Ofélia Torres esta em Paris com a sua arte brasileira de alma mineira.
Artista plástica há várias décadas, quando no Atelier MUNA em sua chácara MUSEU NATUREZA, próximo à cidade de São Paulo, executava obras em recyclarte e pinturas, sempre buscando uma ponte entre o imaginário, a poética, a música e o cotidiano, exorcizando as neuras da paulicéia desvairada. Paralelamente, possui quilômetros de visitas a exposições e museus pelo mundo afora, não dispensando, é claro, bons ensinamentos, leituras e papos sobre pinturas, pintores e visões poéticas. Registra aqui homenagem a dois amigos pintores Anatol Wladislaw e Walter Cavalheiro, ausências assimiladas. O nome artístico Ofélia Torres é homenagem ao seu avô Arnaldo Torres, que escapou de Portugal aos 13 anos como clandestino em um navio para não ser obrigado a fazer a guerra nas Áfricas. Objetor, de consciência avant garde, aqui se casou, teve dez filhos e viveu 84 anos. Com ele, Ofélia aprendeu que o mundo é um navio. E la nave va. Foi em suas estadas mais prolongadas em Paris (1968-1969; 1976-1984) para obtenção dos diplomas d'Etudes Approfondies (DEA) e Doctorat d' Etat ès Sciences Economiques respectivamente, que Oféllia passou a se interessar pelo mundo das artes. E, de fato, foi iniciada no curso livre de História da Arte realizado no Louvre. No período 1968-1969 teve o privilégio de realizar visitas comentadas pelo arquiteto Venek Primus ao Louvre e outros museus e exposições parisienses, estendendo-se, mais tarde, a mais visitas a museus e exposições em Roma, Florença, Veneza, Londres, Amsterdã, Berna, Madrid, Bruxelas e Atenas. Nas ilhas gregas pode contemplar esculturas e monumentos. Mas foi em Paris que começou a pintar os primeiros quadros. De volta ao Brasil, em 1984, após instalar o Atelier/Exposição MUNA, visitou várias vezes Nova York, Québec, México, e fez curta estada em Moscou e São Petersburgo, em 2002. Nos intervalos, em férias ou visitas técnicas, sempre voltava a Paris. Exerceu paralelamente atividades de magistério superior e consultoria em administração. Desligou-se dessas atividades profissionais, transferindo-se para Belo Horizonte em 1986 para dedicar-se exclusivamente às atividades em artes plásticas. Em 1976 ingressa na Maison Escola de Arte, Belo Horizonte, onde segue cursos semestrais sobre técnicas: Pintura e Desenho-Glauco Moraes; Possibilidades: Yara Tupinambá; Janhel e Sandra Bianchi, Pintura Espatulada: Jahnel; Paisagem: Yara Tupinambá; Figura Humana I e Figura Humana II: Sandra Bianchi; Escultura Belkiss Diniz. A partir de 2008 faz parte do Grupo Maison de artistas plásticos expositores, frequentando o atelier de atividades supervisionadas por Glauco Moraes e participando de exposições diversas. Ofélia Torres é membro fundador da Sociedade dos Amigos e Curadores da Fundação Oscar Araripe - Tiradentes - Minas Gerais.
Conheça melhor a arte de Ofélia Torres
A primeira biografia francesa de Godard
Luiz Carlos Merten - O Estado de S. Paulo
Godard, o diretor de 'Acossado'
PARIS - Jean-Luc Godard era a grande presença anunciada da mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes. No final, o próprio Godard cancelou sua ida à Croisette. Justificou a decisão apelando para um problema "grego" - e todo mundo ficou sem entender se era solidariedade pelo povo da Grécia, que vive seu inferno econômico. Godard talvez não tenha ido, simplesmente por estar insatisfeito com seu filme. Está na imprensa francesa: ele remonta atualmente a obra que mostrou em Cannes, Film Socialisme, com Daniel Cohn-Bendit.
Há também esse filme sobre Godard e Truffaut, Les Deux de La Vague (no original), que estreia amanhã no Br as il. E, ainda, a monumental biografia de Godard, por Antoine de Baecque, que saiu agora na França pela editora Gr as set & F as quelle ( 25). São 935 págin as . Na capa, o nome do diretor dividido em du as linh as : God e Ard, de certo reminiscência do God-Art de Andy Warhol.
