UMA REVISTA DE ARTE Recebi hoje pelo correio, aqui em Cabo Frio, a revista Portfólio Brasil dedicada ao artista plástico, arquiteto, escultor, designer, cineasta e meu amigo Paulo Laender.
Conheci esse artista polivalente quando em 1962 me mudei para Belo Horizonte vindo do Rio de Janeiro.
Éramos quase crianças.
Paulo foi pra mim, devo confessar, mais que um amigo, ele foi, na minha adolescência provinciana, o corte sistêmico entre o ver, sem saber e o saber ver, sem corte.
Ver, com os olhos livres e depois ter visões, que é o princípio, o estalo cosmogônico, no pensar e no realizar de uma obra de arte, foi ele quem me mostrou que existia outra realidade, outro mundo, mais inteligente, mais sensível e mais culto.
Foi Paulo Laender que me contaminou com as musas gregas, as filhas de Zeus e Mnemósine, e me inspirou a abraçar e a entender o que é o talento, o sopro criador que nos possibilita inventar, experimentar e criar uma obra de arte.
Desde que o conheci ele já manifestava, de maneira singular, esse dom.
Lembro-me que ele montava umas caixinhas com bonecos em seu interior, como oratórios profanos, que eram, aos meus olhos de aprendiz, mágicas e misteriosas.
Como eu admirava a sua habilidade no tracejo e no entendimento, inocente ainda, da composição, das formas e do equilíbrio das cores, em suas primeiras pinturas.
Crescemos juntos, posso dizer. Ele sempre na frente como um guia as minhas aventuras infanto-juvenis.
Foi ele quem me levou ao alto horizonte, o bar do ponto, ao restaurante do edifício Maleta e me apresentou aos principais artistas e intelectuais da minha época.
Paulo Laender, é preciso que se diga, dirigiu um filme primeiro do que eu – “Tostão, A Fera de Ouro” - produzido pelo saudoso cineasta e crítico de cinema Maurício Gomes Leite.
São muitas as histórias que passamos juntos, daria para escrever outras revistas, mas é como eu falo pela boca do meu personagem no filme Amaxon: - Que mistério profundo une as pessoas e depois as separam?
Esse mistério se dissipou quando hoje, chegando do Rio, recebi, na portaria do condomínio onde moro, o envelope pardo com a preciosa lembrança.
Surpresa! Paulo Laender na capa peb de uma bela Revista, muito bem editada, tendo no corpo editorial a presença, na criação e direção de arte, do seu filho Cris, de gratas lembranças, mostrando todo o seu talento, em um trabalho primoroso; isso sem dizer das fotografias – espetaculares, pois penetra entre luzes e sombras, em todas as suas tonalidades e nas cores necessárias e muito bem iluminadas, quando se quer mostrar o espaço ocupado pela obra, nos fazendo sentir a dimensão do objeto. Também com a assinatura do excelente e talentoso fotógrafo, meu amigo Rogério Franco, você não podia ter nada melhor.
Os textos críticos e elucidativos do Ângelo Osvaldo, Frederico Morais, Márcio Sampaio e Olívio Tavares, são escritos com saber e admiração pelo seu trabalho, conseguindo nos levar a compreender, em um lance de olhos, toda a beleza e todo o mistério gaudioso que impregna suas pinturas, esculturas, objetos e abstrações repletas de imagens e símbolos mnemônicos.
O artista mais uma vez me surpreendeu por ser guiado com tal nobreza por esses bons observadores da arte brasileira que através do tempo e da convivência contemplaram todo o seu talento criativo.
Sua obra é de um equilíbrio raro, passando-nos pelas fotografias vistas, uma a uma, um sentimento de grandeza simbólica, sem se perder na singeleza e na harmonia das ondas e das curvas talhadas nas madeiras superpostas. Transforma e recria, a sua maneira, a natureza das coisas. Revela-nos outros mundos, outros objetos, ainda perdidos, mágicos ainda.
Obra essencialmente universal, argila ungida com arte e engenho por sua alma mineira, tangida pelo mar de montanhas que envolvem o seu espaço físico de trabalho em Nova Lima.
Alma introspectiva e dogmática, que viaja pelo mundo das artes, livre, sem fronteiras, guiado pela identidade brasileira, mineira, provinciana, de artesão, cabôclos dos idos longínquos perdidos no vale do Mucuri, miscigenado ao seu profundo conhecimento das obras dos grandes mestres, de todos os tempos, característica que podemos observar através da montagem cronológica das páginas coloridas desta Revista, na diversidade cultural dos nomes escolhidos, para cada uma de suas obras e nas cores muitas vezes volpinianas-mironianas- braqueneanas- das festas e do folclore das cidades históricas mineiras e a influência do barroco na estravagância de suas formas.
Viajando com ele, nos objetos, pinturas e esculturas e principalmente em sua trajetória como artista, nos é desvendado, onde o sentir são mais bocas do que olhos, o delicioso banquete de arte de primeira que nos é oferecido enquanto saboreamos as páginas desta revista imperdível.
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