Orlando Senna e as
reconstruções das mortes
Por Filipe Barbosa *
Astronautas libertados vagam num barco vazio pela Baía
“Boca do Inferno”
Brasil, 1968-69: em meio à inquietude de uma geração
marcada, por um lado, pelo signo da náusea existencial e total cerceamento da
liberdade de expressão, por outro, pela elevação espiritual (flower power) e
desenvolvimento das capacidades extra-sensoriais, estavam três provocadores
baianos realizando três filmes mais provocantes ainda: Orlando Senna, Álvaro
Guimarães e André Luiz Oliveira. Em 1964 já havia acontecido o que o saudoso
crítico baiano, André Setaro, considerava o canto do cisne do chamado Ciclo
Baiano de Cinema, o filme O Grito da Terra (1964), de Olney São Paulo. O
cinema baiano que existiu no fim da década de 60, apesar de estar ligado
(minimamente que seja, mas está) ao que se fez a partir de 1959 na Bahia,
aparece para arrebentar com as estruturas da linguagem, oxigenar a estética do
filme, “extrapolar os limites aristotélicos das unidades de lugar, ação e
tempo” (SETARO, 2012, p.82), imergir em outros universos.
Essa imersão começou quando Orlando e Álvaro traçaram
um plano de produção para dois filmes, um para cada diretor – naquela época
tinha-se que mandar os negativos para serem revelados e montados em São Paulo,
por isso essa foi uma tática de produção inteligente e econômica. O filme do
Álvaro era o posteriormente cult Caveira my friend (1970), e o do
Orlando chamava-se A construção da morte (1969). Correndo por fora, em
termos de produção, mas totalmente ligado à realização desses dois filmes,
estava Meteorango Kid – o herói intergalático (1969), de André Luiz
Oliveira, que no Festival de Brasília daquele ano recebeu o Prêmio do Público e
a Margarida de Prata da Central Católica de Cinema. A “Boca do Inferno” (PUPPO,
2004, p.54), nome dado às realizações baianas daqueles idos, caracterizadas por
uma estética marginal, se desenhava com esses e mais outros filmes, a exemplo
dos longas-metragens Akpalô (1970), de José Frazão e Deolindo Checcucci,
e Anjo negro (1972), de José Umberto, e do média-metragem Voo
interrompido, de José Umberto, que, realizado em 1969, passou a ser
considerado por Álvaro Guimarães “o primeiro filme realmente underground do
cinema baiano” (SETARO, 2012, p.83).
Eram todos tripulantes desse barco vazio e sem capitão
cantado angustiadamente por um Caetano Veloso prestes a partir para o forçado
exílio, no famoso “disco da assinatura”, de 1969, com Lanny Gordin rasgando um
de seus solos fuzz-psicodélicos. From the rudder to the sail / Oh my boat is
empty / Yes, my hand is empty / From the wrist to the nail.
As reconstruções da morte
Escreve-se, e muito, sobre filmes. Alguns teóricos já
ironizam ao dizer ser “todo cineasta um crítico frustrado”, tamanha a
importância do debate cinematográfico na atualidade. Mas se escreve sobre
filmes vistos e, de preferência, por muita gente. Não é comum se escrever sobre
“películas avinagradas” (muitos sequer ouviram esse termo na vida). Quando se
faz isso, inicia-se uma relação profunda com a tenuidade intrínseca na história
oral, uma filha inevitável de nossa época, uma moderna e promissora solução
para o entendimento das nervuras sociais. A história oral, assim como os
filmes, se institucionaliza como reflexo de um momento histórico;
principalmente na América Latina (e destaca-se o Brasil), onde esse tipo de
saber autônomo esteve associado a processos de redemocratização após regimes
despóticos. Através dessa prática independente e superando análises
sócio-políticas moldadas em insuficientes conservadorismos acadêmicos, se deram
as incessantes reconstruções das mortes – nesse caso o plural justifica-se por
estarem intercaladas à morte de um filme, mortes de fluxos imagéticos,
filosóficos, mortes de experimentações estéticas, poéticas e outras tantas ainda
não compreendidas aqui nesse pobre e desajeitado escrito.
