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terça-feira, 14 de maio de 2013

NOTÍCIA DO CINEMA MINEIRO

TOSTÃO A FERA DE OURO
Jornal Hoje Em Dia BH MG

Recuperação do filme de Paulo Laender  e Ricardo Gomes Leite realizado em 1970

Pouco antes de um extasiado público deixá-lo quase sem roupas no estádio Azteca, no México, e de levantar a taça de tricampeão com a Seleção Brasileira, o atacante Tostão é mostrado num campinho de futebol do conjunto habitacional do IAPI, em Belo Horizonte, onde o craque deu os seus primeiros chutes.

São cenas inéditas do ídolo do Cruzeiro e do escrete canarinho de 1970 que estavam infestadas de fungos e prestes a virar "vinagre" – termo muito comum entre técnicos de cinema para definir a situação irreversível no estado de conservação de um rolo de filme.

Um dos melhores registros cinematográficos sobre o universo da bola, o documentário "Tostão, a Fera de Ouro", lançado em março de 1970 e assinado pelos diretores mineiros Paulo Laender e Ricardo Gomes Leite, ressurge em todo o seu vigor estético e técnico, como a primeira ação do projeto "Curta Circuito" na restauração de produções de Minas Gerais.

Ao Hoje em Dia, o coordenador Cláudio Constantino salienta que, após dez anos dedicados à exibição de filmes, como uma importante janela para produções independentes, o caminho em direção a uma etapa carente de atenção pública e privada foi natural. A preocupação com o acesso não poderia se restringir às obras mais recentes.

"Nesses anos percebemos um grande interesse, até mesmo das novas gerações de realizadores, sobre filmes antigos, que são fundamentais em nossa formação", registra. A vontade de atuar nessa área cresceu após "um diagnóstico preocupante, em que 70% dos filmes mineiros produzidos entre 1999 e 2009 não estavam climatizados adequadamente".

Patrocínio direito

A ação ganhou o nome de "Homenagem BDMG à Filmografia Mineira" e terá sua primeira sessão em Belo Horizonte em 21 de junho, dentro da programação quinzenal do "Curta Circuito". Antes, o trabalho restaurado ganhará as telas do Rio de Janeiro, no próximo dia 25, como um dos títulos que engrossarão o "Cinefoot", mostra dedicada a filmes de futebol.

Constantino destaca que o projeto não está vinculado a nenhuma lei de incentivo. "O BDMG se mostrou muito sensível à questão e à urgência desse trabalho de recuperação e comprou a ideia aplicando investimento direto", ressalta.

Com apoio do Labocine e da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, os recursos permitirão que até dois longas sejam beneficiados, a cada ano. No segundo semestre, será vez de "Rebelião em Villa Rica" (1957), dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira.

Filmes estão em alto estágio de deterioração

Os organizadores ainda estudam uma forma de seleção para os filmes a serem recuperados. Num primeiro momento, o critério adotado, de acordo com Daniela Fernandes, também coordenadora do "Curta Circuito", foi pedir um diagnóstico do estado das produções mineiras condicionadas na Cinemateca do MAM.

"Eles nos passaram uma lista de seis filmes que estavam num alto estágio de deterioração e que se perderiam em pouco tempo se uma recuperação não fosse feita urgentemente", detalha Daniela. No caso de "Tostão, a Fera de Ouro", a parte mais prejudicada era o negativo de som.

Circulação

Além de uma infestação de fungos, presença de bolor superficial e acentuada acidificação, o negativo de som estava incompleto, faltando o rolo cinco. A solução foi usar uma cópia depositada na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. De acordo com Daniela, a recuperação resultou em duas novas cópias – uma ficará preservada na cinemateca carioca e a outra circulará pelo país.

"Não queremos limitar à restauração, mas também ajudar a difundir o filme. Será uma forma de o ‘Tostão’ ganhar o mundo", assinala Daniela. A exibição no Rio terá a presença de curadores de festivais internacionais sobre o tema futebol.

Ela acredita que o filme despertará grande interesse devido à riqueza das imagens. As filmagens ocorreram durante as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, com cenas exclusivas de cinco jogos da Seleção (apenas o confronto contra o Paraguai, em Assunção, não é mostrado).

Tostão é acompanhado no auge de sua carreira. Nas Eliminatórias, foi o artilheiro do time, com dez gols. A ousadia do filme foi gravar entrevistas fora de estúdio, que, na época, sem as câmeras portáteis de hoje, era algo raro e caro de se fazer.

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