ANGELI - O Cartunista do Caos
Assisti com muita atenção ao filme da mineira de Montes Claros, hoje vivendo no Rio, sobre o cartunista paulista Angeli e seu extraordinário trabalho na arte do desenho e da prosa urbana expressa em seus singulares personagens.
O filme “Angeli”, que eu vi em um DVD e me foi gentilmente presenteado pela diretora/produtora/fotógrafa/colecionadoras de peças incontáveis da arte brasileira, Beth Formaggini, me emocionou profundamente, pois sou admirador, embora casual, de tudo que eu já havia visto e lido desse grande artista brasileiro, sem jamais ver o seu rosto, sem nunca imaginar como seria a sua pessoa e muito menos o seu personagem. Não conseguia vê-lo como também nunca consegui descobrir o rosto do enigmático Crumb.
Naturalmente para mim o primeiro impacto foi ver o rosto do Angeli. Ora! Surpresa! Que figura simpática, desprovido da vaidade de se saber grande, ele abre, ou melhor, rasga o seu coração para o público observador, falando sentado em uma mesa de bar e envolto por todo o seu universo onírico espalhado em grandes ampliações em preto e branco por todo o estúdio onde as cenas foram feitas. Resultando uma projeção espetacular de perspectivas e contrastes muito bem capturados pela correta fotografia em digital do paulista Cleisson Vidal e muito bem editada pela Joana Collier e Thais Blank.
A grandeza deste filme está no ar despojado do artista do traço torto e da cidade reta, opressora e soturna, no que ele retrata em finas pinceladas, muito bem editadas em sua complexidade narrativa, revelando-nos uma beleza futurista, preto, branca, às vezes cinza, sem cor, exacerbando a perspectiva graficamente perfeita na composição cênica de um filme de estúdio com esse genial artista envolto em suas tirinhas projetadas de desenhos como se fossem telões expressionistas vistos por ângulos retos de uma câmera de retrato lambe-lambe, isto é: fixa; imóvel, mas sem ser acadêmica, déjà-vu.
Lembrei-me muito do meu filme sobre Goeldi.
As imagens que justificam o subtítulo 24 horas, embora possuam um enquadramento deslumbrante da paulicéia desvairada, são na minha concepção estética, repetitivas, quase obsessivamente, o que é bom no contexto da narrativa. Mas quanto à somatória de todos os planos de efeito retira o tempo-espaço do artista, que neste registro cinematográfico nos dá um show de interpretação e presença, perdemos a magia da vida, representada pelo estúdio do cenário expressionista, trocando-a pelo realismo acelerado e frio da metrópole, confrontando-nos em busca do equilíbrio perfeito entre o cenário e a ação em um só momento, nos fazendo sentir à ausência carismática de Angeli, nem que seja por alguns minutos, quando se mostra fotograficamente (o fundo neutro no primeiro plano da ação) as veias pulsantes da cidade observada criativamente da sua prancheta de desenho onde ele se debruça, não só às 24 horas do subtítulo, mas toda uma vida.
Quero dizer algo sobre a trilha: ouvindo novamente o filme pude, muitas vezes, compreender o virtuosismo do guitarrista e do percussionista, ambos em um free-rock, se posso assim chamar, criando climas cinematográficos de grande beleza em 24 minutos de uma trilha alucinada que não acaba, é cíclica, como o ir e vir dos movimentos das luzes dos veículos sobre o viaduto... Algumas vezes sensacional e outras “caliente”, quando esquentam as cenas externas, mas não a usaria no texto da paixão pelo rock mesmo sublinhado pelo solo profundo da guitarra histérica. Não levaria o som (ruído surdo) da cidade para dentro do estúdio, é por isso, pelo ruído surdo de uma grande metrópole que o som do rock deve ser ouvido bem alto. A trilha, eu penso, não deve nunca competir com a imagem mas sim exaltá-la, dignificá-la.
Mas isso, minha cara diretora, só são pequenos detalhes críticos, minúcias que devem ser lidas de um artista para outro artista. Artista que não quer ser crítico, pois na verdade sempre quando assisto aos meus próprios filmes, autocrítico e obstinado que sou, eu penso sempre refazer algumas pequenas coisas que vejo com binóculos afinados, assim Beth, amante do bom cinema, pode ter certeza, tenho a maior simpatia pelo filme que você fez e creio que esta obra, este documento fundamental a nossa história, deveria ser premiado, em todos os festivais de cinema que ele venha a participar, com o melhor roteiro, com o melhor ator, com o melhor cenário, com a melhor fotografia e sem dúvida nenhuma, com a melhor direção.
