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terça-feira, 27 de novembro de 2012

IN MUNDO



Tão logo aqui cheguei rompendo o céu de abril,       deparei-me com o inferno de cara larga sorrindo pra mim, a luz – sina – da – mente!                                                                                                           Não havia pássaros, não havia voo. Havia uma galinha manca ciscando seus frangalhos em meio ao chamuscado milharal.                                                        

O céu era turvo e o sol não havia; insuficiente quantidade amarela.                 

A palidez já me rondava a alma e vermelho já não era meu sangue; líquido – efeito do nada. Mas já ouvia enfadonhas gargalhadas! Já sentia o cheiro do horror fuzilando-me as narinas. 

Ali estavam todas as máscaras que o tempo as fez cair.Ali estava uma vida nascida para o não existir; o fato. 

A vida como um fato contado, é apenas uma história vivida por mortos, que da vida já não fazem parte.   

 José Vieira.

 


POR ONDE ANDA O GUARÁ?

Fábio Carvalho 
Para Paibará

“Destranquem os portões Dourados
do paraíso e sigam adiante...”
William Blake

Voltei a comer a comida da infância, seguindo as ordens do médico hindu do Guará. Existo logo penso. Estamos iguais pai de santo, só recebendo. Intransijo, tenho me preparado durante todo este tempo para só enviar. Volta a pensar então. Percebi que é melhor mudar de assunto, por hora. Não nasci ontem. Também já estou rouco, claro está não preciso falar tanto. Silêncio. Ela foi para muito longe. Estranhamente gosto bastante desta impossibilidade. É chato chegar a um objetivo num instante. Letra música e canção. Tenho plena consciência de que fomos embarcados na arca de Noé. Portanto estamos a salvo, pelo menos por enquanto. E isto não é pouco. Curar os olhos do Assum Preto, para ele assim cantar melhor. A sua imagem como o vento. Infelizmente tudo que tenho escrito é mentira. Na verdade tenho cortado um dobrado. Vocês que são jovens, hão de aprender. Deixa o verão para mais tarde. Sem dúvidas estamos na encruzilhada. Noutra noite sonhei com o Glauber no filme Vento do Leste do Godard. Como sabemos isto não significa nada, apenas um relato inútil e indevido. Mora na filosofia. É como esta noite passando, passando em busca da madrugada. Pena eu não saber como te contar que o amor foi tanto e no entanto, me esqueci como continua. Não pude resistir e agora ficou mais difícil ainda seguir com este riff de guitarra mequetrefe. Canta o meu coração. A alegria voltou. Foi tão bonito. Detesto as mulheres velhas. Sei que pega muito mal dizer isto, mas digo assim mesmo. Os velhos homens eu prefiro. Sei que estou ferrado, mas assim mesmo não posso fugir desta realidade verdadeira. Chora. Mas como é falso esse chorinho. Eu quero estar ao seu lado, no ritmo do seu coração. Uma semente não germina fora de seu momento exato. Quero ficar com você no Rio ou no Japão, no Japão não sei não. Tenho me surpreendido com as pessoas. É muito bom conversar com os outros de igual para igual. Nós humanos podemos ainda nos encontrar belos como homens. Resta uma esperança. Travessia. Já escutei isto antes. Sou viciado em mar. Um calor esquisito invade meu corpo na maresia. Abri a porta e antes de entrar revi a vida inteira. O dia lá fora já terminou vamos encarar mais uma noite. Como vamos, se estou sozinho. Para a geometria analítica a parábola surge através da intersecção transversal de um cone. Vamos ao que interessa: Joseph Losey. O gol o grande momento do futebol. O Vinícius escreveu no catálogo da exposição do filho Pedro, no momento meu fotógrafo: “amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas sobretudo não morrais amigos meus!” Percussão astral. O tempo é curto e não para de passar. Cheguei ao Bar do Salomão em noite de Chorinho. Quando consegui sair para fumar, pela saída esperta da Rua Amapá, diferente de sempre cheguei lá fora fácil e a rua estava deserta, nem os que lá moram, estavam lá. Tínhamos as duas sobrancelhas presentes como sempre e como era de se esperar, ninguém sabia escrevê-las. Só eu em segredo. Até que a Silvinha me deu um caloroso abraço de parabéns. Estou voltando a ser o que eu era. Na primeira mesa ali fora, avistei o Acir Antão junto com um senhor de cabelos brancos que eu sabia ser um violonista. Quando os cumprimentei, inadvertidamente chamei o senhor de sete cordas, exatamente no que ele me ensinou: já não bastam seis, meu filho? Uma noite por algum carinho. Dormir sem sonhar. O André Breton dizia que o homem que não sonha não é confiável. Para o Lobão. Horizonte e madrugada. O barco. Eu espero um acontecimento. Estou mulher. Contemplando este mundo tristonho e profundo. Acredito ainda que eu seja um profissional do cinema amador.

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