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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O CINEMA E A CONQUISTA DO MERCADO



Estande do Cinema do Brasil no Festival de Berlim do ano passado: programa foi criado em 2006 com o objetivo de ampliar a participação de filmes brasileiros no mercado internacional Divulgação

RIO - A mais recente polêmica do cinema brasileiro envolve carnaval, Copa do Mundo, uma tradicional revista francesa e uma troca de farpas que começou há poucos dias. No centro da controvérsia está uma ação recente do Cinema do Brasil, um programa que existe desde 2006 com o objetivo de ampliar a participação brasileira no mercado internacional. A ação se chama Copa dos Distribuidores e foi criada pelo Cinema do Brasil para premiar empresas estrangeiras que melhor conseguirem posicionar os filmes nacionais em outros mercados.
O problema, para alguns, é o prêmio dado pela "disputa": os vencedores da primeira fase ganharam uma viagem para assistir ao desfile do carnaval 2013,e os da segunda vão receber ingressos para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, além de recursos no valor de R$ 30 mil para ajudar nos lançamentos dos filmes.

Só que a polêmica não começou por iniciativa brasileira. A primeira a criticar a Copa dos Distribuidores foi a revista francesa "Cahiers du Cinéma", uma das mais famosas publicações sobre cinema do mundo. Num artigo publicado no fim do ano passado, intitulado "Samba!" e ilustrado com uma passista seminua na Marquês de Sapucaí, a "Cahiers" afirma que "o texto da proposta (da Copa dos Distribuidores) parece um insulto para programadores e distribuidores". "O que incomoda na iniciativa do Cinema do Brasil é a utilização de maneira ostensiva ao cinema de princípios de marketing usuais nas indústrias não artísticas", diz o artigo.

No mês passado, o texto da "Cahiers" começou a repercutir entre cineastas e críticos. As redes sociais, sempre elas, foram o meio principal para a discussão, mas a questão ganhou mais eco na última semana por meio do post "Más notícias — Degradação do cinema brasileiro", que o diretor Eduardo Escorel publicou em seu blog no site da revista "piauí". Escorel escreveu:
"A falta de tato, além do mau gosto, resulta da ilusão de que o cinema brasileiro possa ocupar espaço no mercado internacional, por menor que seja,graças a incentivos financeiros e outras benesses oferecidas a agentes de venda e distribuidores estrangeiros, esquecendo que decisivo, no caso, são os próprios filmes."

— A gente encara com certo desânimo essa polêmica toda. O programa existe há sete anos, tem 140 associados, são produtores de vários estados do Brasil,veteranos e iniciantes — diz André Sturm, presidente do Cinema do Brasil. — Aí, de repente, uma revista francesa fez um artigo que eu considero ofensivo ao cinema brasileiro, e, em vez de as pessoas se levantarem contra a revista, elas se levantam contra quem está defendendo o cinema brasileiro?
Nossos programas são baseados em experiências estrangeiras, inclusive francesas. Os filmes franceses que são lançados aqui têm apoio do governo francês. Isso é normal. Já a ideia da Copa dos Distribuidores é um incentivo, uma coisa pequena dentro de uma estratégia maior.

A maioria dos recursos do Cinema do Brasil vem da Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Seus investimentos em 2013 somam R$ 2,5 milhões, sendo que 3% desse valor serão utilizados para a Copa dos Distribuidores.

— O cinema é globalizado, temos que tentar exportar nossos filmes. Pensandonisso, o Cinema do Brasil faz bem seu papel. Mas é claro que está sujeito aerros. Só que, acredito, as críticas deveriam ser mais construtivas — diz
Fabiano Gullane, produtor que integra o comitê gestor do Cinema do Brasil. — O que fica claro nessa história da "Cahiers" é que estamos incomodando.
Sempre fomos inundados de conteúdo estrangeiro. Agora fazemos o caminho contrário.

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