ENTREVISTA José Sette
1) Como você
conceituaria sua filmografia?
Um cinema futurista
de invenção e descobrimento, orquestrado por um poeta colecionador de memórias
ocultas, desvendando o esquecido e desnudando a história. Um cinema sem
pré-conceitos, resgatando para o meu tempo, pela minha ótica, as imagens, os
textos, de alguns dos grandes brasileiros que eu tive o prazer de estudá-los,
conhecê-los e filmá-los.
2) Você se
enquadra em alguma etapa específica do cinema brasileiro?
Não posso ser
enquadrado em nenhuma escola cinematográfica da minha época. Fiz o meu primeiro
filme (experimental) no exílio, início da década de setenta. Fiquei amigo,
nesta mesma época, dos cineastas Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Neville de
Almeida, Andrea Tonacci, Luis Rosemberg,
nunca fui amigo do Glauber Rocha e nem participei de nenhum movimento de política
cinematográfica. Faço um cinema atemporal, antropofágico, de alma cabocla. Sou
um meleagro (feiticeiro) das imagens.
3)
Quais são
os seus projetos para cinema, em 2016?
Fiz meu último
filme aqui em Cabo Frio, AMAXON, um corte nos trapos da memória feminina entre
o ser e o não ser e já faz mais de cinco anos que não filmo, No ano passado descobri uma cópia em 16 mm de
um filme que julgava perdido e agora, no dia 6 de janeiro filmo no Rio a parte
que falta para terminar esse documentário de memória religiosa - A CASA DAS
MINAS, sobre o culto afro mina gege, que foi filmado em São Luis do Maranhão.
Logo em seguida, em fevereiro, assim espero, filmo o meu novo e esperado longa
metragem de ficção no Rio de Janeiro - QUEBRANTO. Gostaria também de participar
da próxima campanha política da cidade fazendo um outro filme documentário.
UM DIRETOR SEM DIREÇÃO
Fabio Carvalho
Estou entre
Juscelino e Kurt Weill, sinto através da fresta da porta, o olhar furioso do
Bertold Brecht que nos espreita. Neville pergunta: você sabe qual a religião de
Deus? Como não houve resposta, ele mesmo responde: a religião de Deus é a arte.
O plano da varanda do Hotel Tijuco permite ver a chuvinha fininha que finalmente
cai sobre a Serra dos Cristais depois do canto da cigarra, levando embora as
muriçocas, trazendo um grande prazer até exaurir-me em ardor. Faça sua foto
antiga na hora dizia a placa pintada à mão, dependurada na velha câmera Lambe-
lambe do fotógrafo no centro de Diamantina. Fiz na hora minha foto antiga.
Muito a contragosto do velho fotógrafo, cobri meu rosto com o celular e fiz uma
foto dele durante o ato de me fotografar. Na hora registramos o passado. O
mínimo que devemos realizar nesse filme, é alguma coisa de bastante original.
Perambulo pelas ruas desertas na noite de domingo olhando para o chão de pedra
polida, procurando encontrar o último brilhante perdido do garimpo explorado
até a exaustão, conforme uma voz feminina sussurrou secretamente no meu ouvido
esquerdo. De súbito, me vi transladado para 1944, apareci no evento de
colocação de peixes vivos na recém inaugurada Lagoa da Pampulha. Ao meu lado
estavam: Orson Welles como cidadão Kane, Guará como ele mesmo e o Robert de
Niro de pé de pato, calção de banho e uma toalha cor de Ametista no ombro. De
frente para mim estava Grande Otelo falando ao pé do ouvido de um homem alto
curvado para conseguir ouvir, tampando o rosto com a mão para não ser
reconhecido. Desconfio saber muito bem quem era. Um mestre de cerimônia vestido
de fraque, com um nariz vermelho de palhaço, proferia um discurso completamente
absurdo. A cantora Sylvia Klein, vestida de Yemanjá, em pé em cima da proa de
um barco todo decorado com flores se aproximava da margem, cantando “Peixe
Vivo”. Um aquário enorme é revirado nas águas da Lagoa, muitos peixes se
retorcendo se espraiam em prazer total. Neste momento tudo se transforma num
grande Carnaval, num grande ritual com fortes explosões de sons, cores e
brilhos. O talismã da riqueza dourada. Que saudades da professorinha, que me
ensinou o beabá, onde andará Mariazinha, meu primeiro amor onde andará? O lume
da estrela rosa que eu procurava, me pareceu bastante lúbrico, o que não era de
todo mau. Em Diamante devaneio o roteiro fluiu muito bem, agora tenho que
partir para o serviço sujo: fazer o orçamento. Vamos em frente. Felizmente
agora o plural está correto, já que tenho várias pessoas me empurrando, se é
para o abismo não sei, sei que vou sem sombra de dúvidas. Não quero ser visto
por quem não vejo. O segredo para alcançar o do dom da invisibilidade é ver
primeiro. Realmente eu preferia que você estivesse nua. Tudo resolvido,
perguntou o coelho do Murilo Rubião em desembalada correria. Gostamos assim
mesmo, responderam alguns. Em toda cama que eu durmo só dá você. Se São
Francisco Tivesse encontrado Dom Quixote, o que você acha que teria dito? A que
horas teria sido o encontro? Ao nascer do dia? Ao meio dia? De noite com o céu
estrelado? Eis aí a dicotomia, ente o claro e o escuro. Pela manhã bom dia.
Ensaio Diamante, veja alto e ouça rápido. Pouco a pouco vem a calma e
compreendemos que a chave do conhecimento não está dependurada no baixo ventre.
Roberto Rossellini. Você me desnorteia. Entendo que no mundo tudo se acabou. Tento
escapar. Procuro um ponto de fuga, vejo que não há saída. Noite chamada
saudade. Como fugir de mim mesmo? Imagino que em Youkali sou a verdade
sentimental infinita e profunda, que a todo custo, escondo dos outros.
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