ROTEIRO DE GILBERTO VASCONCELLOS PARA UM FILME QUASE ECOLÓGICO ( )
(escrito a meu pedido no ano de 2003)
A Idade do Sol
A Idade do Sol
A geografia da biodiversidade Tropical.
A biodiversidade está nas diferenças regionais. Variedade étnica e cultural.
Este é um argumento básico para um documentário que não seja ao molde de um ambientalismo superficial feito pela TV, nem denuncismo apocalíptico anunciando o fim do mundo.
Quem vai conduzir o documentário: a câmera e a voz em off ou algum personagem? Um professor, um jornalista, uma mulher grávida? Um locutor de rádio? Para narrar e articular as escapulidas geográficas de forma didática e compreensível: Norte – Nordeste – Centro - Sul.
E o tempo do documentário? O Banco de dados indígenas? A ecologia Pré-cabral ou depois das caravelas?
Até chegar aonde? No “smog” da Avenida Paulista?
Tudo isso, atenção, nem careta nem louco, deve ser mentalizado e escrito ( roteiro, roteiro, roteiro) para agradar e seduzir a banca dona da grana.
Roteiro – Documentário:
Sobre a biodiversidade nos Trópicos
A primeira cena é o mapa-múndi, o foco centrado na divisão do mundo- regiões frias ou temperadas- situadas no Hemisfério Norte, e as regiões intertropicais no Hemisfério Sul.
Intercalam silêncio, fala e música. Villa Lobos. Vitória do Amor nos Trópicos. Uirapuru. Saudade da Selva Brasileira.
Voz em off. Didática. Voz feminina.
A noção dos trópicos é essencialmente geográfica, podendo ser precisada com o máximo rigor, pois é determinada por dois círculos terrestres chamado o do norte de Trópico de Câncer e o do sul de Trópico de Capricórnio, paralelos ao Equador, distando deste 23° e 27’. Ë essa a zona tropical do Planeta Terra, denominada também Zona Tórrida.I
Do mapa-múndi vai se destacando pouco a pouco o Brasil como o maior país tropical do globo.
Para além do mapa mostra-se a floresta da Amazônia. Floresta úmida. Alvorada, sol e água. O Brasil possui 20% de água doce do planeta terra. Plano longo, demorado. Ênfase no encontro do sol com a água.
Ouve-se um locutor de rádio anunciar que na floresta da Amazônia um professor dialoga com seus alunos. Aula. Expõe a gênese da conquista dos trópicos. A partir da existência do calor favorável à propagação de todos os seres vivos, inclusive germes, fungos, pragas bactérias e parasitas. Os fatores climáticos exercendo ação extraordinária sobre os organismos vivos, tanto plantas, quanto animais, incluindo o homem e todos os mamíferos.
A lição do professor – que é dada por João Amilda Salgado, professor de medicina, UFRGS, especialista em infectologia – sucedem-se imagens da luz e sua ação poderosa sobre o processo de reprodução, variável segundo os animais.
Destaque para as chuvas e o rio. O som das chuvas mixado à voz de Abidu Sayão. O efeito do calor tropical e da umidade sobre o desenvolvimento e proliferação dos organismos, quer do reino animal, quer do vegetal. A fala do professor acompanhando um caboclo na canoa descendo o Rio Solimões. Na bacia do Rio Amazonas existe mais de 2000 espécies de peixes, quantidade dez vezes maior que a de todas as espécies ictiológicas da Europa. Ë impressionante a exuberância da vida tropical. Aí se encontram também 90% de todas as espécies vegetais existentes atualmente no mundo. Não podemos nos esquecer que a bacia amazônica é um exportador de vapor d’água.
Corte para a região do Pantanal. A fim de mostrar que o fluxo de vapor d’água é no sentido norte-sul o ano inteiro.
A chuva que cai no Pantanal é por causa do vapor d’água proveniente da região amazônica. A devastação da Amazônia influencia o clima do Planalto Central, do Pantanal e dos Andes.
O quadro da seca. Nordeste. A questão hídrica vinculada à ecologia. A mudança climática em função do acúmulo de certos gases na atmosfera que provocam o efeito-estufa e o aumento da temperatura junto à superfície da terra. Explicar que o efeito estufa é provocado pelo CO2 lançado na atmosfera.
Mostrar o nível médio dos oceanos subindo um centímetro por ano. A dimensão planetária do problema ecológico. O desequilíbrio global.
A voz do locutor retoma a narrativa. Neste documentário sobre a biodiversidade a Amazônia é o começo, porque aqui tem grande reserva de plantas e árvores. Esse mundo variado de espécies ocorre por causa da maior incidência do sol. A energia solar concentrada nas zonas Equatoriais. O clima quente e úmido. A produção biológica se faz através da fotossíntese.
Brasília. Cerrado. Entrevistar o físico J. W. Baltista Vidal. As causas do desequilíbrio da biosfera. Simultaneamente mostrar no sul do país, Paraná e Rio Grande do Sul, as florestas desaparecendo. A pergunta sobre o uso econômico da Floresta como estratégia de sua preservação.
Na Universidade de Brasília entrevistar o professor de física, José Acioli sobre os bilhões de toneladas de CO2 lançados na atmosfera, em função da queima crescente dos combustíveis fósseis: carvão mineral e petróleo. As principais cidades do mundo padecem de poluição atmosférica com as camadas de fumaça e nevoeiro. A necessidade da transição do declínio dos combustíveis fósseis para a era solar com energia vegetal.
A eterna energia do futuro. As selvas úmidas. O banco de informações genéticas, químicas e ecológicas. A fonte da biotecnologia. A tecnologia do século XXI. No entanto existe o demônio das queimaduras por espúrios interesses pecuniários.
Focalizar a motosserra e a devastação ecológica.
Os bárbaros tacam fogo nas florestas. E o Brasil depende da valorização social e econômica da floresta. É este o desafio da civilização tropical. Anunciado por Gilberto Freyre em sua ciência agrônoma chamada “tropicologia”: no trópico dotado de tanta variedade, é fundamental a recusa da monocultura por extinguir as espécies biológicas. Monocultura é devastação ambiental.
Em Dores de Indaiá, Minas, entrevistar o mineiro Marcelo Guimarães. Agricultura é engenharia biótica. A ecologia tem tudo a ver com ecologia. Ë preciso visitar a escola de Agronomia de Piracicaba em São Paulo. Devemos aproveitar o fungo como potencialidade do solo. O problema é que a política do solo depende do poder.
A verdade é que se conhece muito pouco de biologia tropical, daí o uso de fertilizantes químicos, daí a humilhação científica da mandioca, que não é considerada um arado biológico. O problema do agromimetismo: copiar a agricultura das regiões temperadas e frias.
Encerrar este documentário com homenagem prestada aos cientistas que se opuseram a alienação biológica dos trópicos, como o biólogo Herbert Schubart e o médico Silva Mello. Não adianta sair por aí com biocida para controlar ou matar os insetos.
The End.
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