Só agora entendo quando o poeta mineiro Murilo Mendes envelhecido dizia que não voltaria mais ao Brasil, pois não conhecia aqui mais ninguém. Morreu pouco tempo depois em Portugal.
A pior coisa que existe com o passar dos anos, não é a fraqueza nem as dores do corpo; não é a vista sem foco e a memória que se apaga aos poucos; não é a falta de trabalho nem da excitação existencial; não é a desilusão que nos arrasta a solidão; tudo isso tem remédio.
A pior coisa de quando a idade tarda é a perda daqueles personagens que trafegam com intimidade em sua existência e fazem parte da sua história, que são os seus amigos.
Não há remédio para o vazio que se apossa dos sentidos quando a querida imagem de um amigo é fragmentada, tornando-se aos poucos retalhos perdidos, às vezes desfocados, na memória de cada um que ficou.
Ontem o fogo queimou até as cinzas o personagem mais irrequieto; o ator mais dinâmico; o poeta mais controverso; o ser mais exagerado; o produtor mais exaltado, que fez uma ponta no meu filme, não finalizado, Inside, o amigo eternamente jovem Ezequiel Neves.
Hoje recebo a trágica notícia do internamento, em Belo Horizonte, em coma irreversível, do meu amigo Milton Campos. Admirável fotógrafo mineiro.
Tenho a vontade na fé que se estabeleça uma corrente espiritual e que ela promova a recuperação imediata da sua saúde. Só assim eu posso acreditar em um piedoso deus todo poderoso.
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