Emiliano Sette
O Japão tá no lado oposto
do mapa
O Sol aparece lá e a Lua resplandece cá
Queria beber saquê pra ver se saco a paciência e
disciplina nipônica
Vou ver se amarelo
Não quero mais o despautério
Vou pra Sampa fazer um Samba na Liberdade
Chega de balneário carioca
Farei minha oca em plena Paulista
Não mudarei de ideia, não insista
Quero mudar de país sem sair do Brasil
Paulicéia me aguarde
Novo bandeirante dando bandeira na cidade
A VELHICE PEDE DESCULPAS
Cecília Meireles
Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.
Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.
Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.
Cecília Meireles, in ‘Poemas” (1958)
Conheci Roberta Pires quando
morei em Juiz de Fora. Filmei com ela alguns dos meus filmes produzidos na
cidade. Em um ela foi produtora e no filme onde falo do memorialista Pedro Nava,
ela foi atriz. Era uma menina encantadora, pena ter nos deixados tão cedo e de
uma maneira tão dramática. Esses poemas são as últimas coisas que dela recebi.
8 TENTATIVAS
Roberta
Pires
Filha
de carioca com sanjoanense, nasci em Tiradentes em 82. Fui acolhida por Juiz de
Fora em 85 e solta em Paris em 2007 onde atualmente faço mestrado em sociologia
na Sorbonne - Paris V. Nesse meio tempo rabisquei muito papel... uns foram
rasgados... outros guardados... outros embriagados... muitos perdidos. Dentre
eles, dois foram premiados e publicados pela Feeling Cards, alguns outros
integraram o fanzine URGH! E para os leitores dos três pontos deixo agora 8
tentativas de vôo. Boa sorte.
CONTEMPORANEIDADE
o desespero do desempregado
é não ter tempo pra nada
JUIZ DE FORA ALTO BAIRÚ
O tempo chorava lá fora
E aqui dentro só se ouvia a voz do piano por papai
Nenhuma nota vermelha
PARIS 2008
ah! a vida...
às vezes muda
às vezes grita
PRIMEIRA TENTATIVA
a riscar
a vida
arriscar
a vida
há risco
há vida
arrisco
a vida
risco
RUA CONGONHAS C/
CARANGOLA
o lampião na entrada da casa construiu minha história cheia
de expectativas.
era quando eu, criança, vinha a ter com ele aceso.
não raro, apagava, só pra ficar sozinha com as estrelas.
ou talvez pra esperar mamãe desesperada:
acende isso menina!
no início, a brincadeira se estendia em porradas e lágrimas.
depois, curtindo o medo, voltava com a luz e imediatamente
fechava os olhos.
nesse momento, vivia minha maior independência de menina.
sabia que ninguém conseguiria apagar as estrelas que nasciam
no céu da minha boca.
era assim que eu assassinava mamãe um pouquinho todo dia.
ela nunca soube disso.
e eu não sabia que junto com ela
estava indo o medo, a brincadeira, o lampião, as estrelas.
as lágrimas não,
ainda que de olhos fechados.
SEGUNDA TENTATIVA
... corro.
o ponto final é você
ÚLTIMA TENTATIVA
fuDeus
Um comentário:
Gosto de tudo o que Roberta escreveu. A conheci bem de perto. Vc por um acaso tem o filme em que ela atuou? Gostaria de ver.
marianaa.coutinho@hotmail.com
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