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sábado, 1 de outubro de 2011

Uma lenda mal contada não substitui a realidade

Publico aqui a carta – emeio – que recebi do meu amigo Sérvulo a respeito da sua carta aqui neste blog publicada.


Zé, ...Peço-lhe que, por favor, substitua a carta que lhe enviei a propósito da matéria do Welles por esta outra, em anexo, remetida ao editor do Estado de Minas e que considero mais abrangente.

Prezado João Paulo Cunha,
Escrevo-lhe a propósito da matéria publicada no jornal Estado de Minas de hoje, 14 de agosto de 2011, intitulada “Imprima-se a Lenda?”, escrita pela jornalista Ana Clara Brant, sobre um documentário que relata a passagem de Orson Welles por Minas Gerais. Faço-o porque, sendo eu também um documentarista, jamais fui informado de que a matéria colhia dados para divulgar um projeto cinematográfico em vias de realização.
Desde 22 de julho, venho prestando informações à jornalista para o conteúdo de uma reportagem que seria uma espécie de rememoração da passagem do cineasta em Ouro Preto. Em momento algum me foi revelado que se tratava da divulgação de um documentário que ainda está em sua fase inicial.
Causou-me também surpresa que um extenso teor das minhas declarações tenha sido apresentado como texto assinado pela jornalista, sem o procedimento habitual das aspas ou da citação de autoria. Essas afirmações foram feitas por e-mail e em uma longa entrevista concedida por telefone.
Lamento também que a capa do livro Orson Welles no Brasil: Fragmentos de um Botão de Rosa Tropical, que acabo de lançar, solicitada pela jornalista para ser usada como ilustração na matéria, não tenha sido incluída. Também me senti muito desconfortável ao ver o meu trabalho - um ato de amor à criação e à liberdade do autor – associado a uma visão distorcida, grosseira e caricatural de um dos mais criativos artistas do século XX, notável ator shakespeariano aos 19 anos, gênio revolucionário do rádio aos 23 e inovador definitivo do cinema aos 25 anos, além de mágico, cenógrafo e pintor. Fiquei triste ao constatar que a matéria enfatizava aspectos escatológicos e particulares da vida de um ser humano. Como dizia o velho Rosa, “a vida do homem é bagaço, o que vale é a sua obra”.
Considero também que em um assunto tão intrincado, cujo mistério ainda persiste após mais de 69 anos, a leitura do livro de 208 páginas e cerca de 60 ilustrações teria enriquecido ainda mais a reportagem.
Visando suplementar o corpus da matéria, sugeri à Ana Clara Brant que lesse também outros artigos publicados em meu site www.guesaaudiovisual.com , inclusive a matéria que publiquei no Estado de Minas, em 1979, sobre o tema.
Ontem como hoje, as relações entre o Brasil e os Estados Unidos têm sido sempre conturbadas e acredito que o conhecimento do passado serviria para um maior esclarecimento das gerações atuais e futuras. É nesse sentido que venho me dedicando a esse trabalho.
Grato pela sua atenção e consideração.
Cordialmente
Sérvulo Siqueira

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