No longa-metragem de Orlando Senna, uma
“transcodificação” – do molde literário para o audiovisual – feita através de
um conto de Ariovaldo Matos, a história central é a de um jornalista que impede
por acaso o suicídio de um homem prestes a se jogar de uma das janelas do
Elevador Lacerda. O homem explica que é pobre e está com câncer de pulmão, que
é melhor morrer logo do que sofrer e causar sofrimento à família; e o
jornalista compra a morte dele, compra a exclusividade da notícia, oferece uma
boa quantia de dinheiro para ele se suicidar outro dia, com hora marcada,
saltando espetacularmente do próprio Elevador Lacerda. O homem aceita,
convencido pela herança inesperada que vai deixar para a família, e o acordo é
cumprido até o fim. Para tanto, o jornalista cativa uma amiga rica para
conseguir o montante.
A adaptação da história se deu em dois momentos, ou
melhor, existiram basicamente dois roteiros – que, entranhados de alguma forma
no inconsciente de quem os escrevera, se perderam com o tempo e provavelmente
não existem mais fisicamente. Em 1968, antes do AI-5, seria “apenas” a linha
central do conto de Ariovaldo – evidentemente sem todas as nuances literárias:
simplesmente um jornalista que compra a morte de um pobre coitado. Quando
aconteceu o AI-5, em dezembro de 68, mudou-se a perspectiva do diretor na
concepção do longa e o próprio inseriu as preocupações, pavores, tensões que se
engendraram no ano seguinte, no chamado “ano do medo”. Talvez, por essas
preocupações, pode-se interpretar que nem tantas outras obras daquele período
tivessem uma relação tão íntima com o ano em questão como o filme do Orlando,
que, pensado para ser realizado em 1968, por motivos de pré-produção só
conseguiu ser rodado em 1969, passando o título a ser 69 – a construção da morte.
Segundo o diretor, em entrevista dada em 5 de setembro de 2014:
“O projeto do filme muda quando entra em vigor o AI-5;
é quando a gente entende o que tá acontecendo, e então muda o título e a
história fica muito mais politizada. Daí o filme mostra todas as possibilidades
que poderiam acontecer a partir dali: entra a questão das drogas, da guerrilha.
Não se pode mais fazer aquele filme entusiasta, de quando se estava na rua, com
passeatas de 100 mil pessoas em 1968. Houve uma radicalização do que se conta e
o que se vê no filme, ou melhor, uma adequação ao clima da nova época (…) Era
um filme sobre o medo, levado a um extremo enorme: medo de morrer, medo de que
o cara não se matasse, tudo era medo!”
Terminados os processos de gestação do roteiro e
pré-produção, o terreno estava pronto para o diretor começar a experienciar uma
mostra da sua mais nova via-crúcis. Ou quase pronto: um dia antes das filmagens
começarem, o produtor principal e financiador, o pai de André Luiz Oliveira,
apareceu constrangido à casa de Orlando e disse não poder continuar na
empreitada, pois descobriu que o seu filho também pretendia fazer um filme e
contava com sua ajuda. O outro produtor associado, Braga Neto, figura histórica
do cinema baiano, encorajou o diretor a ir adiante, mesmo com o orçamento em
aberto e sem ter uma produção segura.
Foi-se adiante e se enfrentou novos desafios: rodar um
filme numa cidade provinciana chamando o mínimo de atenção possível das
autoridades. Orlando, que já havia conhecido a clandestinidade em 1964 –
chegando a ter seu rosto mostrado na lista de subversivos que aparecia na
televisão – temia a proximidade da repressão.
Por conta disso, a equipe de filmagens não foi
gigantesca. Montou-se uma equipe profissional, com um desenho parecido com
equipes do Rio de Janeiro e São Paulo na época, porém concisa em pessoal e
equipamentos: tinha-se a necessidade de mascarar as filmagens. No elenco
estavam Harildo Deda, Ian Sobanski, Conceição Senna, Sônia dos Humildes, Gessy
Gesse, Marisa Urban e outros também bons atores da Bahia.
Em dois meses e meio de filmagens, com piques de até
trinta horas de trabalho corrido, Orlando colocava em prática suas experiências
com a linguagem cinematográfica, renovadas substancialmente através de sua
participação nas filmagens de Caveira my friend, filme que coproduziu e
auxiliou no roteiro. Aqui, um depoimento do diretor vem a calhar:
“A mise-en-scène era bastante despretensiosa, no
sentido em que o ator tinha muita liberdade de movimentos. Ensaiávamos, claro,
para não gastar filme à toa, mas era aquela coisa da composição a partir da
direção e da atuação, não só da direção. Se soltava os atores, fazia uma
primeira improvisação e a partir dali se fixava ou não, a palavra era essa.
