e fiquei extasiado com o que eu acabara de conhecer. Depois foram vindos de roldão os outros 14 contos restantes.

Apaixonado, pela tardia descoberta, debrucei-me na vida e na obra do renomado escritor, primeiro com os ensaios dos autores acima citados e depois com algumas pesquisas feitas pela internet, podendo assim experimentar o prazer de degustar o texto, a poesia inocente, do “Retrato do Artista Quando Jovem” e finalmente o colosso de “Ulisses”, o que mais demorei a ler, o mais difícil de ser decifrado.

Como a minha letra, o meu texto, a minha poesia, é composta por imagens e sons, resolvi fazer um esboço do que eu havia visto e daquilo que mais havia sensibilizado os meus ouvidos em todos os textos do genial escritor. Frases soltas, deste ou daquele momento retiradas do romance ou dos contos, poemas, e todo erotismo fantástico deste anárquico e misterioso ser, foram enchendo páginas e mais páginas de papéis com a minha confusa caligrafia. No final dessa maratona enlouquecida eu já tinha esboçado o desenho do que viria a ser o primeiro tratamento do roteiro de um filme. Comecei de pronto a ordenar e a digitalizar a urdidura, a trama, que aos poucos, como peças de um quebra-cabeça, tomavam a forma da história que deveria ser contada.

Nos movimentos que intitulei de CONTUBÉRNIO, GNÔMON, SIMONIA, nasceu “Quebranto”. Um filme das alucinações de Giacomo nas suas duas horas de vida. Giacomo é James, Jean, que pode ser João, Joãozinho, os nomes que dei ao nosso enigmático personagem.

O roteiro começa com a apresentação dos três tempos de vida do João, o principal personagem desta história interpretado pelo talentoso ator mineiro Samir Haujis:

Mas tudo isso se torna agora cinema de longa-metragem graças ao jovem produtor carioca Cavi Borges, que acreditando e incentivando esse desafiador projeto dá inicio, logo após o carnaval, no  dia 14 de Fevereiro de 2016, em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, as filmagens deste meu novo filme.

Assim sendo, por um tempo, não atualizarei esse meu Blog, mas publicarei fotos e vídeos de todo esse trabalho em progresso. AGUARDEM!!!


James Joyce
era viciado em cultura popular.

Jonathan Goldman professor do New York Institute of Technology, autor de Modernism is the Literature of Celebrity.

Seus escritos estão, desde o começo, repletos de referências a entretenimentos populares de sua época, bem exemplificados com as histórias de “faroeste” que inflamam a mente do narrador do segundo conto de Dublinenses, “Um Encontro”, publicado em 1916, mas escrito mais de uma década antes. Quando publica Ulyssese Finnegans Wake, referências recorrentes a revistas, quadrinhos, canções populares, programas de rádio, filmes, televisão, ficção e fotografia erótica etc. já se tornam norma.

E a cultura popular retornou o favor. No decorrer do último século, Joyce e sua obra foram apropriados por toda a gama de gêneros populares. Seus textos serviram de fonte para adaptações (por mais frouxas que fossem) no cinema, no rock, na opereta e nos romances gráficos, para não mencionar as versões literárias e teatrais que nos são mais familiares. A quantidade e variedade dessas adaptações atestam o calibre da realização literária e a estatura alcançada pelo conjunto de textos de Joyce, uma obra que fascina a tal ponto que deve ser continuamente relida e revisitada. Além disso, inúmeros textos populares invocam o ícone Joyce, seja usando seu nome ou imagem (adornado por chapéu, óculos e bigode). Tais referências, frequentemente encontradas nos lugares mais inesperados, apontam para o alcance cultural de sua reputação e a durabilidade de sua celebridade, questões relacionadas, mas bem distintas de seu legado literário.

Para colocar de outra maneira: James Joyce não apenas é reverenciado como um dos autores mais importantes do século 20, mas também aparece n’Os Simpsons, em animação, é claro, ao menos duas vezes. Um episódio mostra um carro alegórico dos “Romancistas Irlandeses Bêbados de Springfield”, com destaque para um personagem com cara de Joyce situado na frente, acenando para o público. Quando uma briga começa na multidão, ele pula para o meio da confusão. Vale notar que, na vida real, Joyce não era lá um grande lutador: na Paris dos anos 1920, circulava a história de que ele havia provocado um conflito e depois se escondido atrás de seu companheiro mais corpulento, exortando: “Pega ele, Hemingway!”. A falta de fidelidade à biografia de Joyce, no entanto, não vem ao caso. O fato de que n’Os Simpsons a imagem de Joyce era reconhecível tanto sublinha a permanência cultural do ícone, quanto sinaliza para as qualidades como que de culto entre seus fãs.
Joyce morreu em 1941, e quase dez anos depois ele já era uma pedra de toque para a cultura popular. Pelo menos foi o que aconteceu no cinema, ao ser mencionado em duas produções auspiciosas. O Terceiro Homem, de Carol Reed (1949), contém uma cena na qual o protagonista Holly Martins, um autor de livros de faroeste (do tipo que atrairiam o protagonista de “Um Encontro”) é erroneamente tido por um escritor de alta literatura e obrigado a participar uma seção de perguntas e respostas com literatos de Viena. Um jovem austríaco coloca uma série de questões que culminam com: “Onde situaria o sr. James Joyce?”. Esse contraste entre a alta e a baixa cultura, sugerido pelo escritor de pulp fiction e o legendário modernista repete-se na referência ao autor em Sunset Boulevard (1951), dirigido por Billy Wilder. Lá, o protagonista, Joe Gillis, é um roteirista que, ao ser acusado de não escrever seriamente, pergunta se prefeririam James Joyce (ou Dostoiévski). Esses momentos cinematográficos aludem, na superfície, a um contraste entre Joyce como um avatar das esferas mais elevadas da cultura e formas de entretenimento popular nas quais ele é mencionado. Porém, a comparação não é tão simples assim.

A autoconsciência sarcástica de tais cenas sugere uma relação mais próxima entre as noções de elite e de popular, um colapso das categorias de alto e baixo.
A complexidade continua em uma das imagens mais reproduzidas no universo joyceano: a fotografia tirada por Eve Arnold, em 1956, de Marilyn Monroe lendo Ulysses. O impacto previsto aqui depende da percepção de Monroe como uma vedete com cabeça de vento e a do romance como uma obra impenetrável. É claro, o primeiro impulso é perguntar se Monroe realmente leu o livro, algo ao qual Arnold se adiantou ao dizer que capturou a atriz em um momento de sincero relaxamento. Acima de tudo, a fotografia, que vem decorando livros de crítica joyceana ano após ano, mostra a cultura de Hollywood participando do status cultural rarefeito de Joyce.

Traduzido por Fabio Akcelrud Durão.






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