Alô
Cinema!
Um novo governo precisa entender que mexendo em
apenas três itens do já estabelecido, pode acontecer uma reforma significativa na
produção, exibição, proteção e conservação do cinema financiado pelo estado
brasileiro.
1 Desburocratizar os meios de produção
cinematográfica e colocar na direção dos órgãos específicos pessoas do meio
cultural, artistas, intelectuais, que defendam os interesses do cinema
brasileiro.
2 A aprovação não mais de projetos repletos de
papeladas e burocracia. O proponente, pessoa física, a um financiamento público,
apresentaria primeiro ao Ministério da Cultura um roteiro, em primeiro
tratamento e entraria na fila dos que serão selecionados. Se seu roteiro fosse selecionado
e aprovado, o proponente procuraria uma produtora para fazer o projeto completo,
com os custos e prazos de realizações definidos. Isto facilitaria e agilizaria
o longo processo de realização de um filme e a produtora não correria o risco
de ver tanto trabalho jogado no lixo.
3 Colocar em prática a Lei, já existente, do Curta-Metragem
a ser exibido antes dos filmes estrangeiros e estender essa mesma lei (do Curta)
para as televisões brasileiras que exibam filmes estrangeiros.
Vamos
avançar ou não vamos?
O
GOLPE EM MARCHA
Nas redes da internet, nos jornais, nos noticiários
das tevês, nos comentários ouvidos nas ruas, dos bares, nas festas chiques, nas
batucadas do morro, enfim por todo o país eu posso sentir o que eles querem
dizer entre contrários, entre a alegria dos que gritam: Já ganhamos! Viva o
povo! Viva o Brasil! Com a revolta hostil, raivosa, dos que sofrem com a derrota,
pois estavam certos da vitória e que aos poucos vai se tornando silenciosa,
formando em pequenos grupos nada secretos que esperam, como se fossem disputar
uma peleja, o dia da revanche, e, para essa desastrosa conquista, passa a valer
tudo novamente: as denúncias, o arbítrio do sistema, a incompetência estratégica
na defesa da mentira, em vez do ataque da verdade, o interesse estrangeiro
inconfesso na divisão do país em dois, três, quatro, que fico em dúvida se tudo
isso não caminha para o pior. O fato é que farão de tudo para criar conflitos,
olho vivo! Já corre uma lista de adesão pela internet para levar os vitoriosos
a se explicarem novamente em uma CPI (com o congresso eleito mais reacionário
da história) da Petrobras, ou mesmo em processos criminais armados com o
auxílio dos contrários. Nunca esquecer que ao contrário das forças democráticas,
existem as forças armadas. É como em um filme de suspense do velho Alfred: é
preciso estar preparado para o embate que ira na certa acontecer se não, meus
amigos, (VERTIGO) a casa cai (novamente).
SER
GAGÁ
Millôr
Fernandes
Ser Gagá não é viver apenas nos idos do passado: é
muito mais! É saber que todos os amigos já morreram e os que teimam em viver,
são entrevados. É sorrir, interminavelmente, não por necessidade interior, mas
porque a boca não fecha ou a dentadura é maior do que a arcada.
Ser Gagá é ficar pensando o dia inteiro em como
seria bom ter trinta anos ou, vá lá, quarenta, ou mesmo, ó Deus, sessenta! É
ficar olhando os brotinhos que passeiam, com o olhar esclerosado, numa inútil
esperança. É ficar aposentado o dia inteiro, olhando no vazio, pensando em
morrer logo, e sair subitamente, andando a meia hora que o separa dos cem
metros da esquina, porque é preciso resistir. É dobrar o jornal encabulado,
quando chega alguém jovem da família, mas ficar olhando, de soslaio, para os
íntimos da coluna funerária. Ser Gagá é saber todos os mortos inscritos no
Time, em Milestones. Não é saber o Who is who, mas os WHEN. É só pensar em
comer, como na infância. E em certo dia passar fome as vinte e quatro horas, só
de melancolia. É, na hora mais ativa do mais veloz Bang-Bang, descobrir, lá no
terceiro plano, uni ator antigo, do cinema mudo, e sentir no peito a punhalada.
É surpreender, subitamente, um olhar irônico que trocam dois brotinhos, que, no
entanto, o ouvem seriamente. É querer aderir à bossa nova, falar “Sossega Leão”
e morrer de vergonha ao perceber o fora. É não querer, não querer, mas cada dia
ficar mais necessitado de amparo do que outrora. É ter estado em Paris, em 19.
É descobrir, de repente, um buraco na roupa e dar graças a Deus, por ser na
roupa.
Ser Gagá
é sentir plenamente que tudo que se leu, que se aprendeu, que se viu e se viveu
não vale nada diante do que estua. Ser Gagá é estar sempre na iminência de
ouvir em plena rua: “Olha o tarado!” É ficar contente em ver Chaplin e Picasso
como os “mais charmosos” de sessenta! É chamar de menina à quarentona. É ter
uma esperança senil nos cientistas. É reparar, nos mais jovens, o imperceptível
sinal de decadência. É ficar olhando o detalhe, nos amigos; a lentigem nas
mãos, o cabelo que afina, a pele que vai desidratando. Ser Gagá é o orgulho vão
de ainda ter cabelo e poucos brancos! A vaidade tola de não ter barriga; a
felicidade de ter dentes próprios. E fazer grandes planos qüinqüenais que
espantam os jovens que acham cinco anos a própria eternidade, mas que o Gagá
sabe que voam como voaram tantos, tantos, tantos... É se apegar, desesperadamente, pelo tremendo impulso da existência, aos
filhos, aos netos e aos bisnetos, embora saiba que eles não o querem, que a
convivência com eles é apenas parte e total do egoísmo vital que o enterra. É
sentir que agora, outra vez, está bem de saúde. É sentir a saúde ocasional. É
carregar o corpo o tempo todo. É sentir o caixão no próprio corpo. É saber que
já não há quem tenha prazer em lhe acarinhar a pele. É já não ter prazer em
passar a mão na própria pele. É esquecer de coisas importantes e lembrar, sem
saber por que, um gosto, um calor, uma palavra há tempos
esquecidos.
Ser
Gagá é procurar com afã a importância do cargo para de novo ser solicitado,
embora pelo cargo. É sentir que nada do que faça, espantoso que seja, terá a
importância do feito de outro homem, nos inícios da vida. Ser Gagá é quando
dormir tarde se torna uma loucura, resgatada em feroz resfriado que dura uma
semana. É ter sabido francês, e esquecido. É já não jogar xadrez como outrora!
É olhar o retrato amarelado e lembrar que fotógrafo usava magnésio. É dizer,
como um feito, que ainda lê sem óculos. É ouvir que alguém diz, quando passa na
rua: “inda está firme!” É ficar galante e baboseiro na terceira taça de
champanha. É casar com uma mulher mais jovem e querer dar logo ao mundo a
inegável prova de um filhinho.
Ser Gagá é, num
esforço mortal, aceitar tudo que inventam, todas as idéias, as modas, a música,
o ritmo de vida, mas não deixar de dizer numa ironia profunda e amargurada. “Eu
não entendo”. É sentir de repente o isolamento. É ficar egoísta, e amedrontado.
É não ter vez e nem misericórdia.
Ser Gagá é fogo. Ou melhor, é muito frio.
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