Fazíamos ligeiros ensaios para gastar o mínimo de negativo”
Esse aspecto do filme está intimamente ligado a sua
estrutura narrativa, por se relacionar a “uma experiência cinematográfica que,
menos pela violência que tematizou e mais pela sua violência estética, marcou a
radicalização de um impulso de revolta que alguns cineastas julgavam estar
saindo da pauta do Cinema Novo a partir de 1968” (PUPPO, 2004, p.23). No caso
de 69 – A construção da morte, os dois vieses – temáticos e estéticos –
parecem ter assumido digna importância: por um lado o filme refutava um estado
de coisas daquela época, assumindo pretensões com a crítica política e social e
não parecendo encarregar-se de uma postura tão nonchalance, hermética e
puramente chanchadesca assumida por alguns dos filmes Udigrúdi (e isso fica
mais claro se for levado em conta que Orlando Senna é filho do Cinema Novo);
por outro lado o filme “fuma do mesmo cigarro alucinógeno” de seus
filmes-irmãos do Udigrúdi baiano ao desarticular os cânones tradicionais do
desenvolvimento do discurso fílmico. Os “eflúvios canábicos” perpassam as
narrativas dos três filmes. Ainda segundo o diretor:
“O estilo narrativo de 69 – A Construção da Morte
é mais parecido com Caveira My Friend do que com Meteorango Kid
(…) O Caveira, apesar de seu estilo de fragmentação, narra alguma coisa
que termina – se você entender bem o filme você vê que há uma história sendo
contada. Meteorango Kid é mais fragmentado e muito menos linear. Esse
estilo de narrativa vem de duas fontes, no meu caso: primeiro, a nossa fonte, o
Cinema Marginal. E a outra referência era Godard – como ele montava os filmes
dele, como fazia essa fragmentação de linguagem”.
Foi através do foco no jornalista, interpretado pelo
polonês Ian Sobanski, que o diretor explorou uma inovação narrativa que só se
concretizaria na sua obra anos mais tarde, com Iracema – uma transa
amazônica, em 1976: o cinema híbrido, um arejamento da linguagem
cinematográfica ao confundir ficção e documentário – ideia que em 69 não foi
tão sutil como em 76. Orlando fez um acerto com a editoria de polícia do Jornal
da Bahia e a equipe do filme acompanhava de perto coberturas de crimes,
perseguições a bandidos, prisões em boca-de-fumo, etc; as cenas documentais se
justificavam por conta desse personagem central. O tom do filme foi interferido
fortemente pelo lado jornalístico do diretor.
As memórias viraram cinzas?
Em agosto de 1969 o Mercado Modelo, em Salvador,
sofreu seu terceiro incêndio na história, até aquele ano. As proporções da
desgraça foram tão grandes que destruiu completamente o prédio e obrigou os
comerciantes a se mudarem definitivamente. Pois, acontecido esse evento,
Orlando Senna teve a ideia genial de filmar uma das mais emblemáticas
sequências do filme que, num esforço potente de rememoração, o diretor
resgatou. Talvez tenha se lembrado por ser essa uma cena cheia de significados,
e que pictoricamente (ainda que imaginativamente) nos traz uma atmosfera
arrebatadora. O certo é que esse e mais outros resgates de memórias guardam uma
relação simbiótica com a linguagem dos sonhos:
“Marisa Urban era basicamente uma modelo
internacional, alta, bonita; era namorada do produtor Braga Neto. Ela é uma das
amigas da moça rica (Conceição Senna) que está ajudando o jornalista no seu
plano. Tem um momento em que se sai da história totalmente e está Marisa Urban
num lindo traje longo, de noite, andando nas cinzas do famoso incêndio do
Mercado Modelo. Eu esperei um ou dois dias, até que não tivesse mais perigo,
com a ajuda dos bombeiros, claro, e fiz a cena em que ela passeia por esses
escombros fumegantes – Corta! E vai pra cena onde está tendo uma festa à
fantasia – tinha essa coisa de metáforas”.
