Três Linhas
Elaborado dentro do panorama poético literário do início do século vinte, “Três Linhas” desfaz a metáfora do tempo e analisa, através da tecnologia e da linguagem contemporânea do vídeo publicitário, pelas imagens centenárias de um cinema documental, as três principais transformações da poesia brasileira. Um haicai áudio e visual sobre o modernismo, o simbolismo e o parnasianismo.
Primeira Linha – O Moderno
A libertação.
Por do sol sobre os prédios de uma grande cidade.
Uma banda de música eletrônica inicia no estúdio de som o ensaio de uma música instrumental que será a trilha sonora de todo o vídeo.
Um carro aparece num comercial ágil de 30 segundos como metáfora da energia necessária para o homem se libertar.
O comercial vende a marca do carro:
Um jovem empresário bem sucedido sai do seu escritório. Na rua entra e acaricia o seu carro novo. Olha para uma mala preta que está ao seu lado. Com o motor ligado arranca com velocidade. O carro passa pelas ruas molhadas da cidade anoitecendo. Silêncio e segurança nas curvas. Em clima de suspense chega ao seu destino. Estaciona o carro, pega à mala, e com o andar firme e cauteloso, o jovem empresário, sobe as escadas de uma velha casa misteriosa como se fosse assassinar alguém. Mudando totalmente o clima da cena anterior, ele entra num estúdio de som, retira da mala o seu instrumento musical e toca o seu estranho mundo.
Um publicitário assiste ao comercial numa sala de projeção.
Segunda Linha – O Símbolo
A transformação.
Na sala onde se exibiu o comercial o publicitário recebe da mão de uma secretária um envelope branco onde se vê impresso uma cruz vermelha. O publicitário deseja a secretária. Sonha com cenas de amor. Recita poemas...
Mas tudo volta ao normal quando ele abre o envelope que está em suas mãos.
Ao ler o papel contido no envelope o publicitário fica pálido.
Suando frio, apaga o cigarro que está fumando no cinzeiro e sai da sala apressado.
Na rua caminha pela calçada enquanto na sua volta acontece uma série de fatos violentos.
Ele volta a fumar e entra num bar para beber. Encontra-se com o poeta.
Sua memória busca na mesa pelas formas gráficas, pelos textos, poemas e imagens que possam justificar a vida sonhada.
Terceira Linha – O Parnaso
O retorno à montanha.
Um homem, um colecionador, remexe velhos papéis e manuseia alguns livros. Organiza os documentos que estão espalhados numa grande mesa. O seu rosto, no princípio, não é mostrado. Dos detalhes iniciais, dos autógrafos famosos e históricos aos livros e objetos valiosos, vamos aos poucos conhecendo o nosso personagem.
Ele retira da mesa uma arma e a coloca na mala preta.
Andando no seu luxuoso escritório contempla da janela o por do sol.
Nuvens coloridas de um final de tarde.
O sol amarelo.
Um antigo manuscrito com o autógrafo do Rui Barbosa contendo o seguinte texto:
- Quanto caberá de um coração entre
as páginas de um álbum ? Quanto
couber, tudo acima nestas três linhas.
Primeira Linha
Uma puta pauta musical
Encontro de alguns músicos em um estúdio de som.
Conjunto de prédios de uma grande cidade no final do dia
Um empresário é visto pelas lentes de uma poderosa teleobjetiva se movimentando perto da janela de um grande prédio de luxo.
Os vidros da janela espelham a cor vermelha das nuvens em movimento no azul profundo do céu
Saímos do vidro espelhado, dos detalhes das nuvens, abrindo o quadro mostrando ao final, no fundo da cena, o grande edifício e, em primeiríssimo plano, acompanhado pelos pés apressados do empresário, caminhando até o carro estacionado, seus olhos.
- A energia é o princípio vital que interpenetra e nutre todas as coisas no Universo. É aparentemente onipresente e impessoal, permeando todos os planos e todas as suas manifestações
No interior do carro, ligando a chave e ouvindo o silêncio do motor, o jovem empresário acaricia o volante e olha para o luxuoso painel.
A cidade começa a passar silenciosa pelo vidro.
- A matéria é energia em estado de condensação, a energia é matéria em estado radiante.
