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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OLHANDO NA FRENTE



A velhice e o tempo, senhor do destino e da vida

Francisco Bendl (tribuna da imprensa)
A velhice traz conceitos depreciativos e, ao mesmo tempo, alguns predicados que a enaltecem e talvez sejam uma forma de compensar o avanço no tempo. Assim, a velhice se traduz como aquisição de experiência, maturidade, conhecimento, certezas, convicções, discernimentos, escolhas, posições, coragem, maior domínio das nossas emoções e controle do comportamento, capacidade, eficiência…
Por outro lado, acarreta perda de forças, desânimo, indisposições, solidão, abandono, doenças, dores, muitas dores, perda de entes queridos, saudades, e desta forma vamos nos deteriorando…
O tempo é indomável e infinitamente mais forte do que tudo – o tempo, por acaso, é Deus? Mesmo que tentássemos nos aliar a ele, de pouco adiantaria, porque as pessoas morrem, mas ele sobrevive e, escancaradamente, proclama-se senhor do destino e da vida (o mote de algumas religiões que prometem vida eterna não estaria justamente nesta questão de que o tempo é absoluto e nem mesmo Deus pode impedi-lo?).
Não quero ser herege, mas não consta na Bíblia ou qualquer outro livro de importância religiosa que alguma vez Deus tenha feito parar o tempo, ao contrário, criou a tudo e a todos no tempo de seis dias e no sétimo, descansou.
O tempo passa para todos, na velhice poucos estão preparados para enfrentá-lo. Sobretudo aqueles despojados de saúde ou sem reservas econômicas, condições confiscadas pelas circunstâncias ou desatinos pessoais – ah, se a juventude soubesse, se a velhice pudesse!
Estando desprotegido para enfrentar seu ocaso, o homem se vê à mercê dos acontecimentos que o tempo irá lhe proporcionar (doenças e dificuldades) e ocasionar (desilusão, desencanto, depressão).
Mensurar este prejuízo físico e mental que o tempo nos cobra é impossível (e ainda dizem que existe o inferno?!). Tentar estabelecer uma justificativa para este tempo que conduziu o ser humano a um tipo de existência moldado pela adversidade econômica, social e mental (ou uma dessas ou todas juntas) seria o mesmo que definir a dor, todos os tipos de dor, e o que é o tempo, todos os exemplos de ganho e perda de tempo.
Lembro um passado que poderia ter sido diferente e melhor, que eu reunia condições de realizar, mas não consegui! Aos 63 anos, verifico estar deficiente em vários aspectos: por não ter ido melhor no passado, não pude construir as bases necessárias que me suportariam na velhice, agora é tarde!
Se pudermos refletir sobre as eras da convivência humana, certamente afirmaríamos que a infância é estar com a família, unidos, protegidos; A maturidade é a amizade, o trabalho, o convívio social. Mas, a velhice, ela se torna antissocial, isolamento, asilos, esquecimento, falta de companhia…
O tempo não permite retornos, este verdugo insensível! Não me resta alternativa a não ser pensar: nós existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós? Oscar Wilde dizia que, “a tragédia da velhice consiste não no fato de sermos velhos, mas sim no fato de ainda nos sentirmos jovens”.

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