Vocês Precisam Conhecer O Cinema Experimental Brasileiro
Existe a mais de cem anos um cinema mundial de vanguarda que muito pouca gente conhece e que se fosse conhecido a muita gente interessaria. No Brasil foram realizados muitos filmes de vanguarda e de arte; poéticos, políticos, experimentais, longas e curtas. Todo esse mosaico criado é dirigido por pessoas instigantes, polêmicas e inteligentes. Conhecido como o Cinema Experimental Brasileiro, ou Cinema de Invenção, é ainda um cinema que resiste, que está vivo, mas que ainda assusta. Um cinema que fala pela voz dos significantes: caboclo, mágico e atonal; de composição abstrata, moderníssima; onde toda a história está na cabeça de cada um, feitas de sonhos vivos, de visão verdadeira e muitas das vezes inexplicável. No Brasil, este movimento cinematográfico de vanguarda, em épocas distintas, provocou a alguns realizadores o desejo de ver no cinema uma maneira de exprimir, com liberdade e sem medo, suas concepções estéticas e artísticas. Não se pode falar das boas artes e da imagem em movimento, sem falar das origens de uma cinematografia nascida em 1917, durante a revolução soviética. Todos aqueles jovens revolucionários presentearam ao mundo, através de um movimento artístico sem precedentes, com os seus personagens navegando livres entre a vanguarda da música: Stravinsky, Prokofieff; da poesia: Maiakovski; das artes plásticas: Kandinsky, Malevitch; do teatro: Gorki e do cinema: Dziga Vertov, Kulechov, Pudovkim e Eisenstein. Nascia ali a arte poética da criação, inteligente e transformadora, uma nova maneira de ver e de contar histórias fazendo a revolução estética de uma época, influenciando a arte em todo o planeta por sua grandeza cultural e artística. Os seus filhos rebeldes nascidos do sonho de uma revolução popular, que se quis internacional e socialista, tornou-se gênese de todos os movimentos de vanguarda no futuro. Arte depois sufocada pela prepotência de um guerreiro, do soldado, do ditador, do estúpido e grosseiro Stalin. O homem que derrotou os nazi-fascistas para depois romper com a liberdade massacrando a arte e aprisionando o seu povo. A grande música da arte, iniciada na terra dos Tzares, sobrevive hoje em outros grandes países. No Brasil o cinema experimental, o cinema que revolucionou as imagens, os enquadramentos e suas concepções estéticas, nasceu entrelaçado entre o cinema socialista, a arte futurista, o movimento expressionista alemão, o neo-realismo, a nouvelle-vague e a kinopoiesis do Limite de Mário Peixoto. É preciso trazer de volta os instigantes cineastas Dziga Vertov, Robert Wiene, Fritz Lang, Murnau; L’Erbié, René Clair, Abel Gance, Duchamp, Man Ray Buñuel, Felline e Pasoline, Orson Welles e depois, o poeta da desconstrução, Jean Luc Godart e apresentar ao Brasil um cinema de arte, de baixo custo, experimental, inventivo e transformador. Este é o mote destes artistas, poetas dos movimentos, das imagens e dos sonhos. O novo cinema brasileiro de Glauber Rocha, Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Neville, Tonacci, Visconti, Lanna, Reichenbach, Rosemberg, Veloso, e os mais novos como Ricardo Miranda, Fábio Carvalho, Gilberto Vasconcelos, Marcelo Ikeda, Leonardo Esteves, entre outros, que revolucionam as linguagens acadêmicas, estatais, ditatoriais e mercantilistas de uma época, criando um cinema nosso, inventivo, diferenciado em relação a sua história, é o que se precisa ser mostrado. Aos brasileiros sensíveis perguntamos: um cinema histórico, polêmico, poético, de arte, não comercial, marginal, poderá e deverá continuar existindo, ou se tudo não passou de alucinantes quimeras de jovens criativos e rebeldes?Ao se apresentar ao público brasileiro um dos mais importantes capítulos da nossa cinematografia: o cinema experimental, de invenção, udigrude, marginal, que nasceu no final da década de 60, através de uma revisão crítica do jovem cineasta Rogério Sganzerla, na época com 23 anos, que passou a lançar pela imprensa nacional, matérias inflamadas contra a muito cultuada estética cinemanovistas e a evidenciar, e mesmo enaltecer, um cinema marginalizado e pouco recomendado pela crítica oficial - filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão e de Carlos Manga, as chanchadas da Atlântica, que ele considerava “ uma das nossas mais ricas tradições culturais”. Rogério, admirado e odiado por Glauber, foi reconhecidos pelo seu valor criativo e estético, principalmente quando realizou, em abril e maio de 1968, o filme “Bandido da Luz Vermelha”, o primeiro “far-west sobre o Terceiro Mundo”. Este movimento cinematográfico veio a existir, concomitantemente, com um dos momentos políticos mais tensos por que passou o país. As relações culturais, à maneira de outras explosões criativas de renovação e contestação, que se sucederam pelo mundo, forjaram um movimento cinematográfico de resistência que é a base estrutural de uma cultura artística e que ainda hoje, tem muito a nos oferecer.
2 comentários:
Hello trata-se a 3ª vez que vi o teu blog e adorei muito!Bom Projecto!
Até à próxima
Oi, José Sette.
Acho que temos de rever o papel de Stálin.
Li outro dia o texto de Trotsky dizendo que Maiakóvski estava contra Stálin, apesar de estar, quando morreu, na associação dos escritores soviéticos.
E o poema Lênin de Maiakóvski cita Stálin.
Abs do Lúcio Jr.
Postar um comentário