Em fusão as imagens da cidade que estavam sendo enquadradas pelos vidros fechados do carro se transformam nas imagens do ensaio da banda de música que é vista pelos vidros do estúdio de som onde os músicos e as suas silhuetas misturadas ao contra luz da iluminação formam sombras orientais.
- No Japão energia chama-se “Ki”. Na China “Chi”...
KICHI é a marca do carro impressa nas asas de uma deusa.
O jovem empresário, falando em seu telefone celular, está tenso e faz alguns movimentos rápidos no volante como se desviasse de alguma coisa.
- Só com muita energia é que conquistamos a liberdade.
Carro estaciona depois de dobrar uma esquina comandada pelo GPS.
Do seu interior sai apressado o empresário que entra num velho prédio às escuras carregando uma mala.
- KICHI, o carro feito de pura energia.
No interior do prédio fica um estúdio de som.
O jovem empresário retira da mala o seu instrumento eletrônico, uma arma; agitado, elétrico, sola em uma guitarra que acompanha outros músicos da super banda KICHI.
Segunda Linha
Na tela, os músicos finalizam o tema musical, o comercial chega ao fim e as luzes são acesas. Na sala vazia está sentado o nosso personagem, o ator do filme, assistindo agora o comercial, trajando outro figurino, fumando um novo charuto.
Aproxima-se dele uma loura secretária com um envelope na mão.
Os dois se olham. Silêncio. Cenas rápidas de amor entre os dois: beijos e carícias.
Cartão autografado por Osório Duque-Estrada sobrepondo a imagem de uma jovem e branca mulher contendo o seguinte texto:
- Sobre esta branca beleza
Desejaria ser franco
Mas não posso com franqueza,
Botar o preto no branco...
Cenas de amor e ódio entre o publicitário e a secretária.
Ele pega o envelope, retira o papel e passa a ler.
Seus olhos estão fixos no papel.
Seu rosto então muda de expressão, fica tenso e começa a suar.
Levantando-se da cadeira, apaga com violência o cigarro no cinzeiro e sai da sala.
A nossa personagem caminha agora pela rua abstraída em seus pensamentos funestos. No seu caminhar noturno acontece às seguintes cenas em segundo plano:
Primeira: Um assalto a mão armada com morte na lanchonete iluminada. A Polícia perseguindo uma adolescente passa atirando em plena rua. Algumas pessoas são atingidas e seus corpos jazem estirados pelo caminho.
Segunda: Um casal troca insultos e um homem bêbado que mete a mão com violência no rosto de sua mulher. Crianças famintas observam a cena.
Terceira: Pessoas bem vestidas procuram nos lixos da rua restos de uma comida horrivelmente azeda.
A nossa personagem entra num bar quase no final da rua e senta-se em uma mesa onde esta outro homem escrevendo.
O homem olha para a nossa personagem e continua a escrever.
O homem sentado à sua frente pega o que escreveu e lê para o nosso personagem que fuma um cigarro atrás do outro compulsivamente.
Na imagem da página vê-se o antigo autógrafo do escritor, o homem é texto que é lido de trás pra frente
O Homem é João do Rio
- As mulheres são como pequenos vasos de cristal transparente... Nós é que lhe pomos a tinta da ilusão e as vemos azuis, rosas ou verdes, conforme o estado d’alma. Para perdoar e amar a mulher serenamente é preciso retirar a tinta. Poderemos então ver através o céu e todo o mais.
Detalhes de textos, pinturas, cartões e objetos escolhidos.
Terceira Linha
Livros e uma quantidade grande de papeis estão sobre a grossa madeira de lei que cobre a mesa do luxuoso escritório.
Texto de Olavo Bilac:
- Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem.
Detalhes de algumas páginas abertas de livros, figuras, cartões antigos, objetos, etc.
O nosso personagem está agora atrás da grande mesa mexendo com esses papeis, retira de baixo da grande mesa uma arma e a coloca em uma mala preta.
Caminha pela sala. Aproxima-se da janela e observa os grandes edifícios da cidade iluminados, em contra luz, pelo por do sol.
Texto de Coelho Neto
- Falar a tempo e tanto quanto baste ao assunto...
A descrição é a fidelidade da língua...
Os que ponderam ensinam com o silêncio
Um clima de terror na edição final da música mixada com cacos de imagem recolhidas.
A noite chega pela janela de onde se observa a cidade iluminada e a trilha sonora chega ao fim.
Elaborado dentro do panorama poético literário do início do século vinte, “Três Linhas” desfaz a metáfora do tempo e analisa, através da tecnologia e da linguagem contemporânea do vídeo publicitário, pelas imagens centenárias de um cinema documental, as três principais transformações da poesia brasileira. Um haicai áudio e visual sobre o modernismo, o simbolismo e o parnasianismo.
Primeira Linha – O Moderno
A libertação.
Por do sol sobre os prédios de uma grande cidade.
Uma banda de música eletrônica inicia no estúdio de som o ensaio de uma música instrumental que será a trilha sonora de todo o vídeo.
Um carro aparece num comercial ágil de 30 segundos como metáfora da energia necessária para o homem se libertar.
O comercial vende a marca do carro:
Um jovem empresário bem sucedido sai do seu escritório. Na rua entra e acaricia o seu carro novo. Olha para uma mala preta que está ao seu lado. Com o motor ligado arranca com velocidade. O carro passa pelas ruas molhadas da cidade anoitecendo. Silêncio e segurança nas curvas. Em clima de suspense chega ao seu destino. Estaciona o carro, pega à mala, e com o andar firme e cauteloso, o jovem empresário, sobe as escadas de uma velha casa misteriosa como se fosse assassinar alguém. Mudando totalmente o clima da cena anterior, ele entra num estúdio de som, retira da mala o seu instrumento musical e toca o seu estranho mundo.
Um publicitário assiste ao comercial numa sala de projeção.
Segunda Linha – O Símbolo
A transformação.
Na sala onde se exibiu o comercial o publicitário recebe da mão de uma secretária um envelope branco onde se vê impresso uma cruz vermelha. O publicitário deseja a secretária. Sonha com cenas de amor. Recita poemas...
Mas tudo volta ao normal quando ele abre o envelope que está em suas mãos.
Ao ler o papel contido no envelope o publicitário fica pálido.
Suando frio, apaga o cigarro que está fumando no cinzeiro e sai da sala apressado.
Na rua caminha pela calçada enquanto na sua volta acontece uma série de fatos violentos.
Ele volta a fumar e entra num bar para beber. Encontra-se com o poeta.
Sua memória busca na mesa pelas formas gráficas, pelos textos, poemas e imagens que possam justificar a vida sonhada.
Terceira Linha – O Parnaso
O retorno à montanha.
Um homem, um colecionador, remexe velhos papéis e manuseia alguns livros. Organiza os documentos que estão espalhados numa grande mesa. O seu rosto, no princípio, não é mostrado. Dos detalhes iniciais, dos autógrafos famosos e históricos aos livros e objetos valiosos, vamos aos poucos conhecendo o nosso personagem.
Ele retira da mesa uma arma e a coloca na mala preta.
Andando no seu luxuoso escritório contempla da janela o por do sol.
Nuvens coloridas de um final de tarde.
O sol amarelo.
Um antigo manuscrito com o autógrafo do Rui Barbosa contendo o seguinte texto:
- Quanto caberá de um coração entre
as páginas de um álbum ? Quanto
couber, tudo acima nestas três linhas.
Primeira Linha
Uma puta pauta musical
Encontro de alguns músicos em um estúdio de som.
Conjunto de prédios de uma grande cidade no final do dia
Um empresário é visto pelas lentes de uma poderosa teleobjetiva se movimentando perto da janela de um grande prédio de luxo.
Os vidros da janela espelham a cor vermelha das nuvens em movimento no azul profundo do céu
Saímos do vidro espelhado, dos detalhes das nuvens, abrindo o quadro mostrando ao final, no fundo da cena, o grande edifício e, em primeiríssimo plano, acompanhado pelos pés apressados do empresário, caminhando até o carro estacionado, seus olhos.
- A energia é o princípio vital que interpenetra e nutre todas as coisas no Universo. É aparentemente onipresente e impessoal, permeando todos os planos e todas as suas manifestações
No interior do carro, ligando a chave e ouvindo o silêncio do motor, o jovem empresário acaricia o volante e olha para o luxuoso painel.
A cidade começa a passar silenciosa pelo vidro.
- A matéria é energia em estado de condensação, a energia é matéria em estado radiante.
