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domingo, 10 de março de 2013

NOVO CINEMA


UM FILME 100% BRAZILEIRO

Estou postando no Youtube e aqui no kynoma o meu filme mais premiado e o único, em toda a minha cinematografia, que consegui realizar com algum dinheiro, uma baixíssima produção (em torno de 100 mil dólares). Todo esse dinheiro foi praticamente doado pela extinta Embrafilme. É bom que se diga que esse filme só foi possível ser pensado e feito graças à admiração de um dos seus diretores, à época, o paulista Carlos Augusto Calil, pelo poeta Cendrars e também pela minha insistência em transformar o que seria a princípio um curta sobre o personagem Febrônio Índio do Brasil e seu envolvimento com o poeta francês, em uma longa metragem sobre o poeta francês e seu envolvimento com o modernismo brasileiro.
As primeiras cenas filmadas foram com Febrônio, o primeiro preso do manicômio judiciário do Rio de Janeiro, representado pelo ator Jesus Pingo, irmão do ator PC Pereio, que no filme representa Blaise Cendrars. Ao seu lado caminha o demônio representado pelo ator Wilson Grei. Só depois é que filmei as outras duas histórias, Coronel Bento, Lobisomem de Minas e toda a trama modernista, dionisíaca, expressionista, que compõem esse grande poema cinematográfico - não tenho vergonha em dizê-lo: é o meu melhor filme e não consigo vislumbrar nada melhor, mais significativo, mais visionário no cinema, do que esse filme que foi tão difícil de ser realizado e em todos esses anos boicotados. Em suas poucas exibições, este filme simples, popular e de pouquíssimo entendimento, deveria e merecia ser mais bem lembrado por aqueles que gostam de cinema.

O Filme foi Premiado no I Rio Cine Festival, como a melhor produção e a melhor linguagem cinematográfica. Premiado no I Festival de Cinema de Fortaleza, como a melhor cenografia e foi Convidado para o Festival de Cinema de Berlim na Alemanha em 1987.

Eis aqui, por um breve momento, em homenagem aos amigos que mais cedo partiram para o outro lado da lua, o filme que todos amam, mas que dificilmente conseguem confessar de pronto esse amor doído por 100% dos brasileiros.

Nossa história é uma ficção modernista sobre a vinda ao Brasil do grande poeta e aventureiro francês Blaise Cendrars, que amou a nossa terra mais do que ninguém, durante o carnaval do Rio de Janeiro em 1924. Aqui ele escreve um livro contando três histórias: Febrônio Índio do Brasil; O Lobisomem de Minas; Coronel Bento, que neste filme são retratadas, reescritas, em textos cinematográficos.

É como escreveu Jose Tavares de Barros, crítico e professor de cinema na UFMG para a revista Cadernos de Cinema...
“... Um filme 100% Brazileiro é uma experiência avançada e revolucionária, tanto no que diz respeito à releitura da obra de Cendrars, quanto às inúmeras facetas da transposição cinematográfica... é uma espécie de divisor de águas, fazendo ponte entre certas heranças do Cinema Novo e alguns aspectos do cinema de Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, mas com total autonomia e independência por parte de seu autor.”

...Ou o crítico de cinema Aramis Millarch no jornal O Estado do Paraná...
“Obra experimental, difícil, mas importante... Um Filme 100%Brazileiro é uma obra belíssima. Uma fotografia caprichada, perfeita cenografia e uma trilha sonora de Luiz Eça (Tamba Trio) que tranquilamente merecia ser premiada nos festivas em que o filme foi exibido...”

… Mas a Films Reviews, Variety, dos EUA, em 1987 disse ao ver o filme em Berlim:
“…Sette plunges the viewer from one exotic scene into the next, filling his film with visual and literary references which will be lost on many”.

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