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quinta-feira, 4 de julho de 2013

UM CONTO DE REIS

VI VOCÊ SORRINDO COM OS OLHOS PARA MIM

  Fábio Carvalho
O Abade T... Prova que os prazeres dos prelúdios
amorosos são lícitos sob todos os aspectos. 
Anônimo do século XVIII autor de
Teresa Filósofa

 Ascendi um incenso de alecrim, ontem ao chegar de Ouro Preto dia 24 do 6 do 13, dia de São João, dia da visão da infância lembrada de Guignard: balões coloridos subindo ao céu da noite de Nova Friburgo. Na caixa estava escrito seus predicados: protege de magia, acalma e cura. São João, São João ascende fogueira no meu coração. E amanhã as ruas de Belo Horizonte pegam fogo. Pensei e disse que não ia, mas vou. Tenho que me desdizer. Voltei fotógrafo instantâneo de neblinas congeladas. Acertei-me com a cameretazinha Sony que cabe na palma da mão. Ela ali se alojou. Há algum tempo não fotografava e parava a imagem, só a contra gosto quando pediam a mim em festividades e encontros, durante este hiato meu prazer morava na imagem-movimento. Agora buscando viajar Guignard, na mecânica do lápis duro, reencontrei a libido dessa experiência rigorosa. Sempre fui assim, gosto do frio nas montanhas. Não passo de um observador constante e fugaz. Para registrar tenho que vencer a madorna e encontrar o meio, por vezes depois de encontrado já foi perdido o sentido da necessidade, como o som que se foi. Temos o cinemão, o cineminha e o meio cinema. A ladeira de Santa Efigênia conseguiu me reanimar, ainda atravessar a ponte Marília de Dirceu, e avistar em baixo dela no Largo de Antônio Dias o belíssimo jardim da residência da amante do pai do Aleijadinho, a Casa das Xícaras. Esta visão deixou-me alumbrado. A camereta e eu, eu e a camereta. Exatamente em um dos passos do mestre, incluso e agradecido aos dedicados estudiosos pelos encaminhamentos que me direcionaram. O céu é tão lindo e a noite é tão boa. O Retrato de Doralinda, como é linda a Doralinda de 1941 em diante, e eu não a conhecia. Ao fundo serras verdes, céus azuis, nuvens brancas e uma flor vermelha nos cabelos pretos no frontispício. Olho que ela me olha severa como minha filha. Como escrever um quadro? Comecemos não descrevendo. Podemos nos postar em várias posições em relação ao seu plano, aguçar a objetiva e achar como vê-lo. Comovidos. Quem sabe ouvi-lo com os olhos. Guignard espetáculo pintando em tela grande Imaginante, encomenda fértil para a Feira de Amostras de Belo Horizonte, comigo assistindo no camarote da dissidência, melhor dizendo da cisão, em apoio a todos discriminados de sempre como ele. À noite depois da manifestação vamos ao Pecatore comer peixes e continuar pensando cinema, para nos livrarmos de algumas questões e darmos chance para outras que bem merecem. Vino Véritas. Tudo que nasce é rebento. O homem dos olhos doces. Continuo me rebelando não me iludo mais, naquele universo humano-pictórico, um mito claramente apresentou-se: expressão de o Suplício de Tântalo. Guignard. Quem é ela? Amalita. Fiz lentes novas escuras em degrade no meu grau. A armação foi recauchutada.
Enxergo assim melhor, ou acho. Agora ascendi ao último palito de incenso de Alfazema, e encontrei alguns discos dos filmes que procurava durante anos. Uma pilha de livros está avançando sobre mim, tomando todo meu pequeno espaço. Caminhando por aquelas ruelas friorentas, especialmente quando ia sozinho, vivi algumas aproximações desconhecidas e ao mesmo tempo muito familiares, distantes e próximas. Vamos divagando por estes passos. Estou aqui agora, mas ainda continuo por lá, flanando. Fomos ao concerto do quarteto de cordas Radamés Gnatalli na extraordinária Igreja do Pilar. Reza a lenda que Guignard deitava-se no chão para desenhar observando o forro da nave com um conjunto de afrescos atribuídos a João de Carvalhais. Vamos filmar da mesma posição.
Dionísio está lá representado belo e grandioso do lado esquerdo do altar logo em baixo. Baco, aquele que faz trovejar ou aquele que grita alto para os romanos. Amalita a música. Quando Guignard viu pela primeira vez a poetiza Cecília Meireles, imediatamente se apaixonou, saiu correndo e voltou com um quadro para ela, ainda com a tinta fresca. Ela lhe escreveu um poema, bastante divulgado, impresso por todos os lados, inclusive na parede da varanda do Grande Hotel. Fez-lhe também outro, pouco conhecido, que só agora descobri e prefiro. Chamado Improviso para Guignard, aí vai: Árvores de nuvens e flores do mar: - levai-me a esse mundo do rei Guignard! Em barcos e flores iremos cantar às aves e aos peixes do rei Guignard! As rochas de espuma as conchas de luar o sonho pousado em ramagens de mar. -Levai-me a esse reino do rei Guignard!
Encantaram-me os cartões do Guignard, que no meu despreparo também não conhecia. Quase descarados. 2 vidas pelas artes. Musa Música Amalita. 1 vida para a música. Baile na estratosfera. Nossa vida pela arte. Quem será? Sempre sonhamos na vida inteira. Dedico esta pequena lembrança a minha toda bem querida amiga Amalita Fontenelle. Quantos foram? Sim, sim, sim. Não, não, não. Como será o futuro? Feliz futuro. Transcrevo só mais este, já que não tenho desenhado: nem só da arte vive o homem Guignard desenhado. Vive de mágoas também. P´ra distrahir minhas magoas. Namoro com ella e toco vitrola.
Meus amigos, meus professores, meus alunos. Todos amam Guignard. O novo encordoamento.

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