PONTUALIDADE
COM A DÍVIDA PÚBLICA E O CALOTE COM A DÍVIDA SOCIAL
Cláudio
Leitão
(Economista e membro da
executiva municipal do PSOL em
Cabo Frio)
Caros
leitores, fugindo um pouco das questões políticas locais, até mesmo porque a
mesmice impera em nossa cidade, falta de transparência, nepotismo, violência
urbana crescente, sinalização de continuidade de políticas públicas
conservadoras, etc., enfim, tudo que debatemos na campanha 2012, nota-se que
houve uma mudança de seis por meia dúzia.
Nesta
oportunidade quero novamente forçar um debate esquecido (de propósito) pela
grande mídia e por setores importantes da nossa sociedade civil organizada:
1. A dívida externa paga por Lula
restringiu-se à dívida de US$ 15,5 bilhões ao FMI. Todo o restante da dívida externa
continua aí, aumentando velozmente. O pagamento ao FMI rendeu muitos frutos
políticos, apesar de ter sido uma medida danosa às finanças do país, pois a
dívida com o FMI era pactuada a juros de 4% ao ano. Para pagá-la, o governo
emitiu dívida interna que na época pagava juros de 19% ao ano. E o pior: apesar
de quitar a dívida financeira com o FMI, continuamos atrelados às suas
imposições de realização de reformas neoliberais.
2. A dívida interna já ultrapassou a casa
dos R$ 2.3 trilhões desde 2012, e está em grande parte nas mãos de estrangeiros
que trazem seus dólares para aplicar em títulos da dívida interna, que pagam
uma das maiores taxas de juros do mundo. O Banco Central fica com os dólares e
os aplica em reservas internacionais, especialmente em títulos da dívida
norte-americana, que não rendem quase nada ao país. É por isso que o prejuízo
operacional do Banco Central em 2012 foi da ordem de R$ 129 bilhões!
3. O
pagamento de juros e amortizações da dívida pública (interna e externa) em 2012
consumiu cerca de US$ 830 bilhões, à custa da subtração de recursos de todas as
demais rubricas, além de emissão de nova dívida.
4.
AMEAÇAS EM ANDAMENTO: O atual governo federal continua aplicando medidas para
restringir gastos sociais para possibilitar o pagamento dos juros dessa
monstruosa dívida pública. Algumas medidas já estão em fase de aprovação no
Congresso:
a. PLP 549/2009, que congela os salários dos servidores públicos por 10 anos, enquanto a dívida pública recebe remuneração garantida todos os anos pelos maiores juros do mundo; b. Anúncio pelo Ministério da Previdência, da “necessidade” de nova Reforma da Previdência dos servidores e regime geral, aumentando ainda mais a idade para aposentadoria e redução de benefícios ( importante ressaltar que o Presidente Lula vetou no dia da estreia do Brasil na Copa do Mundo em 2010 o fim do fator previdenciário que havia sido aprovado no Congresso Nacional); c. PEC 233/2008, que propõe uma reforma tributária que altera o financiamento da Seguridade Social (na medida em que transforma as contribuições sociais, que tem destinação vinculada por determinação constitucional , em impostos); d. Limitação dos “gastos primários”, ou seja, limitação de todos os gastos sociais, enquanto para os gastos com a dívida não são estabelecidos quaisquer limites.
a. PLP 549/2009, que congela os salários dos servidores públicos por 10 anos, enquanto a dívida pública recebe remuneração garantida todos os anos pelos maiores juros do mundo; b. Anúncio pelo Ministério da Previdência, da “necessidade” de nova Reforma da Previdência dos servidores e regime geral, aumentando ainda mais a idade para aposentadoria e redução de benefícios ( importante ressaltar que o Presidente Lula vetou no dia da estreia do Brasil na Copa do Mundo em 2010 o fim do fator previdenciário que havia sido aprovado no Congresso Nacional); c. PEC 233/2008, que propõe uma reforma tributária que altera o financiamento da Seguridade Social (na medida em que transforma as contribuições sociais, que tem destinação vinculada por determinação constitucional , em impostos); d. Limitação dos “gastos primários”, ou seja, limitação de todos os gastos sociais, enquanto para os gastos com a dívida não são estabelecidos quaisquer limites.
5.
CPI DA DÍVIDA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS: A CPI da Dívida Pública realizada na
Câmara dos Deputados em 2010 (Vocês ouviram falar dela ?) foi completamente
“abafada” pela imprensa, mas realizou importantes descobertas, tendo apontado
uma série de graves indícios de ilegalidades e ilegitimidades no processo de
endividamento brasileiro. O Relatório Final da CPI reconheceu em seu
diagnóstico:
a. as elevadíssimas taxas de juros (não civilizadas) foram o fator mais importante para o crescimento da dívida, inclusive dos estados e municípios; b. a dívida interna cresceu nos últimos anos para financiar a compra de dólares das reservas internacionais, com grande custo para as contas públicas; c. O Senado Federal renunciou a sua competência, pois permitiu emissões de títulos sem especificar suas características; d. falta de transparência na divulgação dos números da dívida, bem como falta de informações e documentos à CPI.
a. as elevadíssimas taxas de juros (não civilizadas) foram o fator mais importante para o crescimento da dívida, inclusive dos estados e municípios; b. a dívida interna cresceu nos últimos anos para financiar a compra de dólares das reservas internacionais, com grande custo para as contas públicas; c. O Senado Federal renunciou a sua competência, pois permitiu emissões de títulos sem especificar suas características; d. falta de transparência na divulgação dos números da dívida, bem como falta de informações e documentos à CPI.
