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quarta-feira, 22 de maio de 2013

UM CONTO DE REIS



MIRAGEM DA MINHA ESCRITA
 Fábio Carvalho

Forçadamente começando a pensar no filme que vi ontem à tarde, O Rei da Comédia, do Martin Scorsese, comecei novamente sofrer. Já o tinha visto uma vez, há muitos anos atrás, nesta nova visão acho que me encontrei com sua viagem interna. O que em termos desconhecidos de cinema foi muito bom, em termos conhecidos também, grandes atuações o que na verdade não passava de obrigação para notadamente um filme de atores, feito por atores para atores. Tenho detestado os atores e adorado mentir como uma mulher. Como não sou ator, portanto para mim não passa de um filme. Um bom filme, com seqüências inesquecíveis, especialmente aquela que um dramático e incomum Jerry Lewis vai andando pelas ruas de Manhattan, e essa caminhada se transforma num pesadelo muito bem filmado. Surpreendente. Sem dúvidas um diretor americano do norte sem contestações. Tive pós-operado prazeres incontáveis e também o desprazer de ver um filme do Fernando Arrabal, que me pareceu detestável: Viva la Muerte. Não exatamente pelo título que a bem da verdade muito me atraiu, mas sim pela forma rasa do filme que não se sabia meio audiovisual. Um extremo mau gosto perpassa todos os seus planos do início até onde consegui ver, uma trilha sonora de tal maneira irritante que deu para acreditar, como total firmeza, que estamos realmente perdidos. Usei nessas vagas afirmações de alguma crueldade. Essa não é a do cinema que me irriga e arma a minha barraca. Salvamos apenas o mundo, o seu e meu teatro também. Ainda não sei falar mal de filmes, portanto vou mudar de assunto. Gosto dos filmes ruins. Música de preto. Acordes capistranos, ela me ensinou mais uma vez. O filme com sons de que falo com estes requintes já é outro, o meu que estou amando. Amor mais puro e louco não há nem houve pra mim desde que ouvi esse mesmo Jimmy tocando baixo como eu.
O filme estranhamente por enquanto chama-se: Sem Sincronia – Jimmy Hendrix e a Fonoaudióloga.
Sei que ninguém aprova, mas quero esse filme assim mesmo. Como sempre é difícil, a esta altura já gosto das dificuldades e vou entrando fundo nela, a viagem. Sei que ela tenta fugir da compreensão como também podemos atuar na epiderme do improvável. Já conhecemos o risco. Quero lhes apresentar o desconhecido. Falar tudo baixo ao pé do ouvido. Aprendendo o desaprendido na exata e cristalina solidez impalpável. Porra meu que frase! Insuportável.
Tenho achado que podemos não reduzir a música à matemática, muito menos pensar no tempo da comédia se sempre vivemos a tragédia, mora na filosofia. Ela a música. Podemos sorrir. Ouço o desenho do cantor. Como Picasso na melodia do misterioso filme do secreto diretor francês Henri-Georges Clouzot. Vamos para a outra estética do sonho. Nesse instante começo a teclar como a guitarra. Num outro nível muito mais como o cantor negro. Agora sim entrei por esse barato, e lá por dentro circundo. Minha pesquisa estava feita há anos naquele hotel perfeito, com o piso por onde ela andava de sapato baixo e vestindo fúcsia, no hall art-deco cinematográfico do patrimônio pessoal que perdi na exata dimensão do organograma, aí depois vi que sabia que devia ter confiado só e apenas na partícula de consciência que em mim pungia. Fui mal influenciado. O sintoma das influências. Que onda traz esse som. Inside out. Gostei e ainda assim aprendi mais um pouco. Podemos chegar lá, ninguém precisa saber e todos merecem imaginar. Cabe a nós. Tinha que rodar por essa cidade dentro daquelas janelas. Sem consolo. A câmera vai dormir comigo. Amanhã o filme vai continuar. Tenho que encontrar-me com o Amadeu, comer um tucunaré e filmar. O inferno é melódico barroco.

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