Niemeyer, Vinícius de Moraes, sendo filmado por Jose Sette com Carlos Figueredo observando na Estrada das Canoas onde fica a bela casa projetada pelo arquiteto famoso.
SOBRE NIEMEYER
por Paulo Laender
Numa manhã ensolarada de verão o “Nash Coupé conversível modelo 1953”,
com sua capota arriada, corria pela av. Antonio Carlos.
Ao volante meu tio, o saudoso jornalista Wilson Frade, nos conduzia em
direção à Pampulha, ao “Yatch Tenis Club”.
Sentado no banco de couro cinza eu, entre 7 e 8 anos de idade, viajava
maravilhado em tanta novidade.
Uma vez no clube, entre a piscina e o ancoradouro, belas mulheres em
seus maiôs Catalina, chapéus e óculos Dior, transitavam entre senhores com
camisas listadas, lenços no pescoço, bonés de comodoro e óculos “Ray-Ban”.
Ao fundo, sobre o espelho da lagoa, deslizavam lanchas e esquiadores
num balé complementado pelos DC3 da Panair em procedimento de pouso no aeroporto
mais à frente.
Era o auge dos chamados “anos dourados”e, naquele momento, na minha
fantasia infantil , eu me achava em “Hollywood”.
Foi então que percebi que este território mágico era um espaço
delimitado por quatro edificações implantadas na orla do traçado sinuoso da
lagoa.
Este conjunto , com seu desenho arrojado, suas curvas e formas
amebóides a mim completamente novos, eram
diferentes, fascinantes, futuristas.
O “Yatch Club”, o antigo Cassino, a Igrejinha , a Casa do Baile e o
contorno da lagoa da Pampulha foram, nesse dia, meu primeiro e marcante
encontro com a obra de Oscar Niemeyer.
Passaram-se mais ou menos quinze anos desde aquele sábado de verão e,
agora, eu me encontrava entre os cinquenta jovens sonhadores que iniciavam o
curso de arquitetura na
faculdade federal à rua Paraiba.
Uma constante unia estes futuros arquitetos: a certeza de que alí
chegávamos, cada um à sua maneira, influenciados e contaminados pela obra de
Niemeyer.
Dentro de cada calouro, e dos outros veteranos que já cursavam a
escola, existia o sonho, o desejo de alcançar a genialidade do mestre.
Niemeyer foi, indiscutivelmente, a influência maior e a grande
inspiração daquela geração de arquitetos.
Mas os anos 60 já eram outros tempos e, em meio a tanto “chumbo”, muitos
sonhos se turvaram e a herança do modernismo brasileiro, expressão até hoje,
máxima e autêntica do nosso “design”, pensamento, arte e cultura, foi combatido
e delegado a um esquecimento compulsório e , finalmente substituido por esta
banal brutalidade progressiva, cuja impos(i)tura nos assola e nos escurece .
Independente disso Niemeyer continuou a produzir e a criar obras
pungentes.
Agora com uma reputação e projetos internacionais.
Passaram-se mais anos, a ditadura esvaiu-se, substituida pelo governos subsequentes: uns desencontrados,
outros mais ainda.
O país vem construindo seu “progresso e identidade” aos trancos e
barrancos , como dizia Darcy Ribeiro.
Niemeyer se tornou um mito, um símbolo, ainda que, muitas vezes
utilizado de maneira oportunista por governantes à busca de uma identidade
Juscelinista a camuflar de progressismo e futurismo gestões medíocres,
conservadoras e oligárquicas.
Frequente motivo de críticas e discussões entre vários arquitetos de
minha geração, Niemeyer, cujo pensamento nem sempre correspondeu ao resultado
de sua criatividade, continuou a produzir projetos, senão marcantes mas, com sua assinatura
indiscutível.
Queiram ou não, alguns, mas ele foi o
mestre.
O nosso Arquiteto Maior.
Devemos a ele o fascínio pela profissão e o renome da arquitetura
moderna brasileira.
Talvez o problema com Niemeyer tenha sido sua longevidade que o manteve
há mais de sete décadas no topo, e ainda criando, fato que se tornou um
incômodo à sucessão.
Mas o indiscutível na balança avaliadora de sua obra é que, entre
acertos e desacertos, prevalecem aqueles, em números arrasadores.
Hoje Niemeyer se foi.
A história, como sempre, nos
mostra que o permanecente é a obra, não tanto as particularidades do autor.
E, dentre o pensamento do homem de esquerda que buscou, pela igualdade
entre todos, esta falácia ilusória que a
falência das experiências Marxistas vem desmanchando com o tempo, sua obra
emerge contraditoriamente exuberante a revelar a curvatura, expressão inequívoca
do nosso lado emocional/visceral, cuja performance nos libertou possibilitando
um campo criativo imensurável dentro da nossa natureza barroca.
Com toda a gratidão pelas revelações a nós repassadas
Adeus Mestre
Paulo Laender (Arquiteto,Escultor,Designer)
dezembro de 2012
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