Assisti com muita atenção ao filme da mineira de Montes Claros, hoje vivendo no Rio, sobre o cartunista paulista Angeli e seu extraordinário trabalho na arte do desenho e da prosa urbana expressa em seus singulares personagens.
O filme “Angeli”, que eu vi em um DVD e me foi gentilmente presenteado pela diretora/produtora/fotógrafa/colecionadoras de peças incontáveis da arte brasileira, Beth Formaggini, me emocionou profundamente, pois sou admirador, embora casual, de tudo que eu já havia visto e lido desse grande artista brasileiro, sem jamais ver o seu rosto, sem nunca imaginar como seria a sua pessoa e muito menos o seu personagem. Não conseguia vê-lo como também nunca consegui descobrir o rosto do enigmático Crumb.
Naturalmente para mim o primeiro impacto foi ver o rosto do Angeli. Ora! Surpresa! Que figura simpática, desprovido da vaidade de se saber grande, ele abre, ou melhor, rasga o seu coração para o público observador, falando sentado em uma mesa de bar e envolto por todo o seu universo onírico espalhado em grandes ampliações em preto e branco por todo o estúdio onde as cenas foram feitas. Resultando uma projeção espetacular de perspectivas e contrastes muito bem capturados pela correta fotografia em digital do paulista Cleisson Vidal e muito bem editada pela Joana Collier e Thais Blank.
A grandeza deste filme está no ar despojado do artista do traço torto e da cidade reta, opressora e soturna, no que ele retrata em finas pinceladas, muito bem editadas em sua complexidade narrativa, revelando-nos uma beleza futurista, preto, branca, às vezes cinza, sem cor, exacerbando a perspectiva graficamente perfeita na composição cênica de um filme de estúdio com esse genial artista envolto em suas tirinhas projetadas de desenhos como se fossem telões expressionistas vistos por ângulos retos de uma câmera de retrato lambe-lambe, isto é: fixa; imóvel, mas sem ser acadêmica, déjà-vu.
Lembrei-me muito do meu filme sobre Goeldi.
As imagens que justificam o subtítulo 24 horas, embora possuam um enquadramento deslumbrante da paulicéia desvairada, são na minha concepção estética, repetitivas, quase obsessivamente, o que é bom no contexto da narrativa. Mas quanto à somatória de todos os planos de efeito retira o tempo-espaço do artista, que neste registro cinematográfico nos dá um show de interpretação e presença, perdemos a magia da vida, representada pelo estúdio do cenário expressionista, trocando-a pelo realismo acelerado e frio da metrópole, confrontando-nos em busca do equilíbrio perfeito entre o cenário e a ação em um só momento, nos fazendo sentir à ausência carismática de Angeli, nem que seja por alguns minutos, quando se mostra fotograficamente (o fundo neutro no primeiro plano da ação) as veias pulsantes da cidade observada criativamente da sua prancheta de desenho onde ele se debruça, não só às 24 horas do subtítulo, mas toda uma vida.
Quero dizer algo sobre a trilha: ouvindo novamente o filme pude, muitas vezes, compreender o virtuosismo do guitarrista e do percussionista, ambos em um free-rock, se posso assim chamar, criando climas cinematográficos de grande beleza em 24 minutos de uma trilha alucinada que não acaba, é cíclica, como o ir e vir dos movimentos das luzes dos veículos sobre o viaduto... Algumas vezes sensacional e outras “caliente”, quando esquentam as cenas externas, mas não a usaria no texto da paixão pelo rock mesmo sublinhado pelo solo profundo da guitarra histérica. Não levaria o som (ruído surdo) da cidade para dentro do estúdio, é por isso, pelo ruído surdo de uma grande metrópole que o som do rock deve ser ouvido bem alto. A trilha, eu penso, não deve nunca competir com a imagem mas sim exaltá-la, dignificá-la.
Mas isso, minha cara diretora, só são pequenos detalhes críticos, minúcias que devem ser lidas de um artista para outro artista. Artista que não quer ser crítico, pois na verdade sempre quando assisto aos meus próprios filmes, autocrítico e obstinado que sou, eu penso sempre refazer algumas pequenas coisas que vejo com binóculos afinados, assim Beth, amante do bom cinema, pode ter certeza, tenho a maior simpatia pelo filme que você fez e creio que esta obra, este documento fundamental a nossa história, deveria ser premiado, em todos os festivais de cinema que ele venha a participar, com o melhor roteiro, com o melhor ator, com o melhor cenário, com a melhor fotografia e sem dúvida nenhuma, com a melhor direção.
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