Estava de volta ao meu barco no ancoradouro de Búzios. O mar estava menos agitado. Tomei uma bebida mais forte, ascendi o meu charuto e fui assistir a um filme no computador que tenho no barco. Solaris (Solyaris, URSS, 1972), de Andrei Tarkovsky. Confesso que gosto muito quando vejo o homem sonhando em conquistar o espaço, buscando o desconhecido. Um filme de ficção científica era a melhor pedida para essa noite. Solaris, com seus personagens em uma nave estacionada no espaço, envolvidos com um planeta vivo, que transforma metafisicamente suas mentes, era um prólogo de tudo que poderia acontecer. Demóstenes gostava desse filme também. Talvez tenha imaginado toda essa farsa inspirado no filme. O domínio e o poder da mente humana não têm limite. Como eu me parecia com ele. De manhã tenho que achá-lo... Vai ser desagradável esse encontro. Eu posso sentir a atmosfera densa invadindo a cidade. Vou precisar de um novo disfarce.
Soa a campanhinha da porta.
Gabriel:
- Quem será a essa hora?
Na sala da casa, Gabriel abre a porta para Marcos entrar apressado. Ele vai apressado até onde o velho está sentado com seu capacete e fala para Demóstenes.
Marcos:
- Pai! O Gabriel me falou que um milagre aconteceu aqui nessa casa, nessa noite, pois é, vamos, fala! Eu estou esperando...
Gabriel:
- Esperando o quê?
Marcos:
- O milagre!... Vamos pai! Fala comigo... Anda velho mitômano, fala uma mentira que seja...
Demóstenes:
- Estou com fome... Não tem nada para comer aqui nessa casa Gabriel? O que é que você quer comigo?
Marcos:
- Caralho! Você falou! Meu pai!
Demóstenes:
Pare com esse melodrama Marcos, não tem milagre nenhum... É como dizem lá no interior: - Ele esta recebendo a visita da saúde...
Marcos:
- Que bom papai que você voltou... Tenho tantas coisas para lhe dizer que nem sei por onde começar... Sei sim! Pra começar tire esse capacete ridículo da cabeça...
Julio e Mariana procuram pelas ruas da cidade um hotel, uma pousada, para passarem a noite.
Julio:
- Até agora eu não consegui entender o que esta acontecendo, acho que você tem que me dar uma explicação.
Mariana:
- Explicar o quê? Vamos amanhã a noite entregar uma encomenda...
Julio:
- Encomenda! De noite em uma praia deserta?
Mariana:
- Sim! Era necessário, além do mais o mensageiro não quer aparecer...
Julio:
- Mensageiro?... Olha! Esse hotel parece simpático, você não acha?
Julio encosta o carro na porta do pequeno hotel. Os dois saem do carro e entram na recepção.
Na casa de Gabriel, o seu pai tem o seu comportamento quase normalizado, um milagre, sem dúvida. De capacete, esperto, ágil, levantando-se com um pulo da cadeira, ele passa a andar na sala. Excitado, gesticulando muito, ele sai falando sem parar para os dois filhos atônitos.
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