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quinta-feira, 24 de maio de 2012

HARUO OHARA & FÁBIO CARVALHO


A ILUSÃO VIAJA DE ÔNIBUS ELÉTRICO

Fábio Carvalho

Ninguém domina a arte da procrastinação como eu. Antecipando a chuva fina que trouxe o frio gelado, a MÔNICA de óculos escuros subia em frente ao posto PIAZA no final daquela manhã. Que fazer com o pequeno engarrafamento que ali na hora se engarrafava. Prometia a seqüência do dia. Esta rima fácil me lembrou sorria a flor. Como soam essas palavras. Por hora chega. Está bom assim como era. Começa uma nova era. Sem chance de dominar. Acontecimentos acontecem, vamos lá. Já tinha avisado, vamos demorar apenas mais um pouquinho. É pouca a demora, mas é boa. Só queremos a boa. O plural me persegue. Como uma música faz isto com você? Exatamente a pergunta. Beira do mar. Que falta faz. Agora sim chegamos lá. Na boa e ainda gostoso. No balanço dos anos 70, devo ter começado a existir neste período. Tenho que reconhecer a puberdade. Quando voltei da Côte d’Azur no verão de 2012, tentando organizar meu computador, encontrei um texto que o JOSÉ AMÉRICO RIBEIRO escreveu há alguns anos, sobre meu filme FIO CONDUTOR, realizado em Cataguases. Era um poema. Desde então, toda manhã na infalível agenda mental estava marcado: ligar para o ZÉ AMÉRICO. Falhou. Não consegui cumprir esta agenda até o final de abril devido a minha inescapável madorna que nunca me deixou escapar. A triste conclusão é que nunca mais ligarei para ele. Aí, sob o comando do ROSEMBERG, depois da pergunta do SÉRGIO VILAÇA no cemitério, escrevi o pequeno roteiro NOVA AURORA. Vou filmar. É a desculpa e a redenção pelo telefonema que não dei para mim mesmo. Ralentava-se o avanço do tempo nas montanhas. Ao mesmo tempo passava muito rápido. Natural. O efeito SCHUMANN. Novamente após um hiato sem revisitá-los, só os filmes do DOM LUÍS continham minha hiperatividade. Nada mais importava. Uma verdadeira crise entomológica. Vamos exercitar a língua. O mínimo para com a honestidade. Ela fez muito bem a mim. O músculo da imaginação. Cumprida mais esta temporada de explorações internas, finalmente o Galo jogou bem e foi campeão, o Fluminense também. Milagres acontecem. Dizia o velho SARRA. Vivemos em mais um sonho. Quando tocava eu tocava assim. Isto é apenas uma foto na tela full-screen. Só uma configuração. Sul bordo del mare. Não dá para reconhecer tudo na hora que se apresenta. Embora seja obrigação, já no adiantado da hora. Vamos em frente. Te procurei para ver comigo o sol se pôr no Leblon. Se dividir dá samba. Fui no planeta Vênus em outro sonho. Ai de mim. Saíram do armário na mesma semana dois filmes feitos já há bastante tempo. A ISABEL deu o corte final. Uma semana longamente expressiva na ligeira expansão daquele curto período. Transbordou. Tudo se deu na cabeça e na outra realidade ao redor. MINAS o misterioso filme feito há 15 anos, formado de rostos músicas futebol e amor, também surgiu hoje em mim, abrindo os cofres e as portas das catedrais. Muito estranho. É domingo, de novo se inicia mais um ciclo.
Tenho sido atacado por cada palavra extraordinária, invariavelmente deixada de lado, caída em desuso pelo descaso com a linguagem. O problema é que às vezes depois deste ataque fico horas pensando nela, a palavra exata, e quando tenho a oportunidade de escrever a esqueço. Mesmo com o sentido mantido, a frase perde muito sem aquela figura perfeita e esquecida. Temos que nos encontrar. Brilha a luz procurando o movimento da curva poesia que por ali passa ou vai passar. Bela e fugidia. Temos que manter a arapuca armada. Nem sempre é possível. Chega de desculpas. A ficção se revelou documentário. Um documentário Straubiano. Bela frase. Não é minha é claro. Um filme que respira liberdade. O ROSEMBERG inventou mais esta. Por você não há o que eu não faça. Você mesma.

Meu amigo Pedro Maciel, um escritor de sucesso, uma pessoa sensível e antenado com as novidades da boa arte, me mandou este filme que ainda não pude assistir, aqui no mato não tenho banda larga, mas acredito que pode ser alguma coisa de interessante em se tratando de Haruo Ohara, que, em verdade, não sei quem é... Talvez algum fotógrafo japonês extraordinário de delicada arte, digno representante de uma cultura milenar, esteio de um povo que meu amigo tanto admira e eu também e que viveu em terras brasileiras do Paraná por 90 anos...


Creio que vale a pena conhecer...

HARUO OHARA (2010) HD/35MM, 16 MIN (Procure no Youtube)

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