Fábio Carvalho
"Abandonai toda esperança
Vós que entrais."
Dante Alighiere
Onde andará BÉATRICE DALLE? Ela mesma a atriz francesa apesar do nome. A última visão foi no BLACKOUT do ABEL FERRARA. A outra é a CLAUDIA SCHIFFER. Ela se adentrou aqui feito uma larva. Tive que desligar o forno. A SOMBRA DO VULCÃO. O fim da inocência. Vamos seguir sem relativizações, a cara que vejo no espelho é a minha mesmo. Agora cada vez com menos pais, como dizia o TOM JOBIM. É assim mesmo. Ou não. Voltei àquele pátio enorme do grupo Pandiá Calógeras na hora do recreio no início do ano letivo. É de novo meu primeiro ano. Tenho que atravessar alguns corredores, inclusive os do terceiro e do quarto ano. Me fazer crer. ÁTILA, o rei dos Hunos, era repetente. Depois de encarar fica leve. Nada é fácil. Sou um ator de cinema. Trabalho com o olhar e a epiderme. Não me lembro quem disse isto. Anotei no meu caderno, dele roubo sem culpa nem vergonha e ainda com o maior prazer. Esqueci de contar antes que minha filha JADE quando tinha uns doze anos dizia que juntos, eu e o BIG CHARLES, formávamos um desastre ecológico. Ali de repente acontecia o fato e ninguém notava. Nós homens somos um exército em retirada. Se tiver tristeza, tem que ser bonita. Mais uma bela roubada do meu caderno de notas. Ela me interrompe de novo. Só ela pode. Em technicolor com sotaque francês. O poder da música e a serpente encantada. Bem no fundo o que seria o cinema? Tenho que alcançar a total inutilidade deste escrito. O som do gavião real. É o que almejo e desejo com as palavras imagens, numa androginia irrelevante bastante sexual. Não servir a nada nem a ninguém, muito menos às letras que a academia corrói, corrompe, fingindo que domina. É também inútil tentar chegar lá nesse ponto para subverter. Se bem que a subversão nunca é inútil. Kamikase como os orientais, onde jamais estarei. Soltar todos os miúras na arena e assobiar para o horizonte se descortinar, o que pode não acontecer. Sem dúvidas o mais provável. Enfim uma besteira total. Melhor do que falar alto enquanto durmo. Em frente a uma das horríveis franquias da Devassa em Ipanema, o OTÁVIO III e eu, num ato falho, logramos transformar O MONGE DEVASSO em O ANJO DEVASSO. De novo a interferência do DOM LUÍS. Sem permissão gosto de ficar na rede, como canta no megacubo o meu amigo que só vejo de dez em dez anos. É bom que sempre teremos a chance de nos rever, esta é uma possibilidade infinda como todas as possibilidades. A linguagem do documentário na ficção não pode. Não pode por quê? Porque é uma questão também inesgotável. O que seria a linguagem do documentário por assim dizer. Tenho que aprender o que eu já sei no pó da estrada. Vamos lá. Play the game como disse outro dia o GUARÁ. O documentário não é considerado filme, no entanto tem linguagem, como afirmam alguns. Como o documentário não é verdade e se torna ficção, que indiretamente mente que é verdade. VERTOV com raccord. É esta a linguagem. Obsessão barroca. Agora há pouco, exatas seis da tarde, veio uma chuva inesperada. O meu ponto de vista ficou bastante bonito, como ocorre às vezes quando chove. A passagem do tempo se ralentou de uma estranha maneira agradável. Vinte e cinco minutos demoraram calmamente a passar de dentro da mercearia de onde eu estava com as luzes coloridas em movimento pelo asfalto molhado, enquanto escurecia. Na contramão em silhueta na relação com a luz da padaria subia no compasso uma bicicleta ao lado do meio-fio sem se molhar. Registrei como um fotógrafo Nada a esperar de uma tarde que já se foi.
“Artifício da Verdade”
Ao ler o texto acima cheguei à seguinte conclusão: para saber o que é a arte da criação e toda a linguagem de cinema que o Fábio Carvalho exercita, é preciso primeiro ler os seus textos poéticos e descobrir, a partir da fragmentação dos seus pensamentos, a sua estética visual.
Vós que entrais."
