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terça-feira, 13 de abril de 2010

CONTO

Fui primeiro na casa do professor e sua bela mulher Mariana. Não os encontrei. A casa estava vazia. Esperei até uma senhora passar por mim e pedi para ela me informar onde estavam as pessoas que ali moravam.
Na casa de Gabriel, Demóstenes está dormindo sentado na cadeira. Ronca a toda pressão de seus pulmões.
Marcos:
- Então é isso que você quer?
Gabriel:
- É isso que eu quero!
Marcos:
- Pela última vez: Gabriel, você não acha que seria melhor, pra ele, uma casa de repouso?
Gabriel:
- Não vou repetir o que disse, mas se você tem ainda alguma dúvida, pergunte a ele.
Marcos:
- Perguntar pra ele?
Gabriel:
- Sim! Quem sabe ele te responde... Costuma acontecer. Vamos, tente!
Marcos:
- Papai... Papai!... Você está me ouvindo? Sou eu, seu filho Marcos! Se tiver me ouvindo me responde, faça alguma coisa... Mexa com a cabeça; levanta o braço; as pernas... Peida então, seu velho broxa, pelo menos mostra-nos que está vivo!
Gabriel:
- O que é isso Marcos? Está perdendo o controle? O respeito?... Olha a cara dele de pavor, ele está te entendendo... Ouça com atenção! Ouviu?...
Marcos:
- Ele falou?
Gabriel:
Ele peidou! Marcos, ele peidou! ... Ele te respondeu, com um belo e sonoro peido! Você não ouviu? Deve estar surdo! Você está agora satisfeito?
Marcos:
- Estou satisfeito e de saída Gabriel, se ele voltar a falar, coloque-o no telefone! Vou para casa... Estou de saco-cheio.
Marcos que está saindo se vira abruptamente dizendo para Gabriel:
- Não me leve a mal por tudo que eu disse, mas com a sua posição intransigente você me obriga a tomar medidas legais, pensa bem sobre isso e me telefona amanhã...
Está anoitecendo. Mariana e Julio chegam a uma praia deserta. Julio pára o carro. Ambos ficam observando o mar de dentro do carro.
Demóstenes está em sua fazenda com os dois filhos e Mariana.
Demóstenes é admirado pela mulher e o filho mais novo Gabriel. Marcos está ouvindo o que o pai fala, mas se coloca distante dos três.
- Outro dia descobri uma coisa fantástica. Descobri a diferença entre a velocidade absoluta da luz no cosmo e a velocidade convencional dos objetos na terra. Vocês podem imaginar a minha alegria ao compreender essa complexa equação em uma analogia simples de viagem no espaço-tempo vista por dois observadores distintos?
Não?... Chega mais perto que eu vou explicar para vocês: Fingem que você Gabriel tem para si a velocidade da luz e que você Marcos a de um carro possante. Os dois resolvem fazer uma viagem aqui da fazenda até São Paulo. Marcos e o seu possante carro levariam cerca de seis horas para cobrir todo percurso. Gabriel explodiria o seu canhão de luz em direção do espaço. A sua luz, depois de seis horas de viagem, rebatendo em planetas e satélites, chegaria a São Paulo, ao mesmo tempo em que o carro de Marcos ali também chegava. Mas há ai uma extraordinária diferença, nunca antes pensada por mim. Embora Marcos demorasse às seis horas, sentado, esperando São Paulo chegar, para Gabriel, no facho de luz, o tempo de seis horas não haveria de passar, era como São Paulo já estivesse lá, a sua espera. Por isso que qualquer viagem que se faça perto da velocidade da luz, o tempo da saída é o mesmo da chegada, ou seja: tempo zero. Mesmo que para esse hipotético trajeto fossem necessários milhares de anos, o espaço-tempo continuaria sendo o mesmo zero. Vocês não acham incrível esta afirmação?

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