O SÉCULO DE TANCREDO NEVES
1910 / 2010
Jose Sette e Mario Drumond
“O Século de Tancredo Neves”, mais do que uma época ou um estilo, é um dos momentos mais ricos da vida brasileira em prática democrática e desenvolvimento integrado do país – Aliás, um momento inigualável.
O século de Tancredo mais que esforço de memória da história, trata-se de busca, capaz de resgatar período ímpar, em que o país, vivendo a plenitude democrática, cresceu num clima eufórico, jamais repetido e que quase morreu nas décadas em que foi gerido pela ditadura militar.
A presença do Presidente Tancredo Neves (1910-2010) na história recente do Brasil tem destaque em três momentos (movimentos) singulares:
Primeiro:
A madrugada de 23-24 de agosto de 1954, quando Tancredo Neves, Ministro da Justiça do Presidente Getúlio Vargas, defende a integridade do governo, já quase deposto, e a resistência ao golpe iminente contra o Presidente, de quem recebe a carta-testamento pouco antes de ele cometer o suicídio...
Segundo:
Com a renúncia do Presidente Janio Quadros (25 de agosto de 1961) e a resistência à posse do vice-presidente João Goulart, que estava em missão diplomática na China. Os jornais exibiam a sua foto com Mao Tsé-tung. Intermediando conversas com o General Ernesto Geisel, chefe da casa militar do presidente Jânio, Tancredo consegue convencer Goulart a aceitar a redução de seus poderes, acolhendo o parlamentarismo. E tomar posse...
Terceiro:
Com a redemocratização do país (anistia, etc.), Tancredo Neves se coloca como a grande alternativa não revanchista para a pacificação dos espíritos e, aliado à dissidência da Frente Liberal (Aureliano Chaves, Marcos Maciel, Sarney, Hugo Napoleão), vence a eleição presidencial no colégio eleitoral. Mas vitimado pela doença, não toma posse.
Abordagem de época a partir do seu nascimento na cidade de São João Del Rey em 1910, passando por todas as histórias da política brasileira, até sua morte em 1985 em São Paulo. Com o início de sua projeção, nos anos 50, Tancredo Neves atravessou quase meio-século da vida pública brasileira. Foi de Ministro do Governo Getúlio (1951), Primeiro Ministro (1961), Governador de Minas Gerais (1982), Senador e deputado federal por 5 mandatos e finalmente eleito Presidente da República, cargo que não chegou a assumir.
Três Frases de Tancredo Neves:
“O mineiro é um político conciliador”
“Mineiro radical, não é mineiro! Mesmo tendo nascido em Minas”.
“O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”
Revendo a História
A manhã do domingo, 21 de abril de 1985, o espírito de Getúlio Vargas parecia ter sido despertado pelos brasileiros com a notícia oficial da morte de Tancredo Neves. Uma explosão popular de tristeza e frustação aconteceu em todo o país, muito semelhante à de 24 de agosto de 1954, assolando os corações e as mentes da nação enfraquecida, Um sentimento de perda, de desamparo, de abandono, acordou a todos os brasileiros com a notícia de sua morte.
A vitória de Juscelino, em 1955, provocou cinco anos de avanços acelerados do país. São fatos importantes onde Tancredo teve decisiva participação: como a consolidação das conquistas trabalhistas pelas massas, inúmeras estatais criadas e fortalecidas, o uso de nossas riquezas naturais em nosso próprio proveito, e a inesperada e fulminante ocupação do território com a incrustação de Brasília no seu centro geográfico.
Getúlio e Juscelino são panos de fundo de especial beleza na história que se quer contar sobre os 100 anos de Tancredo Neves.
Nos anos da abertura política víamos a figura do então senador Tancredo Neves como aquela que teria mais chances de tornar viável o projeto político ansiado pela nacionalidade: o de retomar os trilhos da história do país, construídos a partir da firmeza insubmissa de Getúlio Vargas, expandidos na obsessão libertária de Juscelino Kubstichek, e que poderiam ser enfim consolidados por João Goulart ou por um novo mandato de Juscelino, não fossem os eventos catastróficos de 1964.
No dia da sua posse foi retirado abruptamente de cena para só reaparecer no caixão em que seria enterrado, com todas as pompas e homenagens, no "dia de Tiradentes". Foi então que o povo teve a chance de demonstrar que, se as eleições fossem diretas, ele teria ganhado com folga.
.A posse de Tancredo na Presidência da República seria na sexta-feira, 15 de março de 1985. Brasília estava em festa na noite do dia 14, quando Tancredo foi subitamente internado. Bastam as "coincidências" de datas para denunciar a má qualidade do roteiro, por inverossimilhança, mas isto não preocupava ninguém.
Os trinta e oito dias que se passaram entre 15 de março e 21 de abril, uma quase quaresma de tele-agonia. A Tevê brasileira pontuada de boletins hospitalares, foto-montagem da "recuperação de Tancredo" e transferências de hospitais, foram suficientes para distrair a audiência enquanto se arquitetava o golpe de bastidores para a continuidade da tragédia agora em forma de farsa.
A história só não contava com a presença maciça do povo nas ruas após o anúncio oficial do falecimento. Diante das telas da TV o cortejo fúnebre. Não havia cordões de isolamento nem policiamento no trajeto que ia do hospital até o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que foi tomado de ponta a ponta por um mar de gente inconformada com a tragédia. O mesmo se daria em Brasília, em Belo Horizonte e em São João Del Rei, até a interminável cena final da pá do pedreiro que não acabava nunca o seu trabalho fúnebre.
A morte do mineiro Tancredo Neves marcará para sempre a maior frustração da nacionalidade desde o assassinato oficial por enforcamento de Tiradentes, também num domingo, em 21 de abril de 1792.
