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terça-feira, 2 de novembro de 2010

NOVOS RUMOS


Notícia digna de uma reflexão do artista excluído.

(Sai resultado do edital de Baixo OrçamentoA Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura anunciou o resultado do edital de longas-metragens de Baixo Orçamento. Ao todo, serão distribuídos R$ 8,4 milhões entre sete projetos (R$ 1,2 milhão para cada).
Oswald de Andrade, Blaise Cendrars, Camargo Guarnieri, Osvaldo Goeldi, Murilo Mendes, Pedro Nava, Augusto dos Anjos, Geraldo Pereira, Franz Krajcberg, Arlindo Daibert, Peter W. Lund, Nunes Pereira...
A pergunta que não quer calar:
O que fez de errado um cineasta que tem a sua filmografia regada na memória de muitas vozes perdidas, de fatos importantes dos personagens da nossa história cultural, retratando-os de maneira original em filmes de longa, média e curta metragem muitas vezes premiados aqui e no exterior, para, em mais de 25 anos, ainda não ter recebido nenhum financiamento público para realizar outro filme, perdendo todos os editais que participou?

As 12 respostas possíveis:

1 Não compactuou com o sistema vendendo a sua alma ao diabo do mercado.
2 Não fez política cinematográfica nos sindicatos e associações afins.
3 Não fez amizade com a turma do cinema novo.
4 Não se aproximou dos políticos certos.
5 Não sabe negociar e nem cedeu à ganância dos 30%.
6 Não tem uma produtora.
7 Não trabalha com equipe global.
8 Não tem amigos nos altos cargos do governo, das estatais e nem na elite
empresarial.
9 Não tem amigos na turma jovem do novíssimo cinema brasileiro.
10 Faz um cinema autoral que não interessa mais a ninguém.
11 É rebelde, poético, pouco compreendido e pouquíssimo conhecido.
12 É um louco pobre e atormentado iludido que mesmo desfragmentando-se no
caos da sua existência continua acreditando que é possível criar.

Do cinema

É tudo isso e mais também que eu sempre acreditei que é preciso com talento transformar uma parte significativa da arte brasileira em obras inventivas e experimentais. Briguei muito por isso. Hoje não brigo mais...

Ao espectador e ao crítico

Acredito nas obras que transportam o espectador, de todos os matizes sociais e culturais, a um universo cinematográfico de imagens e textos que ele ainda não havia visto, ouvido, lido, imaginado, experimentado. Sendo, para o crítico, tudo novo de difícil compreensão, para o espectador, a cada filme exibido, uma surpresa agradável e outras surpreendentes: um murro na cara, um vento gélido na pele, uma tempestade na mente, uma saturação de claros e escuros aos olhos que buscam o que lhe é desconhecido, oculto, letárgico na ilusão ótica de quadros variados em movimento rápidos e abstratos sobre todas as coisas relacionadas as verdades ou as mentiras dos homens.

Aos que me julgaram

Sou como muitos... Não sou único e nem sou artista do mal. Dizem que sou rebelde e que estou errado, que a língua que falo é morta, pois ninguém entende, ninguém fala e ninguém quer saber... Digo que não me importo com essa opinião boçal. Sou do bem. Fico com Monteiro Lobato, que sofre nos dias de hoje a censura do passado, e vamos novamente eliminar todos os acentos que não são necessários e criar uma nova maneira de lidar com a língua na contribuição de todos os erros, com diria Oswald de Andrade e eu, do meu lado, no meu tempo, no meu espaço, vou continuando, as duras custas e penas, as minhas experiências visuais no desejo de criar uma arte cinematográfica diferenciada onde não só se vê mas se tem preferencialmente visões deste grande Brasil oculto ainda inexplorado.

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