Curiosidades literárias: Drummond foi
expulso do colégio, por se desentender com o professor de Português
(Tribuna da Imprensa)
Antônio M. Rocha
Aos dezessete anos, Carlos
Drummond de Andrade foi
expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um
desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a
assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar
trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos. “Se não
fizer isso, saio matando gente pela rua”. Estraçalhou uma camisa nova em folha
do neto. “Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número
errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha.”
Numa das viagens a
Portugal, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando
Pessoa no café A
Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas
da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado
pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o “furo”: Fernando
Pessoa tinha lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não era um bom dia
para o encontro.
Érico Veríssimo era quase tão taciturno quanto o filho Luís Fernando, também escritor.
Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho respondeu
quatro horas depois, quando chegavam à estação final.
Clarice Lispector era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para os amigos e
dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para jantar e
ir embora antes de a comida ser servida.
Monteiro Lobato adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a
bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico . “Para ele, era
licor”, diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de consertar
tudo. “Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra.”
Manuel Bandeira sempre se
gabou de um encontro com Machado de Assis,
aos dez anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: “O senhor gosta de Camões?”
Bandeira recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na
velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar
os amigos. Foi escoteiro dos nove aos treze anos. Nadador do Minas Tênis Clube,
ganhou o título de campeão mineiro em 1939, no estilo costas.
Guimarães Rosa,
médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que não constavam no mapa.
Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes que viviam em longínquas
fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos. Sentia-se
culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão. “Não tinha
vocação. Quase desmaiava ao ver sangue”, conta Agnes, a filha mais nova.
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