Eleição no Brasil envolve disputa de poder entre Obama e Putin.
E Dilma pode ser a bola da vez...
Como se sabe, os BRICS ‒ sob a
liderança econômica de Beijing e política de Moscou ‒ vêm alavancando o
comércio mundial, o que os contrapõe aos Estados Unidos cuja economia passa no
momento por uma profunda crise e enfrenta graves desafios.
Habituados a considerar a América
Latina como seu quintal (backyard, como
o denominam) e forçados a aceitar o crescente intercâmbio comercial da China e
da Rússia com seus antigos satélites na região, os ianques vêm ainda com
crescente desconfiança as posições de independência que os governos de Luís
Inácio da Silva e de Dilma Rousseff têm tomado nos organismos multilaterais
como o G20 e os sinais de associação que começam a se formar entre Argentina,
Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua e o grupo formado pelo BRICS.
Como a desconfiança em relação à
política belicista dos Estados Unidos é cada vez mais crescente e não há
condições para o retorno dos golpes de estado do passado ‒ embora modalidades
diferentes de derrubada de governos legítimos tenham sido executadas no passado
recente em Honduras e no Paraguai ‒ o caminho mais plausível parece ser o
recurso às revoluções coloridas e às campanhas eleitorais tumultuadas por
acusações infundadas de corrupção, tráfico de influência e também em alguns
casos por assassinatos programados.
Algumas atitudes independentes
dos governos do Partido dos Trabalhadores como a não continuação do processo de
privatização da Petrobras iniciado pelo governo entreguista de Fernando
Henrique Cardoso, a descoberta das reservas submarinas do pré-sal, a recusa em
entregar os bancos estatais remanescentes (Banco do Brasil e Caixa Econômica
Federal) à sanha da banca privada, assim como o crescente intercâmbio comercial
com os BRICS fizeram com que os EUA começassem a temer que o “mau exemplo” do
Brasil pudesse exercer uma indesejável influência sobre outros países menores e
menos poderosos do subcontinente.
Não tendo obtido sucesso nas
eleições de 2010, os setores mais reacionários do nosso país ‒ que têm
naturalmente o seu epicentro em Washington ‒ voltaram à carga em 2014,
utilizando de novo como isca a candidatura de Marina da Silva, desta vez sob a
bandeira de um travestido Partido Socialista Brasileiro depois que este foi
abandonado por alguns de seus principais membros em seguida a uma clara deriva
à direita de sua direção.
No momento, aproveitando-se da
fragilidade atual do partido do governo cujos importantes líderes se encontram
na cadeia após um processo político em que sua culpabilidade não foi
devidamente comprovada, preparam a sua estratégia e organizam a linha de
combate para o que consideram ser o ataque final em que tentarão tomar o poder
do partido dominante.
Para executar o seu plano, o
império americano e seus esbirros no Brasil construíram uma ampla teia de
alianças que abrange o agronegócio, os bancos, setores do funcionalismo público
que agem como uma quinta coluna, a classe média sempre assustada e
essencialmente conservadora e ‒ como o candidato de direita não tem projetos ‒
os meios de comunicação, que blindam o passado nebuloso e enevoado de Aécio
Neves e atuam na prática como o verdadeiro partido de oposição.
No momento em que os Estados
Unidos e a Europa tentam sufocar a Rússia por meio de sanções, uma vitória da
candidata Dilma Rousseff irá certamente fortalecer os BRICS e sua política hoje
claramente distanciada do belicismo de Israel e dos países da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que aspiram a uma dominação mundial.
As eleições de 2014 ocorrem num
momento em que, pela primeira vez na nossa história, não estamos mais na
condição de vassalos de uma potência estrangeira. Por outro lado, pela segunda
vez temos hoje, como nos tempos do chanceler San Tiago Dantas, uma política
externa independente e não é por certo estranho que ‒ exatamente como durante o
governo João Goulart ‒ o Brasil sofra agora um cerco verdadeiramente monumental
que tem como exato objetivo a interrupção dos avanços sociais que foram
alcançados nos últimos anos e que podem levar a um aumento de consciência da
população.
Para impedir que isto ocorra, as
atrasadas elites do Brasil ‒ hoje concentradas, como em 1932, no Estado de São
Paulo ‒ recorrem aos mais sórdidos expedientes como o racismo e chegam até
mesmo a propor a matança sistemática de nordestinos, como ocorreu recentemente
em um diálogo entre profissionais da classe médica numa rede social.
No primeiro semestre desse ano, o
jornalista Wayne Madsen informou que um dos principais objetivos do presidente
Barack O’bomber (apelido que recebeu
por seu hábito de bombardear de forma indiscriminada vastas regiões do planeta)
era a implosão dos BRICS, em seu propósito de quebrar a emergente liderança
agora exercida por Vladimir Putin na Rússia.
As eleições presidenciais, que
terão lugar no próximo dia 26 de outubro, oferecem ao presidente afro-americano
a possibilidade de recuperar um poder ‒ que muito em função dos seus erros,
ganância e truculência ‒ os Estados Unidos vêm perdendo em nosso país. Em
consonância com esse propósito, seu candidato Aécio Neves já anunciou uma
política, que propõe a volta das privatizações, o aumento das tarifas públicas
e o tradicional arrocho fiscal, temas que geralmente fazem parte do receituário
do Fundo Monetário Internacional de triste memória para todos os brasileiros
Por outro lado, estar alinhado
com um país cuja política tem consistido em bombardear e dividir – como vem
fazendo de forma sistemática o governo americano no Iraque, Afeganistão, Líbia,
Síria e mais recentemente na Ucrânia – pode não trazer muitos votos para o
candidato que hoje personifica a nova cara da direita no Brasil. Como sabemos,
essa estratégia não produziu os resultados ambicionados e, ao contrário, tem
isolado os Estados Unidos do resto do mundo.
Será que voltaremos aos tempos em que nossos ministros
das Relações Exteriores pronunciavam frases como “o que é bom para os Estados
Unidos é bom para o Brasil” (Juracy Magalhães) e “o Brasil está fadado a ser,
por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos” (Raul Fernandes)?
Sérvulo
Siqueira
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