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quinta-feira, 15 de abril de 2010

CONTO

Leitores! Tenho dúvida se os sábios desse mundo conseguiram entender o processo da existência nas suas mais simples reflexões. A grande força da vida começa e segue o seu caminho pelo desejo, esta aspiração humana que impulsiona e transforma os sentimentos e que provoca o corpo para a ação e o crescimento.
É o desejo do “sciens” que coloca Demóstenes à frente dele mesmo.
Do desejo, que eleva o saber, surgem infinitos estímulos repletos de provocações; surgem vontades incontidas; surgem acontecimentos circunstanciados e inimagináveis. Dos infinitos desejos de tudo que se quer tem - porque neste mundo, não se pode ter tudo que se quer ter - o homem, ao passar pelos caminhos da existência, no processo complexo da transformação, onde tudo nele esteja equilibrado, sem saber, provoca o justo efeito da criação da matéria incólume, deixa-se perdido na terra, onde é o guardião da natureza e descobre que esses inúmeros desejos precisam ser orientados para o nada ter.
Ele sabe que para se chegar ao não ser é preciso estar debruçado na boca da noite, boca que engole o mundo todo, antropofágica, devoradora dos vícios e das virtudes, dos males incuráveis da civilização, antes que desejos inconfessos provoquem distúrbios belicosos incontroláveis.
Pensava assim enquanto caminhava até a casa do filho mais novo de Demóstenes. As pessoas espantadas me olhavam pelas ruas. Estava eu muito fantasiado?
Demóstenes acorda do sono sentado na cadeira da sala. Gabriel está na cozinha comendo um pedaço de pizza, Ele oferece um pedaço ao pai.
Demóstenes:
- Não, não tenho fome...
Gabriel:
- Agora pouco você só tinha fome e agora... Preciso telefonar par o Marcos contando a ele as novidades...
Demóstenes:
- Gabriel, por favor, deixe as novidades para mais tarde... Esse é um momento único no planeta, nós vamos ter ciência do que realmente está acontecendo no nosso tempo...
Gabriel:
- Demóstenes, sobre o que estamos falando?
Demóstenes:
- Sobre o espaço e o tempo.
O telefone toca na sala. Gabriel atende.
Demóstenes levanta da cadeira e anda com dificuldade até a cozinha.
Demóstenes:
- É o seu irmão no telefone, não é?
Gabriel:
- Ta tudo bem Marcos... Vamos todos dormir... Ele está na cama dormindo... Não se preocupe, mantenho você informado... Boa noite!
Demóstenes:
- Gabriel você se lembra daquele capacete da II Guerra que eu tenho no meu quarto, aquele que está dependurado no cabide, pegue ele para mim, eu vou lhe contar hoje uma história de arrepiar os cabelos...
Gabriel:
- Demóstenes você acordou com as baterias carregadas de pura energia... Ninguém vai acreditar quando eu contar para o Marcos, Mariana e para o Doutor Zomadoni o que aconteceu com você...
Demóstenes:
- O Doutor estará aqui em pouco tempo e você vai poder contar tudo para ele... Vamos! Apresse-se e traga-me logo o capacete.
Gabriel volta com o capacete na mão.
Demóstenes, excitado, coloca o capacete na cabeça. Fecha os olhos e começa a contar a sua história.
Demóstenes:
- Gabriel, este capacete eu comprei quando viajei com sua mãe ainda grávida de você...
Viajávamos pelo norte da áfrica. Estávamos em Agadir, no sul do Marrocos. Preparávamos para um passeio no deserto do Saara. Saímos para comprar mantimentos e na rua entramos em um cubículo onde se vendia de tudo, foi quando eu vi dois capacetes de soldado alemão em cima de um balcão. Peguei um e o coloquei na minha cabeça. Fiz uma cara feia e com um pente fino fiz o bigodinho de Adolfo e saudei sua mãe com o cumprimento nazista. Ela riu da minha palhaçada. Mas os árabes não acharam graça e eu tive que oferecer um bom dinheiro para ficar tudo em paz - O soldado dos capacetes havia matado umas pessoas na cidade e ele era amaldiçoado - Levei os capacetes, além de tudo eu me sentia bem quando o colocava na cabeça. Fiz todo o passeio no deserto com ele. Foi em uma noite, quando íamos dormir em uma tenda de um Oasis no deserto que eu senti e depois ouvi estranhas vozes ressoando em minha cabeça. Mas em verdade quando eu queria me comunicar melhor com as pessoas eu colocava aquele capacete e pedia para pessoa colocar o outro. Era uma sensação inenarrável.

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