Diálogo do desespero grafite em parede
- Estou só começando a rasgar a chita!
Disse-me, com a voz tonitruante, o professor, quando me encontrou e depois, pegando com força no meu braço, vociferou:
- Alô, jornalista! Vocês do rádio, apresentadores de televisão, redatores de revista, de blogs da Internet e de minguados jornais! Alô, empresários! Burocratas! Burguesia nacional! Alô, governo da república! Sem a boa arte brasileira, servida por todos os meios ao povo, não há salvação...
Gritava o maluco pela rua afora segurando no meu braço. Eu tentava despistar a sua presença... Ele se dirigia aos passantes, um a um, mano a mano, cabeça a cabeça, indiscriminadamente.
- Vocês que ai estão, propositalmente, massacrando as mentes já bastante poluídas do inocente cidadão, com matérias de engano e mal dizer, desunindo as classes, prá mais e prá menos, aumentando o universo doentio do consumo, a qualquer preço, impulsionando o mercado capitalista predador, tomam vergonha!
- Cala-te professor! Eu não sou jornalista!
- Se ficamos calados! Se não formos paras ruas! Se não movimentarmos a nossa consciência, a nossa inteligência, nós ficamos de acordo com o que foi programado, e é tudo o que eles querem.
- Eles quem professor?
- O Império das Comunicações! Abra os seus olhos inocentes para o mundo! – O Império, que é vigilante e extremamente inteligente, protela a felicidade, destrói o planeta, promove a violência e dissemina o vírus maldito do câncer social. - E vocês, ai parados! Não querem fazer nada?
Tive que retirar o professor dali, pois já se instalava um princípio de confusão - ele não agüentaria uma briga nesta idade, pensei eu.
Saímos um pouco apressado contra a vontade do mestre. Assim que passamos por um café, paramos. Ele me fez entrar e sentar em uma mesa de canto. Fumando seu charuto baiano, disse que me contaria um segredo. Depois das várias baforadas em seu baiano, que incomodavam os nossos vizinhos de mesa, aproximou o seu rosto suado perto do meu e confidenciou-me:
- No Brasil e também no mundo, a televisão, o cinema, os jornais, as revistas, as rádios, as empresas de propaganda e seus agentes (poderosos tentáculos da inteligência colonial, que domina as comunicações), mais a elite da indústria nacional e internacional, estatal e privada, todos juntos, descartando os que não são mais necessários, destroem, sem dó nem piedade, os seus oponentes, e são nestes momentos de euforia, de vitória, que essa gente sofre uma espécie de gozo etéreo, quase divino, com o poder manipular os nossos menores desejos...
O professor toma o seu café, como se tomasse uma dose de cachaça, de um gole só. Depois grita para todos ouvirem:
- Paguei a língua! Estou falando de nossa grana! Deste miserável salário, que mal dá pra comprar os meus charutos, seus imbecis!
- Professor! Está muito quente hoje, mais de quarenta graus, vamos beber mais devagar esse café... e depois ir embora...
- Eles destroem o que resta da vida inteligente com a velha arrogância de sempre.
Eu tento concordar com ele enquanto tomo o meu café. Mas ele não para de falar
- É preciso dizer ainda que os liberais da classe média e as novas ondas de euforia de um proletariado com mais poder aquisitivo, por mais numerosos que sejam eles, sempre serão massas de manobra, instrumento necessário ao sistema injusto que dominam o mundo, e pode ter certeza, vocês não serão nunca informados do que realmente interessa a eles... Falo da evolução do homem! De todos os seres vivos! De todos vocês ai!...
- Tipo... Como e qual deve ser a meta possível?
- No tempo e na história... Eu já preparei todos os estudos do conhecimento humano acumulado e de como sabê-los em pouco tempo de estudo, é como estudar em uma universidade. Ali está à receita do que um homem necessita para ser feliz. É simples...
- Tudo que é necessário a felicidade existencial de cada um que vive neste planeta?
- Sim! Mas primeiro tem que se transformar o país. Fazer todas as reformas necessárias ao sistema estabelecido. Para isso, o país precisa primeiro ter o pleno domínio da comunicação – a primeira reforma a ser implantada por qualquer governo que quer realmente fazer a diferença. Trazer a liberdade, prover o homem de saúde e educação, ensinar o conhecimento humano acumulado.
- O país e o seu povo têm esse direito de não ficar a reboque de uma cultura que não é a sua...
- Se o poder das comunicações for livre - arte para todos – e for gerado por competência e não por ganância; se houver uma mudança radical em todos os meios de comunicação do país e se todos fizerem uma nova reflexão sobre a relação da arte com a liberdade e sobre o papel da mídia neste novo mundo, com projeção para um futuro cada vez mais rápido, os poderosos conservadores, os desesperados da ditadura econômica, não entregarão esse império por nada.
- Isso parece conversa de maluco, mas não atiro na sua razão... Precisamos de mais justiça!
Já começava a me empolgar com o professor.
- Veja como ficou desgastada a expressão “Justiça Social”. Todos beócios engravatados que freqüentam a corte do poder usam esta expressão para mostrar-se socialmente correto, encobrindo a verdadeira missiva do mundo egoísta em que vivem: primeiro a justiça pessoal e depois, sem pressa e se deus quiser, a social.
- Mas temos a eleição, vamos derrubá-los...
- Eleições democráticas?... A maioria troca o seu voto por um pão com manteiga; meia dúzia de tijolos e um saco de areia, promessas de emprego e portarias, acreditam e fazem da política uma espécie de clube de futebol, onde só vence quem tem a maior torcida...
- Se não trocar o voto, trocamos o juiz, as urnas, lembre-se que não estamos em uma Olimpíada, aqui nós não vamos competir, aqui nós vamos é ganhar, o jogo, a eleição e tudo mais... Disse-me outro dia o deputado que quer ser reeleito...
- Quem pode acreditar nesta jovem república? Vocês já pensaram nos novos políticos que estão se apresentando para dirigir democraticamente o Brasil?
- Eu pensei... Eu não tenho em quem votar, conclui. Eu não vou votar!
- SerraEleDilma, Fernandinho, AecinhoGarotinho, CyrodeMarina, e Gabeiras Creioemdeuspadre! Não! Eu não vou votar! Votei no Lula, mas antes no Brizola... Eu não tenho mais em quem votar! Não sei votar... Não preciso votar!
Volta e meia, penso assim...
Que continue mais um mandato o Presidente Lula.
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