Zapata e Gramsci em uma Ilha do Caribe
Dois personagens, talvez três, uma história comum, e o que me cabe fazer por um dever de consciência. Os personagens: Emiliano Zapata, e Antônio Gramsci.
Emiliano Zapata, revolucionário que lutou contra uma sociedade proto-capitalista e, em muitos aspectos, feudal e escravagista no México.
Antônio Gramsci, filósofo italiano, dono de uma poderosa verve anti-fascista.
Zapata lutou no México para depor Porfírio Diaz e seu movimento foi o principal responsável pela deposição do regime. Muitos se apoiaram em Zapata para, na verdade, chegarem ao poder. Quando chegaram, buscaram consolidar no México um capitalismo liberal, que não desescravizava os índios, não fazia a reforma agrária e não oferecia serviços públicos à população.
Zapata mantêm seu exército ativo e é assassinado por um dos que se apoiaram nele para chegar ao poder. Quando a morte de Zapata foi anunciada ao então presidente Carranza, este perguntou se o cavalo de Zapata também havia sido morto. E porque será que ele fez esta pergunta ?
Porque por mais que um cavalo não conseguisse organizar um exército, o fato de manter vivo o elemento que traria à memória das pessoas a figura de Emiliano Zapata poderia manter a chama revolucionária acesa.
Cuba é o cavalo de Zapata. O comunismo já não tem nenhuma capacidade de seduzir as novas gerações. O capitalismo e a sua corrida desenfreada pela sociedade do consumo está absolutamente seguro. O comunismo é hoje apenas um utópico sonho de igualdade, e isto é tudo o que permitem que se pense sobre o comunismo: um utópico sonho delirante de igualdade. Por isso, é preciso destruir Cuba, assim como era preciso matar o cavalo de Zapata. Porque Cuba, se viva, poderá mostrar que a coisa não é bem assim.
A ilha já não tem mais condições de responder a toda a sorte de propaganda capitalista que fazem contra ela, desde livros enganosos, bem montados e bem apresentados, o que faz com que se pareçam documentos históricos irrefutáveis, até o patrocínio de blogueiras artificiais, que passaram anos fora da ilha, onde, inclusive, foram absorvidas pelo sistema capitalista para servir de contra propaganda ao governo cubano.
Uma coisa é certa, é preciso destruir Cuba para que não sobre vestígios reais de que um outro mundo poderia ser construído. Um mundo sobre um modo de produção não capitalista, mais humano e solidário. É preciso destruir Cuba, como foi preciso matar o cavalo de Emiliano Zapata.
Antonio Gramsci, filósofo italiano já do século XX nos deixa o seguinte ensinamento:
"A sociedade burguesa sempre deu muita atenção às suas instituições e aos seus mecanismos políticos .... É por isso que a ordem política tornou-se um meio poderoso de reforçar a hegemonia burguesa, de modo que palavras como defesa da República, ou defesa da democracia, ou defesa dos direitos civis e das liberdades unem dominadores e dominados, mas no benefício primordial dos dominadores". (citado por Eric Hobsbawn, no livro Como Mudar o Mundo).
Esmiuçando a frase, fica claro que esta democracia, pretensamente defendida por nós , os dominados, é apenas uma democracia ilusória, pois ela atende, na verdade, aos interesses dos dominadores, ou seja, dos ricos e poderosos.
Falei, no início do texto, do meu dever de consciência, e era tão somente este: tentar mostrar aos mais novos e àqueles que se interessarem, independentemente da idade, as análises e os pensamentos de pessoas que o sistema propositalmente ignora. E ignora no interesse de que você, leitor, possa achar o que eles querem que você ache. Não lhes dão as ferramentas para formar um juízo crítico. Estudar estas coisas, hoje em dia, é fora de moda, não passa na televisão, não vai ser dito pelo William Bonner, e nem você, garoto, vai ganhar nenhuma namorada com este papo, assim como, nenhuma garota vai conquistar algum namorado.
Eles não querem que você leia muita filosofia ou muita história. Querem que você fique na literatura jornalística, nos "romances com base histórica", a partir dos quais eles empurram as suas teses. Quais teses? Algumas. Por exemplo, a tese de que Cuba não presta, de que o cavalo de Zapata tem que ser assassinado, e de que Julian Assange, do Wikileaks, é um sexopata.
Ah... o Julian Assange entra aqui como o terceiro personagem do meu texto que tenta mostrar como se monta esta farsa do capitalismo. Por isso, no início dele, eu escrevi que dois, ou talvez três personagens fizessem parte desta matéria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário