Wilson Grey no filme "Um filme 100%Brazileiro"
Conversa vai, conversa vem.
BETO VIANNA
Conversando com um colega de
trabalho, concordá- vamos que “O povo brasileiro”, de Darcy Ribeiro, é um livro
tão importante na história do livro (assim como, lembra-nos Caetano Veloso,
“Sgt. Peppers” é um marco na história do disco), que as crianças do Brasil
tinham de ser alfabetizadas nele. Ali a paixão lúcida de Darcy vai da admiração
à vergonha profunda, um assombro com esse povo plasmado na violência das elites
contra mamelucos, mulatos e curibocas, contra brasilíndios desindianizados e
afrobrasileiros desafricanizados: “Todos nós, brasileiros, somos carne da carne
daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós, brasileiros somos, por igual,
a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e crueldade mais atroz
aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a
gente insensível e brutal, que também somos”. Votei Cristovam, não tanto pelo
próprio Cristovam, político que não me desagrada, não tanto por meu brizolismo
passé, mas porque esse cara assumiu o bravo discurso darcysista de que só a
revolução na educação pode “conter os possessos e criar aqui uma sociedade
solidária”. Discurso tido por bichos orwellianos da direita à esquerda como
óbvio, enfadonho, pueril. É mesmo? Então a quantas anda a revolução na educação
se o que ainda vemos pelas ruas são “crianças convertidas em pasto de nossa
fúria”? Votei Cristovam, e de quebra rezei pruma eleição decidida em primeiro
turno, livrando-me de votar Lula no segundo. Pago agora por minha incoerência
prática: agora, é preciso engolir o sapo barbudo, pois a alternativa é
reentregar o comando do país para a gananciosa elite nacional. Não se trata de
escolher o menos pior. Lula & cia. não vão fazer revolução na educação, mas
têm coração e olhos abertos para a dívida de “crueldade mais atroz” que nós,
brasileiros, temos com nós mesmos. Os remelentos ganharam e vão continuar
ganhando com Lula, dado mais que relevante na hora de escolher o candidato. E
Alckmin? Esse tem estampado na cara a cor chocha do servilismo, o discurso
brega da Casa Grande, o nojo centenário que a elite alimenta por quem vive de
suas sobras. Tal como nosso povo foi parido de ventres mamelucos, mulatos e
curibocas, há uma linha direta que liga os primeiros gastadores de gente aos
que hoje lucram on-line com a miséria do Brasil. Multimídia e na onda da mídia,
os modernos alckimistas estão ávidos por voltar, travestidos de - shazam! -
opção ética! Esse sapo clean eu não engulo. Prefiro esperar pela vindoura
revolução da educação enquanto somos comandados, com poucos trancos e menos
barrancos, pelo companheiro Lula.
Nenhum comentário:
Postar um comentário