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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

UM CONTO DE REIS

 

METÁFORAS TAMBÉM AMAM


Fábio Carvalho
                                                                                                      Marku Ribas

 Retrato do artista quando jovem cão. Durante a noite sonhos em profusão com narrativa, personagens desenvolvidos e continuação depois da interrupção, para o primeiro pipi do dia. Chove sobre David Bowie é o nome do sonho que sonhei pra mim, dizendo que era para a ametista que é a pedra reluzente naquele casarão, com um piano de calda aberta embaixo da escada em caracol. A vontade se esbaldou em flocos líquidos de nuvens, depois que a cigarra explodiu de cantar, como é sua missão atávica. Manhã úmida, linda manhã. Lúbrica como todas as manhãs podem ser quando estão na temperatura da vida amanhecendo. El dia em que no me queiras, ai tá russo! Não sei se foi isto mesmo que ouvi a morena de cabelos trançados cantando no fim da noite no Sofia. Foi o que entendí: tá russo compay, tá rossito! Digo, minha vida, lembrando a fala da província, bela e cintilante como não é a de ninguém. Caminho irregular de liberdade conquistada, podendo recusar quando quer, indirigível na sua direção, como pré-punk independente berra o tempo do phôda-se. Talvez seja ela a vida eu. Posso até imaginar você sambando com a saia na mão. Minha voz estava irresistível como a do Barry Whaite. Durante a noite anterior, tinha feito um tratamento nas minhas cordas vocais com Morrito e charutos autênticos Monte Cristo. Oxalá e Evoé. Dia dois de Fevereiro, dia da aurora da revolução, dia que é tudo que o homem quer. Meu amigo, claro está, vamos nos encontrar no seu andor, lâmpada de Aladin. Se consagrar enfim. Iracema na cena do cinema é um poema de se olhar. As crianças são levadas pelas mãos de gente grande. É preciso dar um jeito meu amigo, sei, nossa vida é nascer, florescer para depois morrer. O quadril de Tereza, que beleza. O mapa de luz. Infinitamente belo. Há tempo ainda, vamos viver a beleza, já que tudo é efêmero, a vida é efêmera, então que se se danem os regurjitos moralistas de auto ajuda. Viva a moral surrealista do amor louco. Vamos fazer uma omelete. Agite usando, com propriedade de manifestação expressiva, como o branco do papel exige a consciência desse momento completamente sem resolução, e por aí ela vai, a revolução da imaginação solta na brisa do mar que quebra no maior sofá do mundo chamado Malecon. En un lugar de La mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme. Uma distante paz foi alcançada, através das palavras, não por outra codificação, embora se disfarcem, são armas que atingem com sofisticação e ternura o que não será transformado. Vamos lá, a elas as palavras. Diante da cosmogonia instaurada, o cotovelo reinou modorrento já logo ao amanhecer. Gotitas de Angustura, axilas bonitas e perfumadas. Aplausos não comovem, ímpetos de rechaça-los devem ser reprimidos para manter a comodidade do entorno. Naquela noite vi o extraordinário pintor Marc Chagall falando para a câmera 16 milímetros em branco e preto: se falam bem dele, não acredita, se falam mal acredita e ponto. Outro lado difícil de ver as coisas na própria dificuldade realmente desejada. À noite o Bar do Caçapa estava cheio de Calopsitas coloridas e esvoaçantes, coisa nunca acontecida, nada natural, também o dia tinha sido de céu azul beligerante, com meia lua branca cortada na horizontal no meio do infinito da Rua Palmira. Os astrofísicos de plantão no Domingo, nunca tinham visto tal mudança de ciclo. Ela a Lua fotografou aquela convulsão na Somália.  A sequiosa volúpia de quem lê a música de maneira correta, erra o alvo do coração e das mentes dos seres que circulam por entre regras, ao mesmo tempo fora delas, na maioria das vezes sem o entendimento do conteúdo que mereciam para sua colocação nas prateleiras da convicção, o que foi bem dibulhadamente lhe apresentado. Segundo Dona Regina Lampedusa disse: algo deve mudar para que tudo continue como está. Triste frase. Podemos distorcer um pouco as coisas, já que falar também não adianta. O inacessível quase toca o invisível visto: como talvez o cruzamento do olhar profundo. A fraternidade é uma farsa e o amor não tem direitos sobre nós. Apaixonei-me perdidamente pela Havana. Ao principio ela acenava e atraia tudo para seu mundo, em seguida, obnubilava os corredores, confundia todas as imagens, como fosse iludir a detecção. O alvorecer esperando na porta silenciou-a. Estreitou em volta dos ombros sua capa, como se fosse uma ameaça final, o maior inimigo de todos. Sem curvas na estrada de Brasília lá na traseira do caminhão estava escrito: bruto, rústico e sistemático. Recordamos o incomparável. Só o Rouxinol faz barulho. A tergiversação chegou ao limite, graças ao meu amigo negão inglês Mister Bean Laden com sua arenga bem intencionada, mas inadivertidamente servidora da grande imprensa reacionária. As piores notícias chegam do Brasil, forças reacionárias afiam suas ganas, em sua complicada forma de se submeter. Não fomos ao Floredita porque seu avô estava lá. Fêfa, a garçonete, já nessa altura me chamava de mi amor, mi corázon.  Tranquila e agradável essa véspera do ano dezesseis.  Procure-me na parte funda da piscina junto dos meus amigos da turma da pesada. Banguelo em Cuba. Na conexão, distraído enquanto filmava a bela aeromoça panamenha, mordi uma castanha de caju com o dente errado. Lá se foi meu último pré-molar, que estava bambo há tempos, caiu sem sangue e sem dor alguma, com antigo anúncio simplesmente deu linha. Era chegada sua hora. Ai de mim, de nós dois. Bambo, mambo e chá chá chá. Por que fatigar tua débil alma com planos eternos? (Carmina, II, 11) A razão desse frequente engano é a inevitável ilusão de ótica do olho espiritual, em virtude da qual a vida, vista a partir do começo, parece sem fim, mas, quando revista ao fim da jornada, parece bem curta. Tal ilusão tem seu lado bom, pois sem ela dificilmente realizaríamos algo grandioso. Longe de mim as mesmices. Assim Shopenhauer descreve o principio romântico. Outras vezes, lá onde procurávamos prazer, felicidade, alegria, encontramos ensinamento, intelecção, conhecimento, ou seja, um bem permanente e verdadeiro, em vez de um transitório e aparente. Não experimento outro prazer a não ser o de aprender. (Trionfo d’ amore, I, 21) Na maioria das vezes funciona para acalmar os extintos básicos. Portanto, aqui está demonstrado uma noção do perigo, do risco da existência da resistência. Uma tomada de posição. Estou ilhado em Cuba na manhã do credenciamento, cubando o panorama, quando, nos jardins internos do Hotel Nacional, dou de cara com a Mariel Heminguay sorrindo uma luz rosada intensa para mim, algo surpreendente, não para a vida. Fomos a Marina Heminguay num carro conversível, antes de almoçar no La Bodeguita Del Médio, ouvindo a cantora que tocava Maracas. Nada mal caminhar pelas ruelas habitadas por todas as cores de notas musicais em nítida visibilidade depois da chuvinha fininha que molhou um pouco o calor do Caribe. Não consegui escrever Cuba Rebelde 1,2,3 e 4 como tinha prometido ao meu mais dileto professor editor. Ainda assim te amo. Hierba Buena.



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