QUANDO
A POLÍTICA É INEVITÁVEL
LUIZ
CARLOS MACIEL
Já
escrevi outras vezes, que, de jeito nenhum, a Política pode ser considerada uma
das mais nobres manifestações da atividade humana. Pelo contrário: é das mais
rasteiras. Não pode ser comparada às manifestações superiores do espírito
humano, como a Arte e o Pensamento que sondam, cada um à sua maneira, o abismo
do Ser, o próprio sentido de nossa presença neste Universo supostamente físico,
a maravilha e o terror do ser humano. Nada disso. A Política, nem Arte nem
Ciência, é apenas um trabalho que responde à necessidade primária de
simplesmente arrumar a casa, ou seja, nosso espaço físico. Foi uma suposta solução
criada pelos gregos para organizar a Polis, a cidade, sendo esta, aliás, uma
invenção que alguns apontam como simplesmente desastrosa, um acúmulo excessivo
de gente num espaço exíguo, situação que estimula a fofoca, a inveja, a falta
de higiene, a imundice e, em consequência, a enorme variedade de doenças
físicas e psíquicas que, aparentemente, pelo passar do tempo, só aumentam em
número e gravidade. A Política é pobre pela própria natureza. Certos espíritos
superiores, na sua juventude, tendem a simplesmente desprezá-la, achando que a
tal arrumação da casa poderia ser entregue satisfatoriamente a cérebros
inferiores. Aconteceu, por exemplo, com Jean-Paul Sartre; ainda muito jovem
revelou-se um grande artista – ficcionista e dramaturgo – e, ainda por cima, um
grande filósofo. Ignorava a política. Foi preciso uma guerra mundial e a
dolorosa situação de prisioneiro para que ele percebesse a necessidade da ação
política que ele passou a exercer, com energia e inteligência, até o fim de sua
vida, na velhice. Enfrentou a atividade política com sua pletora de cérebros
inferiores, suas intrigas incessantes (o poeta Allen Ginsberg apontou na fofoca
pura e simples a essência da atividade política), suas traições repugnantes
(como a recente, entre nós, do Michel Temer), seus conchavos e suas mentiras
deslavadas e totalmente comprometidas com objetivos inconfessáveis pela posse
do poder (como acontece com a maioria absoluta dos políticos profissionais).
Sartre reconheceu que, infelizmente, a Política é inevitável como, aliás, está
acontecendo agora em nosso País. A iminência da consumação de um Golpe, seja na
forma da falsificação de um impeachment absurdo da Presidente de República,
tanto no Legislativo quanto no Judiciário, ou em qualquer outra forma venal que
se apresente, é uma circunstância que deve ser enfrentada por todo cidadão
decente. Eu não poderia me omitir, em que pesem todas as palavras que abrem
esse texto. Enganam-se os que acham que eu mudei, de minha juventude para cá.
Ao contrário, tanto meu pensamento quanto minha posição em relação à
contracultura só se aprofundaram. Não sou, nem nunca fui, o guru da
contracultura, expressão que considero ridícula porque é uma contradição em
termos. Sou, como sempre fui, um homem livre e tenho minha maneira livre de ver
e optar. Agora, no caso, contra o Golpe. A favor da Democracia. Dilma fica
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