Malatesta: Sabíamos que nada tínhamos a dizer de novo.
A vida de um militante
naqueles dias de “entusiasmo”, quando a juventude estava sempre disposta a qualquer sacrifício pela
causa e nós estávamos animados pelas mais arrebatadas esperanças.
A revolução não é, e não pode
ser, senão a repetição contínua, incansável, dos princípios que devem nos
servir de guia na conduta que devemos ter nas diferentes circunstâncias da
vida.
Repetiremos, portanto, com
termos mais ou menos diferentes, mas no fundo constantes, nosso velho programa revolucionário.
A sociedade atual é o
resultado das lutas seculares que os homens empreenderam entre si.
Entre o homem e a ambiência
social há uma ação recíproca. Os homens fazem a sociedade tal como é, e a
sociedade faz os homens tais como são, resultando disso um tipo de círculo
vicioso: para transformar a sociedade é preciso transformar os homens, e para
transformar os homens é preciso transformar a sociedade.
A miséria embrutece o homem
e, para destruir a miséria, é preciso que os homens possuam a consciência e a
vontade. A escravidão ensina os homens a serem servis, e para se libertar da
escravidão é preciso homens que aspirem à liberdade. A ignorância faz com que
os homens não conheçam as causas de seus males e não saibam remediar esta
situação; para destruir a ignorância, seria necessário que os homens tivessem
tempo e meios de se instruírem.
O governo é a conseqüência do
espírito de dominação e de violência que homens impuseram a outros homens, e,
ao mesmo tempo, é a criatura e o criador dos privilégios, e também seu defensor
natural.
Quando o povo se submete
docilmente à lei, ou o protesto permanece fraco e platônico, o governo se
acomoda, sem se preocupar com as necessidades do povo. Quando o protesto é
vivo, insiste e ameaça, o governo, segundo seu humor, cede ou reprime. Mas é
preciso sempre chegar à insurreição, porque, se o governo não cede, o povo
acaba por se rebelar; e, se ele cede, o povo adquire confiança em si mesmo e
exige cada vez mais, até que a incompatibilidade entre a liberdade e a
autoridade seja evidente e desencadeie o conflito.
Desejamos, portanto, abolir
de forma radical a dominação e a exploração do homem pelo homem. Queremos que
os homens, unidos fraternalmente por uma solidariedade consciente, cooperem de
modo voluntário com o bem-estar de todos. Queremos que a sociedade seja
constituída com o objetivo de fornecer a todos os meios de alcançar igual
bem-estar possível, o maior desenvolvimento possível, moral e material.
Desejamos para todos pão,
liberdade, amor e saber.
Sopra um vento de revolta em
todos os lugares. A revolta é aqui a expressão de uma idéia, lá o resultado de
uma necessidade; com mais freqüência ela é a conseqüência de uma mistura de
necessidades e de idéias que se engendram e se reforçam umas às outras. Ela se
desencadeia contra a causa dos males ou a ataca de modo indireto, ela é
consciente e instintiva, humana ou brutal, generosa ou muito egoísta, mas de
qualquer modo, é a cada dia maior e se amplia incessantemente.
É a marcha da história. É,
portanto, inútil perder tempo a lamentar quanto aos caminhos que ela escolheu,
pois estes são traçados por toda a evolução anterior.
O fim justifica os meios.
Denegriu-se muito esta máxima: ela é, entretanto, uma regra universal de
conduta. Seria melhor dizer: todo fim requer seus meios, visto que a moral deve
ser buscada no objetivo, os meios são fatais.
A moral é a regra de conduta
que cada homem considera como boa. Pode-se achar má a moral dominante de tal
época, de tal país ou de tal sociedade, e achamos, com efeito, a moral burguesa
mais do que má; mas não se poderia conceber uma sociedade sem qualquer moral,
nem homem consciente que não tenha critério algum para julgar o que é bom e o
que é mal, para si mesmo e para os outros.
Alguns indivíduos, de
espírito limitado, mas providos de espírito lógico poderoso, quando aceitam
premissas, extraem delas todas as conseqüências até que, por fim, e se a lógica
assim o quer, chegam, sem se desconcertar, aos maiores absurdos, à negação dos
fatos mais evidentes. Mas há outros indivíduos mais cultos e de espírito mais
amplo que encontram sempre um meio de chegar a conclusões mais ou menos
razoáveis, mesmo ao preço da violentação da lógica. Para eles, os erros
teóricos têm pouca ou nenhuma influência na conduta prática. Mas, em suma,
desde que não se haja renunciado a certos erros fundamentais, estamos sempre
ameaçados por silogismos exagerados, e voltamos sempre ao começo.
Na verdade, os resultados eram
pequenos porque éramos pouco numerosos, porque os objetivos sociais pelos quais
se queria fazer a revolução eram desconhecidos e rejeitados pelo conjunto da
população; porque, em suma, “os tempos não estavam maduros”.
Hoje nós só queremos o
triunfo da liberdade e do amor.
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