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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

TEXTO

1971
Lá em Londres,
Onde os exilados se encontram para descobrir a liberdade e as informações perdidas no atraso dos anos da repressão e já se passaram seis de sofrimento e paranóia louca, é inverno, seis graus abaixo de zero. Acordamos com o que restava do sol. No restaurante Green Gens onde descobri que o homem é aquilo que come, li na prateleira entre sacos de arroz integral o extraordinário Tao Té Ching “Se o poder me fosse dado o que mais temeria seria colocar-me em evidência” “Quem acumula riquezas estimula o roubo”. A noite governa o escuro e tenebroso inverno desta velha ilha. A situação, o sexo, a imposição dos descontentes, os insatisfeitos, a fome e a droga, a violência do bairro negro. Covil road, Lancaster road, Portobelo road, eram cenários de um filme de terror em uma viagem sem fim, sem retorno. Eu saco e saqueio valores da moral ocidental. Sangue e Sarro. Desejos. Somos frutos de uma sociedade em formação. Alimentamo-nos de neuroses e fechamo-nos em círculos. Se esta é a civilização que tanto almejamos, sinceramente eu passo. Deixo-a para estes ingleses pernósticos. Só os cegos não vêem o que se passa nesta cidade de fantasmas e de puritanos horrorosos! Não vejo a hora de ir pra Lisboa. Na volta ao hotel, saindo da pensão da Elgin Crest, olhava para o céu escuro e triste e o meu pensamento estava para o infinito assim como as estrelas estão para o cosmo. O tempo não me dá rasteira Estou no espaço à procura do nada do puro e do que não se vê. A palavra chave para sobreviver às mazelas do império é o equilíbrio e a paciência - As teias das aranhas são muitas vezes a expressão do que eu sinto vivendo nesta cidade ilha. O centro é a cabeça, a contemplação, o individual, o eu. O resto, a rede, representa os desejos, as insatisfações, o medo, a fome e o segredo que possuímos no sangue latino que esses aldeões saxônicos jamais descobrirão.

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