Em fusão as imagens da cidade que estavam sendo enquadradas pelos vidros fechados do carro se transformam nas imagens do ensaio da banda de música que é vista pelos vidros do estúdio de som onde os músicos e as suas silhuetas misturadas ao contra luz da iluminação formam sombras orientais.
- No Japão energia chama-se “Ki”. Na China “Chi”...
KICHI é a marca do carro impressa nas asas de uma deusa.
O jovem empresário, falando em seu telefone celular, está tenso e faz alguns movimentos rápidos no volante como se desviasse de alguma coisa.
- Só com muita energia é que conquistamos a liberdade.
Carro estaciona depois de dobrar uma esquina comandada pelo GPS.
Do seu interior sai apressado o empresário que entra num velho prédio às escuras carregando uma mala.
- KICHI, o carro feito de pura energia.
No interior do prédio fica um estúdio de som.
O jovem empresário retira da mala o seu instrumento eletrônico, uma arma; agitado, elétrico, sola em uma guitarra que acompanha outros músicos da super banda KICHI.
Segunda Linha
Na tela, os músicos finalizam o tema musical, o comercial chega ao fim e as luzes são acesas. Na sala vazia está sentado o nosso personagem, o ator do filme, assistindo agora o comercial, trajando outro figurino, fumando um novo charuto.
Aproxima-se dele uma loura secretária com um envelope na mão.
Os dois se olham. Silêncio. Cenas rápidas de amor entre os dois: beijos e carícias.
Cartão autografado por Osório Duque-Estrada sobrepondo a imagem de uma jovem e branca mulher contendo o seguinte texto:
- Sobre esta branca beleza
Desejaria ser franco
Mas não posso com franqueza,
Botar o preto no branco...
Cenas de amor e ódio entre o publicitário e a secretária.
Ele pega o envelope, retira o papel e passa a ler.
Seus olhos estão fixos no papel.
Seu rosto então muda de expressão, fica tenso e começa a suar.
Levantando-se da cadeira, apaga com violência o cigarro no cinzeiro e sai da sala.
A nossa personagem caminha agora pela rua abstraída em seus pensamentos funestos. No seu caminhar noturno acontece às seguintes cenas em segundo plano:
Primeira: Um assalto a mão armada com morte na lanchonete iluminada. A Polícia perseguindo uma adolescente passa atirando em plena rua. Algumas pessoas são atingidas e seus corpos jazem estirados pelo caminho.
Segunda: Um casal troca insultos e um homem bêbado que mete a mão com violência no rosto de sua mulher. Crianças famintas observam a cena.
Terceira: Pessoas bem vestidas procuram nos lixos da rua restos de uma comida horrivelmente azeda.
A nossa personagem entra num bar quase no final da rua e senta-se em uma mesa onde esta outro homem escrevendo.
O homem olha para a nossa personagem e continua a escrever.
O homem sentado à sua frente pega o que escreveu e lê para o nosso personagem que fuma um cigarro atrás do outro compulsivamente.
Na imagem da página vê-se o antigo autógrafo do escritor, o homem é texto que é lido de trás pra frente
O Homem é João do Rio
- As mulheres são como pequenos vasos de cristal transparente... Nós é que lhe pomos a tinta da ilusão e as vemos azuis, rosas ou verdes, conforme o estado d’alma. Para perdoar e amar a mulher serenamente é preciso retirar a tinta. Poderemos então ver através o céu e todo o mais.
Detalhes de textos, pinturas, cartões e objetos escolhidos.
Terceira Linha
Livros e uma quantidade grande de papeis estão sobre a grossa madeira de lei que cobre a mesa do luxuoso escritório.
Texto de Olavo Bilac:
- Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem.
Detalhes de algumas páginas abertas de livros, figuras, cartões antigos, objetos, etc.
O nosso personagem está agora atrás da grande mesa mexendo com esses papeis, retira de baixo da grande mesa uma arma e a coloca em uma mala preta.
Caminha pela sala. Aproxima-se da janela e observa os grandes edifícios da cidade iluminados, em contra luz, pelo por do sol.
Texto de Coelho Neto
- Falar a tempo e tanto quanto baste ao assunto...
A descrição é a fidelidade da língua...
Os que ponderam ensinam com o silêncio
Um clima de terror na edição final da música mixada com cacos de imagem recolhidas.
A noite chega pela janela de onde se observa a cidade iluminada e a trilha sonora chega ao fim.
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