6.
GRAVE DIAGNÓSTICO DA CPI: Apesar do grave diagnóstico, contraditoriamente o
Relatório Final não admitiu ter encontrado irregularidades no endividamento,
não recomendou a auditoria da dívida (prevista na Constituição) e também não
recomendou acionar o Ministério Público para o aprofundamento das
investigações. Porém, a pressão de entidades da sociedade civil que
acompanharam os trabalhos da CPI, fez com que somente 1/3 dos 24 membros da CPI
votassem a favor deste “Relatório-Pizza”, que foi aprovado pelo apertado placar
de 8 a 5.
7.
RELATÓRIO ALTERNATIVO DA CPI JÁ ENTREGUE AO MINISTÉRIO PÚBLICO: A pressão das
entidades também fez com que 8 deputados da CPI assinassem o “Voto em Separado”
do Dep. Ivan Valente (PSOL/SP), que pede a auditoria da dívida, e o
encaminhamento ao Ministério Público de diversos indícios de ilegalidades
apuradas, dentre eles:
•
Juros sobre Juros (Anatocismo), ilegal segundo o STF;
•
Juros flutuantes na dívida externa – ilegais segundo a Convenção de Viena
•
Ausência de contratos e documentos; ausência de conciliação de cifras;
clausulas ilegítimas;
• A
grande destinação dos recursos orçamentários para o pagamento da dívida viola
os direitos humanos e sociais;
• O
Banco Central faz reuniões com os bancos e outros rentistas para definir as
previsões de inflação, que definem as taxas de juros.
* Este
Voto em Separado já foi entregue ao Ministério Público para que sejam
aprofundadas as investigações e elaboradas as ações judiciais cabíveis.
8.
PRIVILÉGIO DOS PAGAMENTOS DA DÍVIDA: A despeito das diversas ilicitudes
apontadas pela CPI, o pagamento do serviço da dívida goza de imenso privilégio,
em detrimento do sacrifício do povo brasileiro, que arca com elevada carga
tributária e não recebe o devido retorno em serviços públicos, tendo em vista,
os crescentes contingenciamentos efetuados para produzir o superávit primário.
Merece ser lembrada a denúncia do Professor da UNB, Adriano Benayon, no seu
livro “Anatomia de uma fraude à Constituição”, onde cita a ação
fraudulenta do ex-deputado e ex-ministro Nelson Jobim, na época da
Constituinte, sub-relator da Comissão de Sistematização, que à serviço da banca
financeira, introduziu um inciso não aprovado e não votado, garantindo o
pagamento do serviço da dívida como uma obrigação do Orçamento, no mesmo nível
da dotação de pessoal e transferência de recursos a Estados e Municípios. Diversas
outras fontes alimentam o pagamento dos juros e amortizações da dívida,
principalmente os seguintes: a - lucros das estatais (por
isso é que elas se endividam para realizar investimentos, apesar de altamente
lucrativas, pois seus lucros não são destinados a reinvestimentos, mas sim para
pagar dívida); b- lucro do Banco Central quando há lucro, esse vai para pagar
dívida; quando dá prejuízo, o Tesouro Nacional cobre com recursos decorrentes
de excesso de arrecadação ou emissão de novos títulos da dívida; c-
recebimento de juros e amortizações da questionável dívida dos estados e
municípios com a União (todo sacrifício dos entes federados, cerca de 13% de
sua receita é destinado para o pagamento da dívida); d-
emissão de novos títulos; e- As Medidas
Provisórias 435 e 450 (já foram transformadas em lei) determinam que toda sobra
de recursos orçamentários vinculados por lei a áreas sociais, que não chegaram
a ser executados, podem ser destinados ao pagamento da dívida, ou seja, ao
final do ano, há uma “limpa geral” no caixa e os recursos vão para pagar juros
e amortizações;
9.
SANGRIA DE RECURSOS PARA O PAGAMENTO DA DÍVIDA: Apesar da sangria anual de
recursos para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, esta não
para de crescer, tendo ultrapassado a marca histórica dos R$ 2.3 trilhões ao
final de 2012, enquanto a dívida externa ultrapassou a também marca histórica
dos US$ 300 bilhões. É evidente que quanto maior o estoque da dívida, maior
será a exigência de recursos para cumprir com os pagamentos de juros e
amortizações. Em 2012, os juros e amortizações da dívida consumiram 47% dos
recursos do Orçamento Geral da União. Enquanto isso, para a Saúde foram
destinados apenas 4,24%, para a Educação apenas 3,18% e para Saneamento
somente 0,08%! Não é a toa que mais da metade dos brasileiros sequer tem acesso
a saneamento básico.
Para
que se compreenda a lógica (sic !) deste “cassino”, o governo Lula recebeu a
dívida pública do FHC em 600 bilhões, pagou ao longo dos oito anos, 1.3
trilhões só de juros e deixou como herança para o governo Dilma a
estratosférica cifra de 1.8 trilhões. Nestes 03 anos de governo a dívida já
ultrapassa 2.3 trilhões. É impagável.
Peço
desculpas pelo excesso de números, mas acredito que eles possam fazer a gente
pensar um pouco, até porque ano que vem teremos eleições presidenciais e os
ditos “principais candidatos” não querem nem passar perto deste debate. “UFA
!!!! Ninguém aguenta!
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