1910 / 2010
Jose Sette e Mario Drumond
“O Século de Tancredo Neves”, mais do que uma época ou um estilo, é um dos momentos mais ricos da vida brasileira em prática democrática e desenvolvimento integrado do país – Aliás, um momento inigualável.
O século de Tancredo mais que esforço de memória da história, trata-se de busca, capaz de resgatar período ímpar, em que o país, vivendo a plenitude democrática, cresceu num clima eufórico, jamais repetido e que quase morreu nas décadas em que foi gerido pela ditadura militar.
A presença do Presidente Tancredo Neves (1910-2010) na história recente do Brasil tem destaque em três momentos (movimentos) singulares:
Primeiro:
A madrugada de 23-24 de agosto de 1954, quando Tancredo Neves, Ministro da Justiça do Presidente Getúlio Vargas, defende a integridade do governo, já quase deposto, e a resistência ao golpe iminente contra o Presidente, de quem recebe a carta-testamento pouco antes de ele cometer o suicídio...
Segundo:
Com a renúncia do Presidente Janio Quadros (25 de agosto de 1961) e a resistência à posse do vice-presidente João Goulart, que estava em missão diplomática na China. Os jornais exibiam a sua foto com Mao Tsé-tung. Intermediando conversas com o General Ernesto Geisel, chefe da casa militar do presidente Jânio, Tancredo consegue convencer Goulart a aceitar a redução de seus poderes, acolhendo o parlamentarismo. E tomar posse...
Terceiro:
Com a redemocratização do país (anistia, etc.), Tancredo Neves se coloca como a grande alternativa não revanchista para a pacificação dos espíritos e, aliado à dissidência da Frente Liberal (Aureliano Chaves, Marcos Maciel, Sarney, Hugo Napoleão), vence a eleição presidencial no colégio eleitoral. Mas vitimado pela doença, não toma posse.
Abordagem de época a partir do seu nascimento na cidade de São João Del Rey em 1910, passando por todas as histórias da política brasileira, até sua morte em 1985 em São Paulo. Com o início de sua projeção, nos anos 50, Tancredo Neves atravessou quase meio-século da vida pública brasileira. Foi de Ministro do Governo Getúlio (1951), Primeiro Ministro (1961), Governador de Minas Gerais (1982), Senador e deputado federal por 5 mandatos e finalmente eleito Presidente da República, cargo que não chegou a assumir.
Três Frases de Tancredo Neves:
“O mineiro é um político conciliador”
“Mineiro radical, não é mineiro! Mesmo tendo nascido em Minas”.
“O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”
Revendo a História
A manhã do domingo, 21 de abril de 1985, o espírito de Getúlio Vargas parecia ter sido despertado pelos brasileiros com a notícia oficial da morte de Tancredo Neves. Uma explosão popular de tristeza e frustação aconteceu em todo o país, muito semelhante à de 24 de agosto de 1954, assolando os corações e as mentes da nação enfraquecida, Um sentimento de perda, de desamparo, de abandono, acordou a todos os brasileiros com a notícia de sua morte.
A vitória de Juscelino, em 1955, provocou cinco anos de avanços acelerados do país. São fatos importantes onde Tancredo teve decisiva participação: como a consolidação das conquistas trabalhistas pelas massas, inúmeras estatais criadas e fortalecidas, o uso de nossas riquezas naturais em nosso próprio proveito, e a inesperada e fulminante ocupação do território com a incrustação de Brasília no seu centro geográfico.
Getúlio e Juscelino são panos de fundo de especial beleza na história que se quer contar sobre os 100 anos de Tancredo Neves.
Nos anos da abertura política víamos a figura do então senador Tancredo Neves como aquela que teria mais chances de tornar viável o projeto político ansiado pela nacionalidade: o de retomar os trilhos da história do país, construídos a partir da firmeza insubmissa de Getúlio Vargas, expandidos na obsessão libertária de Juscelino Kubstichek, e que poderiam ser enfim consolidados por João Goulart ou por um novo mandato de Juscelino, não fossem os eventos catastróficos de 1964.
No dia da sua posse foi retirado abruptamente de cena para só reaparecer no caixão em que seria enterrado, com todas as pompas e homenagens, no "dia de Tiradentes". Foi então que o povo teve a chance de demonstrar que, se as eleições fossem diretas, ele teria ganhado com folga.
.A posse de Tancredo na Presidência da República seria na sexta-feira, 15 de março de 1985. Brasília estava em festa na noite do dia 14, quando Tancredo foi subitamente internado. Bastam as "coincidências" de datas para denunciar a má qualidade do roteiro, por inverossimilhança, mas isto não preocupava ninguém.
Os trinta e oito dias que se passaram entre 15 de março e 21 de abril, uma quase quaresma de tele-agonia. A Tevê brasileira pontuada de boletins hospitalares, foto-montagem da "recuperação de Tancredo" e transferências de hospitais, foram suficientes para distrair a audiência enquanto se arquitetava o golpe de bastidores para a continuidade da tragédia agora em forma de farsa.
A história só não contava com a presença maciça do povo nas ruas após o anúncio oficial do falecimento. Diante das telas da TV o cortejo fúnebre. Não havia cordões de isolamento nem policiamento no trajeto que ia do hospital até o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que foi tomado de ponta a ponta por um mar de gente inconformada com a tragédia. O mesmo se daria em Brasília, em Belo Horizonte e em São João Del Rei, até a interminável cena final da pá do pedreiro que não acabava nunca o seu trabalho fúnebre.
A morte do mineiro Tancredo Neves marcará para sempre a maior frustração da nacionalidade desde o assassinato oficial por enforcamento de Tiradentes, também num domingo, em 21 de abril de 1792.
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