Terceiro Movimento
Vindo da água do mar para o alto vimos, caminhando pelas madeiras do cais. Dois homens conversando: Sérgio e Henri.
Vindo da água do mar para o alto vimos, caminhando pelas madeiras do cais. Dois homens conversando: Sérgio e Henri.
Sérgio:
- Henri, o tempo é teu capital; tem de o saber utilizar. Perder tempo é estragar a vida e você anda perdendo muito tempo camarada.
Henri:
- Sérgio, nós somos amigos desde a infância... Entre muitas outras coisas que trago de ti na lembrança, sobressaiu sua valentia e sua liderança. Tu eras para mim uma janela através da qual eu podia ver as ruas, compreender todo esse mundo de onde viemos. Sozinho eu nada podia fazer e nem entender o que deveria ser feito... Obtivemos algum progresso?
Sérgio:
- Crer-se no progresso não significa que já tenha tido lugar qualquer progresso neste nosso particular mundo... Ainda não nos livramos de tudo que poderia nos comprometer. Os nossos espíritos ainda estão presos no passado, naquele acontecimento macabro...
Henri:
- Sobre isso tenho tido pesadelos horríveis... Vejo a princípio uma floresta. Quando penetro na floresta, nada encontro, e a fraqueza, o medo, logo me força a sair de lá, quando vou deixar a floresta, ouço, ou creio ouvir, os cliques de armas usadas em uma guerra. Sinto que posso ser morto a qualquer momento e que um abismo abre-se a minha frente. É horrível!...
Sérgio:
- O espírito se liberta só quando você deixar de ser um suporte do corpo que cai. Na é o que diz seu pesadelo? Você é um impostor! Henri nós estamos aqui fortes, dominadores. Não vamos mudar os nossos negócios, vamos ampliar o nosso horizonte com a chegada do dinheiro que vem do petróleo. A incitação à luta é um dos meios de sedução mais eficazes do mal. O mal conhece o bem, mas o bem não conhece o mal. Se deixarmos o medo se abater no nosso espírito, ai sim é que estamos perdidos.
Henri:
- Quem procura não acha, mas quem não procura é achado, você não acha?
Sérgio:
- Henri nós vamos mudar o assunto que este seu pesadelo já está virando um filme.
Henri:
- Sérgio, você ainda gosta de cinema?
Sérgio:
- Tanto quanto gosto das mulheres! Mas não gosto de todos os filmes que vejo. Quero filmes que me afete como se um desastre ocorresse. Um filme deve ser como um machado diante de um mar congelado no meu peito. Se o filme que vemos não nos desperta como se levássemos um murro no crânio, para que vê-lo? As mulheres têm para mim essas mesmas características... Uma mulher tem de ser arrebatadora... Henri olha que estamos com sorte neste lugar, trouxemos pra aqui muitas mulheres, vivemos bem, todos juntos, sem traição e ainda com poder de mando, em pouco tempo estaremos todos muito mais ricos...
Henri:
- Sérgio eu não quero riquezas, quero ter a consciência da verdade. A verdade que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Verdade que devemos extraí-la sempre nova do próprio íntimo, caso contrário a falta dela te arruína. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida. Por isso eu luto contra o que resta de mim no mundo da mentira.
Sérgio:
- Em sua luta contra o resto do mundo, aconselho que você se coloque ao lado do resto do mundo.
Henri:
Henri:
- Ainda tenho esperança!
Sergio:
- Há esperanças, menos para nós.
Andando em sentido contrário aos dois amigos vem Iracema serenamente rebolando dentro de sua justa mini-saia e mostrando a sua exuberância de menina travessa.
Henri:
- Você está vendo o que eu vejo?
Sérgio:
- Ainda não fiquei cego!
Henri:
- Encontrei com ela na pousada do Mario agora a pouco...
Iracema fica cara a cara com os dois, olha e fala com meiguice para Sérgio.
Iracema:
- Quem é o Sérgio, eu preciso visitar a Ilha do Farol, você sabe como posso chegar até lá?
Henri:
Henri:
- Eu sou o Henri, ele é o Sérgio. Mas ele não pode resolver o seu problema. Eu posso! Henri, este é o meu nome, muito prazer...
Sérgio:
- Cuidado que ele é perigoso...
Iracema:
- Não sou criança e já posso cuidar de mim...
Sérgio:
- Não falei por mal, é uma brincadeira!
Henri: - Vai para cidade Sérgio que eu vou levar a moça para um passeio de barco e na volta nos encontramos...
Ele não sabe o nome dela e olha para ela em silêncio. Iracema fala então o seu nome completo... Henri continua agora mais galanteador.
Henri:
- Pois é Iracema... Que nome poderoso. Levo você daqui para aonde queiras ir
Iracema:
- Ilha do Farol... É simples...
Sérgio:
- Que dia podemos marcar um novo passeio?
Iracema:
- Agora!
Sérgio:
- Agora?...
Henri:
- Agora?
Iracema:
- Agora sim! Tem algum problema com vocês. Sérgio você também pode vir...
Sérgio:
- Opa! Não posso não! Mas, mesmo assim, obrigado, repasso o convite para mais tarde e quando os dois voltarem do passeio, você venha jantar comigo na Pousada.
Henri:
- Eu também sinto que estou convidado... Você já está pronta? Então vamos para a Ilha do Farol?
Iracema:
- Sim! Vamos Sérgio? Eu te peço! Gostaria tanto que você fosse... Vamos!
Sérgio:
- Não posso! Espero os dois à noite.
Henri e Iracema partem em direção do barco e Sérgio sai em direção da cidade. Nós acompanhamos Sérgio. Antes de chegar à rua principal da cidade ele se encontra com o padre.
Padre:
- Sérgio, eu preciso falar com você... Marcos morreu nesta manhã assassinado no seu carro quando chegava à cidade.
Sérgio:
- O Marcos? Mas o que aconteceu? Foi um assalto? A Polícia já sabe?
Padre:
- Não sabe Sérgio! O Brandão está investigando. Ele está indo a pousada do Mario para fazer averiguações... Eu não estou gostando nada disso... Onde está o Souza? Temos que agir... Você toma alguma medida de urgência, pois afinal quem é o Prefeito desta merda aqui?
Sérgio:
- Agora já não sei! Devemos ir à pousada...
Padre:
- Deus me perdoe, estou perdendo a paciência, mas tem algo de podre no ar...
Sérgio:
- Todas as falhas humanas provêm da impaciência... Vamos falar com Mario, ele saberá, na certa, o que está acontecendo.
Padre:
- Depois de ter dado abrigo ao mal, ele não mais pedirá que você acredite nele...
O Padre e Sérgio se afastam.
Movimento de Passagem
Movimento de Passagem
Cinema mudo (trilha sonora)
Jaci se recupera em um hospital. Na rua, ela já recuperada, mas andando com dificuldade, retorna a casa abandonada onde tudo aconteceu. Visita o seu interior desorganizado. Recolhe alguns apetrechos da sua cozinha e vai se sentar no centro do terreiro onde ascende uma fogueira. Enquanto traça o chão com signos mágicos joga pequenas quantidades de pólvora no fogo. O ambiente se transforma com o brilho dos fogos de salão. Por entre a fumaça aparece Iracema.
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