ESTOU PUBLICANDO HOJE NO YOUTUBE O MEU PRIMEIRO FILME DE LONGA METRAGEM INTITULADO BANDALHEIRA INFERNAL
Um filme de longa metragem,
preto e branco, experimental, filmado em 1975, sem história, sem roteiro, sem
sinopse, guiado apenas, durante os sete dias de suas filmagens, pelo sentimento
da vida opressiva, paranoica e obsessiva dos perseguidos. Uma metáfora sobre o
conflito ideológico-político passado entre a ação e o pensamento repressivo da
direita predadora e cruel, contra uma esquerda neurótica, autofágica e confusa.
Um filme sobre a perseguição, a repressão e a desumanização do povo brasileiro.
Maré tá cheia!
Era quando o “doce” ainda era “ácido” e os conjurados se reuniam no
pier de Ipanema. A mordaça era dupla (e a que apertava mais, podem crer, era a
stalinista) e nossos ouvidos eram detonados a “telefonemas”. A saída dos caretas
era fazer tudo de uma vez e o mais rápido possível, afinal anunciavam e
garantiam que o mundo ia se acabar. Para nós, se acabasse, que importava? Outro
melhor, muito melhor, estávamos construindo, pelo menos em nós mesmos, em meio
àquela bandalheira infernal.
Foi ele (o que se acabava e de fato se acabou, e no qual hoje em seu
entulho vivemos) que o olho-de-peixe do inconfidente José Sette (José de Barros
em 78), um pouco à maneira do kino-glass de Dziga Vertov, um pouco ao
“Limite” de Peixoto e bastante à sua própria e confidencial maneira, no momento
exato da sua derrocada final, registrou em película 35 P&B.
Porém os náufragos de “Bandalheira Infernal” naufragam no asfalto, nos
apartamentos de classe média, no trânsito corrosivo das metrópoles, nos morros
e florestas da paisagem mágica do Rio de Janeiro, e vivem sempre perseguindo as
suas próprias sombras e por elas continuamente sendo perseguidos. Cada
quebrada, cada esquina, é a esquina do medo; o medo permanente e neurótico do
inesperado, do incerto, do inseguro, o medo, enfim, de si mesmos, de sôfregos
penitentes e derradeiros personagens de um mundo que rolou ladeira abaixo. -
Mamãe!...
O contraponto deste erro cósmico-kármico-pequeno-burguês, tão bem
fotografado neste filme, no ato exato de sua cômica tragédia, e que nos exibe o
retrato editado e falado daquilo que até hoje nos faz penar neste paraíso em plena América do
Sol, do Sal, do Sul, vem na linguagem libertária do seu discurso
cinematográfico, na postura irreverente da sua dramaturgia, na poesia hermética
da sua criação, e, principalmente, na revelação de uma nova direção de cinema e
de um estilo novo; um estilo de cinema-plástico, gráfico e contemporâneo até a
alma. Vejam-no agora na tela: “o antigo que foi novo é tão novo como o novo mais
novo”. Navegarbrasiliaterra.
Sim, leitor, estamos falando de Arte, sacou? Arte Maior! Biscoito fino,
diamante legítimo, coisa rara, muito rara mesmo, nessa atual maré cheia de
mediocridade. Algo para os (não poucos, mas raros) que sabem onde encontrar a
essência da beleza e senti-la em toda a sua intensidade. Por isso que malandro
(aquele que tem olhos livres e vê) tá sabendo que quando maré tá cheia é melhor
entrar na areia. Porque na areia tem mais peixe que no mar.
Mario Drumond
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