UM FILME 100% BRAZILEIRO
Estou postando no Youtube e aqui
no kynoma o meu filme mais premiado e o único, em toda a minha cinematografia, que
consegui realizar com algum dinheiro, uma baixíssima produção (em torno de 100
mil dólares). Todo esse dinheiro foi praticamente doado pela extinta Embrafilme.
É bom que se diga que esse filme só foi possível ser pensado e feito graças à
admiração de um dos seus diretores, à época, o paulista Carlos Augusto Calil, pelo
poeta Cendrars e também pela minha insistência em transformar o que seria a
princípio um curta sobre o personagem Febrônio Índio do Brasil e seu
envolvimento com o poeta francês, em uma longa metragem sobre o poeta francês e
seu envolvimento com o modernismo brasileiro.
As primeiras cenas filmadas foram
com Febrônio, o primeiro preso do manicômio judiciário do Rio de Janeiro,
representado pelo ator Jesus Pingo, irmão do ator PC Pereio, que no filme representa
Blaise Cendrars. Ao seu lado caminha o demônio representado pelo ator Wilson
Grei. Só depois é que filmei as outras duas histórias, Coronel Bento, Lobisomem
de Minas e toda a trama modernista, dionisíaca, expressionista, que compõem esse
grande poema cinematográfico - não tenho vergonha em dizê-lo: é o meu melhor
filme e não consigo vislumbrar nada melhor, mais significativo, mais visionário
no cinema, do que esse filme que foi tão difícil de ser realizado e em todos
esses anos boicotados. Em suas poucas exibições, este filme simples, popular e de
pouquíssimo entendimento, deveria e merecia ser mais bem lembrado por aqueles
que gostam de cinema.
O Filme foi Premiado no I Rio Cine Festival, como a melhor produção e a
melhor linguagem cinematográfica. Premiado no I Festival de Cinema de Fortaleza,
como a melhor cenografia e foi Convidado para o Festival de Cinema de Berlim na
Alemanha em 1987.
Eis aqui, por um breve momento, em homenagem aos amigos que mais
cedo partiram para o outro lado da lua, o filme que todos amam, mas que
dificilmente conseguem confessar de pronto esse amor doído por 100% dos
brasileiros.
Nossa história é uma ficção
modernista sobre a vinda ao Brasil do grande poeta e aventureiro francês Blaise
Cendrars, que amou a nossa terra mais do que ninguém, durante o carnaval do Rio
de Janeiro em 1924. Aqui ele escreve um livro contando três histórias: Febrônio
Índio do Brasil; O Lobisomem de Minas; Coronel Bento, que neste filme são
retratadas, reescritas, em textos cinematográficos.
É como escreveu Jose Tavares de
Barros, crítico e professor de cinema na UFMG para a revista Cadernos de
Cinema...
“... Um filme 100% Brazileiro é
uma experiência avançada e revolucionária, tanto no que diz respeito à
releitura da obra de Cendrars, quanto às inúmeras facetas da transposição
cinematográfica... é uma espécie de divisor de águas, fazendo ponte entre
certas heranças do Cinema Novo e alguns aspectos do cinema de Júlio Bressane e
Rogério Sganzerla, mas com total autonomia e independência por parte de seu
autor.”
...Ou o crítico de cinema Aramis
Millarch no jornal O Estado do Paraná...
“Obra experimental, difícil, mas
importante... Um Filme 100%Brazileiro é uma obra belíssima. Uma fotografia
caprichada, perfeita cenografia e uma trilha sonora de Luiz Eça (Tamba Trio)
que tranquilamente merecia ser premiada nos festivas em que o filme foi
exibido...”
… Mas a Films Reviews, Variety, dos EUA, em 1987
disse ao ver o filme em Berlim:
“…Sette plunges the viewer from one exotic
scene into the next, filling his film with visual and literary references which
will be lost on many”.
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