Aquarela de Osvaldo Medeiros para o filme Liberdade
A NOVA AURORA
Fábio Carvalho
1- Seqüência – Um grupo está reunido em uma pequena sala de um prédio comercial antigo. Nas paredes vários posters de cinema, e prateleiras repletas de livros. Eles falam sobre cinema e ou sobre um filme especifico ou ainda sobre um diretor. Este grupo é formado por vários homens de gerações distintas e apenas uma mulher mais jovem, de óculos, com um lap-top aberto a sua frente, todos falam menos a jovem que tudo anota e o senhor que em determinado momento olha as horas e discretamente se despede, dizendo que vai ver Aurora do Murnau pela trigésima vez.
2- Seqüência – Ele toma um ônibus, e senta ao lado da janela. Está anoitecendo e as luzes dos faróis em movimento no vidro se tranformam em imagens de filmes.
3- Seqüência – Ele anda pelas ruas do centro da cidade até entrar no cine Paladium.
4- Seqüência – Compra o ingresso, sobe a escada rolante, passeia por uma esposição que ali está, vai até o café, senta-se em uma mesa e toma um café.
5- Seqüência - Torna olhar as horas e se dirige a sala de projeção. Neste trajeto algumas pessoas o cumprimentam.
6- Seqüência - Entra e se senta em uma poltrona no meio de uma fila vazia. O cinema não está cheio, os poucos que entram o cumprimentam. As luzes se apagam e começa a projeção do filme. No transcorrer do filme, sem inclinar a cabeça, seus olhos vão fechando como que tomados por um sono irresistível. Antes dos olhos se fecharem definitivamente se ouve misturada ao som do filme uma voz dizendo: “Creio que o cinema exerce um certo poder hipnótico sobre os espectadores. Basta observar as pessoas que saem de uma sala de cinema, sempre em silêncio, a cabeça baixa e o ar distante. O público de teatro, de tourada e o público esportivo mostram muito mais energia e animação. A hipnose cinematográfica, leve e inconsciente deve-se, sem dúvida à obscuridade da sala, mas também às mudanças de planos, de luzes e aos movimentos da câmera, que enfraquecem a inteligência crítica do espectador e exercem sobre ele uma espécie de fascinação e de violação.”
7- Seqüência – Na tela aparece o fim do filme, as luzes se acendem e as pessoas vão saindo e ele continua na mesma posição. As luzes se apagam.
Comentário
Fábio, Heureka! Nós do cinema de invenção, poetas da imagem e do som, estamos pouco a pouco nos tornando escritores de cinema. Fazemos filmes de palavras soltas, imaginamos imagens como ideogramas fonéticos que se espalham na superfície plana do papel a nossa frente. Confrontamos idéias e emoções na abstração de nossas memórias. Editamos os sonhos com pontos e virgulas e não precisamos fazer mais nada. Dormiremos na eterna sala de espetáculos embalados pela ilusão ótica dos movimentos e quando a luz se apagar e só nos restar o nada, acordaremos novamente.
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