O projeto que atravessava o filme era o conforto dos
últimos dias de vida do pobre coitado que tentara se suicidar – interpretado
por Harildo Deda – um lúmpen, como requer o extrato de personagens do Cinema
Marginal. Para isso houve uma festa à fantasia, dada em sua homenagem. E mais
uma alumbrada sequência do filme foi resgatada de algum porão da memória:
“A casa da personagem da Conceição, a mulher rica, é
totalmente branca: chão, teto, móveis, tudo absolutamente branco e alvo. Era
uma casa de milionários, e pintada com tinta de navios. Ficava uma coisa super
contrastante – quem aparecia nessa casa era o Harildo, que fazia o suicida,
vestido de esqueleto passando pela sala até a varanda, onde estava acontecendo
a festa à fantasia – outra metáfora. Na festa é materializado o surrealismo que
o tema pedia. Enquanto se narra a história existe um tom realista, mas o que tá
se contando é surrealista; então na festa é o momento de dar um empuxo nesse
lado surreal (…) Inclusive, a única fotografia que tenho do filme é dessa
sequência da festa”.
Dentre essas sequências talvez a mais marcante seja a
de Gessy Gesse contracenando com algum ator não identificado pelos
entrevistados (talvez Luis Viana). Na sequência um casal, ao passar pela parte
de baixo do Elevador Lacerda, comentava um plano terrorista de explodi-lo no
horário de pique, como lembra Conceição Senna, uma das atrizes, em entrevista
realizada em 6 de setembro de 2014:
“Tinha essa cena da Gessy – os terroristas planejando
detonar o Elevador. Quando o produtor Braga Neto viu entrou em pânico. Contam
(mas aí já não sei se é mitologia) que ele distribuiu as latas com o filme
entre amigos e familiares (…) Anos depois Orlando descobriu, na Cinemateca do
Rio, dois rolos, mas que logo avinagraram. Isso é uma violência tão grande que
você prefere apagar da memória, sabe? (…) Destruiu todo um trabalho que já
estava pronto; só faltava finalizar, aí chega uma pessoa, espera a gente sair
do laboratório, entra durante a noite, com o poder de produtor tira as latas e
nunca mais se vê o filme. Tempos depois ele apareceu lá em casa, conversamos,
rimos e tudo mais, mas na época foi um golpe violento”.
Fardo, carma, raiva, medo…
Essas sequências, porém, não virariam uma espécie de
fragmento onírico sem antes Orlando Senna e uma turma de baianos (que ficaram
conhecidos como baihunos) terem aportados em São Paulo: os filmes, Caveira
my friend e 69 – A construção da morte, tinham sido rodados e só
restavam a revelação e montagem, que aconteceram no estúdio Odil Fonobrasil.
Na capital paulista o diretor pôde sentir que a “barra
pesada” não se restringia a Salvador. O clima de tensão era iminente, a cada
esquina um espreitador a pedir documentos, alguns chegando a rasgá-los ao
notarem que vinham da Bahia. Orlando ainda precisava conciliar essa conjuntura
com os perrengues de produção: não se tinha mais dinheiro para manter toda a equipe
em São Paulo. Foi quando entrou na história George Jonas, um coprodutor
paulista que contribuiu bancando a alimentação da equipe. Vale ressaltar que
nessa turma estavam, além da equipe de “Caveira”, os recentes Novos Baianos,
ali para gravar a trilha sonora do filme de Álvaro.
Como reflexo de toda aquela instabilidade a trilha
sonora do filme de Orlando era incidental, bem voltada para lances
tecnológicos; não havia música linear.
“Uma coisa muito feita com ruídos, com composição de
ruídos. Tentava se fazer uma música dodecafônica, uma tentativa nesse sentido.
Muito incidental – utilização de sons dramáticos, aproveitamento de sons para
acrescentar na dramaticidade”.
Estava terminado o filme. Segundo Hermes Leal, “era um
retrato contrastado (em preto-e-branco e em 35mm) daquele ano, daquela
situação, confrontando seres humanos sem ética, sem piedade, poderosos, e seres
humanos sob pressão determinados a mudar a vida, alguns a vida de todos, outros
apenas a própria” (LEAL, 2008, p.164). Mostrou-se o filme à equipe e
produtores, em banda dupla (bandas de imagem e som separadas, ainda sujeitas a
correções). O resultado foi catártico e o produtor principal, o Braga Neto,
entrou em pânico. Braga temia a reação dos militares – acreditava estarem, no
mínimo, prestes a serem exilados, caso continuassem. Horas depois da exibição,
mesmo após argumentações de Orlando, de que o filme poderia fazer carreira
clandestina na Europa (caso de Manhã Cizenta (1969), de Olney São
Paulo), não existia mais a obra. O produtor sumiu, junto com todas as latas que
continham as películas, para só aparecer anos depois sem nenhuma delas em mãos.