E não se trata de "uma" biografia. É "La Biographie", a primeira de Godard em língua francesa. Saíram du as em in gl ês - por Richard Brody e Colm McCabe -, ambas desautorizadas pelo biografado. Godard também não gostou da biografia de Antoine de Baecque, m as já anunciou que não vai fazer nada para impedir sua circulação. Numa entrevista concedida à revista Les Inrockuptibles, confessa que "percorreu", não leu, o livro, e se aborreceu por sua companheira, Anne-Marie Miéville. "Existe muita coisa falsa (no livro)", diz Godard. E ele também se aborreceu porque integrantes de sua família colaboraram com Baecque, cedendo documentos. Sentiu-se traído.
Aproveitando a estreia de Le Deux de La Vague - e a entrevista a Les Inrockuptibles -, Godard pode ter começado sob o signo de Truffaut, que lhe forneceu a história de Acossado, m as François nunca o perdoou por haver dito, certa vez, que considerava seus filmes nulos. Truffaut sofria, segundo Godard, porque não podia dizer a mesma coisa, que os filmes de Jean-Luc eram nulos. Ele realmente considerava os filmes de Truffaut nulos? "Não mais do que os de Claude (Chabrol)." E fustiga: "Não eram os filmes com os quais sonhávamos (ao iniciar a vague)."
Baecque conta, na introdução, que a biografia de Godard era a tarefa insana que ele prometia a si mesmo, um dia, encarar. Co-autor, com Serge Toubiana, da biografia do outro da "onda" - François Truffaut -, ele explica seu trabalho "jornalístico". Baecque não se encontrou com Godard para o livro. Pesquisou toneladas de textos, análises e entrevist as , às quais somou hor as de entrevistas com familiares e colaboradores. O cinéfilo deve se lembrar que Truffaut foi salvo do reformatório por seu amor pelo cinema (e a dedicação de André Bazin). O garoto Godard roubava.
Antes, é bom falar da família. O ramo paterno, Godard, era pobre (e suíço). O materno, Monod, pertencia à alta burguesia francesa. O avô foi amigo de Paul Valèry e executor do testamento do poeta . Garoto, sem dinheiro, Jean-Luc se apropriou de itens - livros - do acervo de Valèry, que repassou a colecionadores. Descoberto, virou o pária da família e arrastou consigo o pai. Separado da mãe de Godard, ele foi proibido - com o filho - de ir ao enterro, quando ela morreu em consequência de um acidente (caiu e bateu com a cabeça). Quando começou a escrever em Cahiers du Cinema, Godard também as saltou o caixa da revista.
Guevara. Ele sempre contestou a propriedade, a intelectual, inclusive. Gosta de dizer que não existe direito de autor - um autor tem somente obrigações. Film Socialisme surge para resgatar a Grécia de sua crise. Filosofia, democracia, tragédia, tudo veio de lá. Se fosse para pagar royalties, o país estaria salvo. Muito jovem, Godard viajou pela América Latina, fazendo - mais ou menos - o mesmo percurso de Ernesto Guevara, antes de virar o Che. Com a diferença de que começou pelos EUA (Nova York, em 1949). Esteve no Peru, no Chile. Hospedou-se numa pensão em Copacabana. A confrontação com a miséria latina foi decisiva em sua formação. Não foi um bom estudante. E era suicida. Eric Rohmer conta que ele dava de cabeça contra muros e paredes (literalmente).
As mulheres de Godard. A relação com Anna Karina, celebrada em tantos filmes que fazem parte da história do cinema, teve momentos sinistros. Viveram às turr as , tentaram (ambos) se matar. Ele demitiu Isabelle Adjani e fez de Maruscha Detmers a sua Carmem. Descobriu Myriam Roussel durante a filmagem de Passion, em 1982. Escreveu para ela roteiro inspirado na relação de Freud com Dora, sua primeira paciente. Depois, outro sobre incesto. Finalmente, fez Je Vous Salue, Marie, que produziu escândalo.
A vida íntima, familiar e afetiva é um dos eixos do livro. O outro trata do artista. Um revolucionário do cinema como Godard dificilmente poderia reunir a unanimidade da crítica. Viver a Vida e O Desprezo, talvez os melhores filmes do autor, foram mal recebidos. Baecque enumera f as es (da vida e da carreira) - disseca o Godard militante do grupo Dziga Vertov. Uma vida como a de Godard não poderia ser resumida. E o homem é um mito. Antoine de Baecque conseguiu o mais difícil. Dar conta dessa complexidade - e não é que respeite o mito, m as Godard sai maior de seu livro.
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