Dante Alighiere
Onde andará BÉATRICE DALLE? Ela mesma a atriz francesa apesar do nome. A última visão foi no BLACKOUT do ABEL FERRARA. A outra é a CLAUDIA SCHIFFER. Ela se adentrou aqui feito uma larva. Tive que desligar o forno. A SOMBRA DO VULCÃO. O fim da inocência. Vamos seguir sem relativizações, a cara que vejo no espelho é a minha mesmo. Agora cada vez com menos pais, como dizia o TOM JOBIM. É assim mesmo. Ou não. Voltei àquele pátio enorme do grupo Pandiá Calógeras na hora do recreio no início do ano letivo. É de novo meu primeiro ano. Tenho que atravessar alguns corredores, inclusive os do terceiro e do quarto ano. Me fazer crer. ÁTILA, o rei dos Hunos, era repetente. Depois de encarar fica leve. Nada é fácil. Sou um ator de cinema. Trabalho com o olhar e a epiderme. Não me lembro quem disse isto. Anotei no meu caderno, dele roubo sem culpa nem vergonha e ainda com o maior prazer. Esqueci de contar antes que minha filha JADE quando tinha uns doze anos dizia que juntos, eu e o BIG CHARLES, formávamos um desastre ecológico. Ali de repente acontecia o fato e ninguém notava. Nós homens somos um exército em retirada. Se tiver tristeza, tem que ser bonita. Mais uma bela roubada do meu caderno de notas. Ela me interrompe de novo. Só ela pode. Em technicolor com sotaque francês. O poder da música e a serpente encantada. Bem no fundo o que seria o cinema? Tenho que alcançar a total inutilidade deste escrito. O som do gavião real. É o que almejo e desejo com as palavras imagens, numa androginia irrelevante bastante sexual. Não servir a nada nem a ninguém, muito menos às letras que a academia corrói, corrompe, fingindo que domina. É também inútil tentar chegar lá nesse ponto para subverter. Se bem que a subversão nunca é inútil. Kamikase como os orientais, onde jamais estarei. Soltar todos os miúras na arena e assobiar para o horizonte se descortinar, o que pode não acontecer. Sem dúvidas o mais provável. Enfim uma besteira total. Melhor do que falar alto enquanto durmo. Em frente a uma das horríveis franquias da Devassa em Ipanema, o OTÁVIO III e eu, num ato falho, logramos transformar O MONGE DEVASSO em O ANJO DEVASSO. De novo a interferência do DOM LUÍS. Sem permissão gosto de ficar na rede, como canta no megacubo o meu amigo que só vejo de dez em dez anos. É bom que sempre teremos a chance de nos rever, esta é uma possibilidade infinda como todas as possibilidades. A linguagem do documentário na ficção não pode. Não pode por quê? Porque é uma questão também inesgotável. O que seria a linguagem do documentário por assim dizer. Tenho que aprender o que eu já sei no pó da estrada. Vamos lá. Play the game como disse outro dia o GUARÁ. O documentário não é considerado filme, no entanto tem linguagem, como afirmam alguns. Como o documentário não é verdade e se torna ficção, que indiretamente mente que é verdade. VERTOV com raccord. É esta a linguagem. Obsessão barroca. Agora há pouco, exatas seis da tarde, veio uma chuva inesperada. O meu ponto de vista ficou bastante bonito, como ocorre às vezes quando chove. A passagem do tempo se ralentou de uma estranha maneira agradável. Vinte e cinco minutos demoraram calmamente a passar de dentro da mercearia de onde eu estava com as luzes coloridas em movimento pelo asfalto molhado, enquanto escurecia. Na contramão em silhueta na relação com a luz da padaria subia no compasso uma bicicleta ao lado do meio-fio sem se molhar. Registrei como um fotógrafo Nada a esperar de uma tarde que já se foi.
“Artifício da Verdade”
Ao ler o texto acima cheguei à seguinte conclusão: para saber o que é a arte da criação e toda a linguagem de cinema que o Fábio Carvalho exercita, é preciso primeiro ler os seus textos poéticos e descobrir, a partir da fragmentação dos seus pensamentos, a sua estética visual.
Fábio filma e edita os seus filmes da mesma maneira que nos apresenta os seus textos cinematográficos repletos de sentimentos ocultos, mistérios incontidos, ícones perdidos, as grandes ironias da verdade nos vaticínios dos artifícios de todas as artes.
josesette
josesette
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