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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Crítica Poética


A respeito do público que assistiu ao meu filme AMAXON e não entendeu ou não o respeitou, lembrei-me do Cão de Charles Baudelaire e do Inferno anárquico de Rimbaud... em resposta:
                                                                                             O Cão e o Frasco
Charles Baudelaire - Pequenos Poemas em Prosa

- Meu lindo cachorro, meu bom cão, querido totó! Aproxime-se, venha respirar um excelente perfume comprado na casa do melhor perfumista da cidade.
E o cão, sacudindo a cauda, o que me parece ser, nesses pobres seres, um sinal correspondente à gargalhada e ao sorriso, aproxima-se e pousa curiosamente o focinho no frasco aberto. Mas depois, recuando bruscamente, assustado, late contra mim, à guisa de censura.
- Ah! miserável cão, se eu lhe tivesse oferecido um punhado de excremento, você ofarejaria com delícia e talvez o devorasse. Até você, indigno companheiro de minha vida triste, se parece com o público, ao qual nunca se devem apresentar perfumes delicados que o exasperem, mas sujeiras cuidadosamente escolhidas.

Uma Estação no Inferno                                                          Artur Rimbaud

Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos.

Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E achei-a amarga. - E injuriei-a.

Armei-me contra a justiça.

Fugi. Ó feiticeiras. ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu tesouro!

Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana.

Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la.

Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis.

Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.

E a primavera trouxe-me o horrível gargalhar do idiota. Ora, por último, chegando a ponto de quase fazer o trejeito final, sonhei encontrar a chave do festim antigo, no qual talvez recobraria o apetite.

A caridade é essa chave. - Esta inspiração prova que tenho sonhado!

"Sempre serás hiena, etc..." exclama o demônio que me coroou de tão amáveis papoulas. "Vence a morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais".

Ah! estou farto de tudo isso:  - Mas, querido Satã, eu te conjuro a que não me fites com pupila tão irritada! e à espera das pequenas covardias atrasadas, para vós outros que admirais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou pedagógicas, para vós arranco algumas hediondas páginas do meu caderno de condenado.

 

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