Tão logo aqui cheguei
rompendo o céu de abril, deparei-me com o inferno de
cara larga sorrindo pra mim, a luz – sina – da – mente!
Não
havia pássaros, não havia voo. Havia uma galinha manca ciscando seus frangalhos
em meio ao chamuscado milharal.
O céu era turvo e o sol não havia; insuficiente quantidade amarela.
A palidez já me rondava a alma e vermelho já não era meu sangue; líquido – efeito do nada. Mas já ouvia enfadonhas gargalhadas! Já sentia o cheiro do horror fuzilando-me as narinas.
Ali estavam todas as máscaras que o tempo as fez cair.Ali estava uma vida nascida para o não existir; o fato.
A vida como um fato contado, é apenas uma história vivida por mortos, que da vida já não fazem parte.
José Vieira.
O céu era turvo e o sol não havia; insuficiente quantidade amarela.
A palidez já me rondava a alma e vermelho já não era meu sangue; líquido – efeito do nada. Mas já ouvia enfadonhas gargalhadas! Já sentia o cheiro do horror fuzilando-me as narinas.
Ali estavam todas as máscaras que o tempo as fez cair.Ali estava uma vida nascida para o não existir; o fato.
A vida como um fato contado, é apenas uma história vivida por mortos, que da vida já não fazem parte.
José Vieira.
POR ONDE ANDA O GUARÁ?
Fábio
Carvalho
Para Paibará
“Destranquem
os portões Dourados
do
paraíso e sigam adiante...”
William Blake
Voltei a comer a comida da
infância, seguindo as ordens do médico hindu do Guará. Existo logo penso.
Estamos iguais pai de santo, só recebendo. Intransijo, tenho me preparado
durante todo este tempo para só enviar. Volta a pensar então. Percebi que é
melhor mudar de assunto, por hora. Não nasci ontem. Também já estou rouco,
claro está não preciso falar tanto. Silêncio. Ela foi para muito longe.
Estranhamente gosto bastante desta impossibilidade. É chato chegar a um objetivo
num instante. Letra música e canção. Tenho plena consciência de que fomos
embarcados na arca de Noé. Portanto estamos a salvo, pelo menos por enquanto. E
isto não é pouco. Curar os olhos do Assum Preto, para ele assim cantar melhor.
A sua imagem como o vento. Infelizmente tudo que tenho escrito é mentira. Na
verdade tenho cortado um dobrado. Vocês que são jovens, hão de aprender. Deixa
o verão para mais tarde. Sem dúvidas estamos na encruzilhada. Noutra noite
sonhei com o Glauber no filme Vento do Leste do Godard. Como sabemos isto não
significa nada, apenas um relato inútil e indevido. Mora na filosofia. É como
esta noite passando, passando em busca da madrugada. Pena eu não saber como te
contar que o amor foi tanto e no entanto, me esqueci como continua. Não pude
resistir e agora ficou mais difícil ainda seguir com este riff de guitarra
mequetrefe. Canta o meu coração. A alegria voltou. Foi tão bonito. Detesto as
mulheres velhas. Sei que pega muito mal dizer isto, mas digo assim mesmo. Os
velhos homens eu prefiro. Sei que estou ferrado, mas assim mesmo não posso
fugir desta realidade verdadeira. Chora. Mas como é falso esse chorinho. Eu
quero estar ao seu lado, no ritmo do seu coração. Uma semente não germina fora
de seu momento exato. Quero ficar com você no Rio ou no Japão, no Japão não sei
não. Tenho me surpreendido com as pessoas. É muito bom conversar com os outros
de igual para igual. Nós humanos podemos ainda nos encontrar belos como homens.
Resta uma esperança. Travessia. Já escutei isto antes. Sou viciado em mar. Um
calor esquisito invade meu corpo na maresia. Abri a porta e antes de entrar
revi a vida inteira. O dia lá fora já terminou vamos encarar mais uma noite.
Como vamos, se estou sozinho. Para a geometria analítica a parábola surge através
da intersecção transversal de um cone. Vamos ao que interessa: Joseph Losey. O
gol o grande momento do futebol. O Vinícius escreveu no catálogo da exposição
do filho Pedro, no momento meu fotógrafo: “amai e bebei uísque. Não digo que
bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram
mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.
Mas sobretudo não morrais amigos meus!” Percussão astral. O tempo é curto e não
para de passar. Cheguei ao Bar do Salomão em noite de Chorinho. Quando consegui
sair para fumar, pela saída esperta da Rua Amapá, diferente de sempre cheguei
lá fora fácil e a rua estava deserta, nem os que lá moram, estavam lá. Tínhamos
as duas sobrancelhas presentes como sempre e como era de se esperar, ninguém
sabia escrevê-las. Só eu em segredo. Até que a Silvinha me deu um caloroso
abraço de parabéns. Estou voltando a ser o que eu era. Na primeira mesa ali
fora, avistei o Acir Antão junto com um senhor de cabelos brancos que eu sabia
ser um violonista. Quando os cumprimentei, inadvertidamente chamei o senhor de
sete cordas, exatamente no que ele me ensinou: já não bastam seis, meu filho?
Uma noite por algum carinho. Dormir sem sonhar. O André Breton dizia que o
homem que não sonha não é confiável. Para o Lobão. Horizonte e madrugada. O
barco. Eu espero um acontecimento. Estou mulher. Contemplando este mundo
tristonho e profundo. Acredito ainda que eu seja um profissional do cinema
amador.
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