O cinema mais uma vez se mostrava um terreno espinhoso
para Orlando Senna. Anos antes, em 1963, já tinha tido uma de suas obras, a
película de Rebelião em novo sol, um documentário feito em parceria com
Geraldo Sarno para um espetáculo multimídia do Centro Popular de Cultura da
Bahia, picotada em sua frente por um tenente, no quartel da Mouraria, na cidade
de Salvador. O diretor se perguntava se era carma, ficava impressionado com a
rejeição de seus filmes, ora por raiva, ora por medo. Harildo Deda, em
depoimento de 10 de setembro de 2014, conta emocionado sua experiência com a
realização e posterior sumiço da obra:
“Foi meu primeiro trabalho no cinema. A gente entrou
na aventura de fazer o filme. E de repente o filme é feito e some. Eu não vi o
filme e um dos maiores sentimentos que eu ainda guardo ao longo da carreira é
não tê-lo visto, nem o copião. Sai o Caveira, mas o Construção da
Morte some (…) É a partir de 1969 realmente que eu encaro isso como uma
carreira e ponto final; talvez pela dureza do que foi aquilo. Até então era
algo meio amador pra mim. A partir do trabalho com Orlando no filme que eu
entendo o fazer cinema. Enquanto fazia o filme não sentia uma carga mística,
decisiva, mas depois de ter feito e ter acontecido essas coisas todas eu vejo
que isso foi o que reforçou a minha ideia de continuar nessa arte da
autotransformação”.
As janelas do Elevador Lacerda encontram-se fechadas
Findado de maneira trágica, com dor e sentimento de
perda irreparável para alguns envolvidos, o projeto do filme que vinha desde
1968 partiu para um espaço imaginário destinado às fragmentárias películas do
subdesenvolvido cinema brasileiro.
Sumiu sem deixar rastros, comprovando a existência de
um “raquitismo filosófico”, esse projeto ocupacionista instaurado há anos na
cultura brasileira e que toma forma no cinema através de cada roteiro
engavetado, cada película avinagrada, cada filme que demora mais de 30 anos
para sair do roteiro (casos como O homem que não dormia (2011), de
Edgard Navarro), cada filme que mal consegue ser distribuído; e, como é o caso
de 69 – a construção da morte, o neocolonialismo toma forma através da
imponente sensação de medo imposta a uma geração de artistas.
Que, em meio aos resquícios parasitários dos que aqui
armaram botes, transcendam essas poderosas memórias, muitas narradas no
presente, indício de que (in)conscientemente possam estar vivas no imaginário
de uma geração, atestando a ideia de que “cinema é mais do que filme”.
REFERÊNCIAS
LEAL,
Hermes. Orlando Senna: O homem da montanha. Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo. São Paulo, 2008.
PUPPO,
Eugênio; HADDAD, Vera. Cinema Marginal Brasileiro e suas fronteiras: Filmes
produzidos nos anos 60 e 70. Brasília, 2004.
COELHO,
Frederico. Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado: cultura
marginal no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.
CARVALHO,
Maria do Socorro Silva. A Nova Onda Baiana: cinema na Bahia (1958-1962).
Salvador: Edufba, 2003.
SETARO,
André. Panorama do Cinema Baiano. Salvador: FUNCEB / Diretoria de Imagem
e Som.
ORMOND,
Andrea. Caveira My Friend. 2011, Belo Horizonte. Disponível em
<http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2011/06/caveira-my-friend.html>.
Acesso em: 26 set. 2014.
ENTREVISTAS
DEDA,
Harildo. Salvador, Bahia, 10 set. 2014. Entrevista concedida para Filipe
Barbosa de Oliveira.
GESSE,
Gessy. Lençóis, Bahia, 5 set. 2014. Entrevista concedida para Filipe Barbosa de
Oliveira.
LEAL,
Hermes. Lençóis, Bahia, 6 set. 2014. Entrevista concedida para Filipe Barbosa
de Oliveira.
SENNA,
Conceição. Lençóis, Bahia, 6 set. 2014. Entrevista concedida para Filipe
Barbosa de Oliveira.
SENNA,
Orlando. Lençóis, Bahia, 5 set. 2014. Entrevista concedida para Filipe Barbosa
de Oliveira.
* Filipe de Oliveira é estudante do
curso de Cinema e Audiovisual da UFRB.
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