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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

PAPO DE CINEMA


ENTREVISTA  José Sette

1)     Como você conceituaria sua filmografia?
Um cinema futurista de invenção e descobrimento, orquestrado por um poeta colecionador de memórias ocultas, desvendando o esquecido e desnudando a história. Um cinema sem pré-conceitos, resgatando para o meu tempo, pela minha ótica, as imagens, os textos, de alguns dos grandes brasileiros que eu tive o prazer de estudá-los, conhecê-los e filmá-los.

2)     Você se enquadra em alguma etapa específica do cinema brasileiro?
Não posso ser enquadrado em nenhuma escola cinematográfica da minha época. Fiz o meu primeiro filme (experimental) no exílio, início da década de setenta. Fiquei amigo, nesta mesma época, dos cineastas Rogério Sganzerla, Julio Bressane, Neville de Almeida,  Andrea Tonacci, Luis Rosemberg, nunca fui amigo do Glauber Rocha e nem  participei de nenhum movimento de política cinematográfica. Faço um cinema atemporal, antropofágico, de alma cabocla. Sou um meleagro (feiticeiro) das imagens.

3)      Quais são os seus projetos para cinema, em 2016?
Fiz meu último filme aqui em Cabo Frio, AMAXON, um corte nos trapos da memória feminina entre o ser e o não ser e já faz mais de cinco anos que não filmo,  No ano passado descobri uma cópia em 16 mm de um filme que julgava perdido e agora, no dia 6 de janeiro filmo no Rio a parte que falta para terminar esse documentário de memória religiosa - A CASA DAS MINAS, sobre o culto afro mina gege, que foi filmado em São Luis do Maranhão. Logo em seguida, em fevereiro, assim espero, filmo o meu novo e esperado longa metragem de ficção no Rio de Janeiro - QUEBRANTO. Gostaria também de participar da próxima campanha política da cidade fazendo um outro filme documentário.

  
UM DIRETOR SEM DIREÇÃO

Fabio Carvalho

Estou entre Juscelino e Kurt Weill, sinto através da fresta da porta, o olhar furioso do Bertold Brecht que nos espreita. Neville pergunta: você sabe qual a religião de Deus? Como não houve resposta, ele mesmo responde: a religião de Deus é a arte. O plano da varanda do Hotel Tijuco permite ver a chuvinha fininha que finalmente cai sobre a Serra dos Cristais depois do canto da cigarra, levando embora as muriçocas, trazendo um grande prazer até exaurir-me em ardor. Faça sua foto antiga na hora dizia a placa pintada à mão, dependurada na velha câmera Lambe- lambe do fotógrafo no centro de Diamantina. Fiz na hora minha foto antiga. Muito a contragosto do velho fotógrafo, cobri meu rosto com o celular e fiz uma foto dele durante o ato de me fotografar. Na hora registramos o passado. O mínimo que devemos realizar nesse filme, é alguma coisa de bastante original. Perambulo pelas ruas desertas na noite de domingo olhando para o chão de pedra polida, procurando encontrar o último brilhante perdido do garimpo explorado até a exaustão, conforme uma voz feminina sussurrou secretamente no meu ouvido esquerdo. De súbito, me vi transladado para 1944, apareci no evento de colocação de peixes vivos na recém inaugurada Lagoa da Pampulha. Ao meu lado estavam: Orson Welles como cidadão Kane, Guará como ele mesmo e o Robert de Niro de pé de pato, calção de banho e uma toalha cor de Ametista no ombro. De frente para mim estava Grande Otelo falando ao pé do ouvido de um homem alto curvado para conseguir ouvir, tampando o rosto com a mão para não ser reconhecido. Desconfio saber muito bem quem era. Um mestre de cerimônia vestido de fraque, com um nariz vermelho de palhaço, proferia um discurso completamente absurdo. A cantora Sylvia Klein, vestida de Yemanjá, em pé em cima da proa de um barco todo decorado com flores se aproximava da margem, cantando “Peixe Vivo”. Um aquário enorme é revirado nas águas da Lagoa, muitos peixes se retorcendo se espraiam em prazer total. Neste momento tudo se transforma num grande Carnaval, num grande ritual com fortes explosões de sons, cores e brilhos. O talismã da riqueza dourada. Que saudades da professorinha, que me ensinou o beabá, onde andará Mariazinha, meu primeiro amor onde andará? O lume da estrela rosa que eu procurava, me pareceu bastante lúbrico, o que não era de todo mau. Em Diamante devaneio o roteiro fluiu muito bem, agora tenho que partir para o serviço sujo: fazer o orçamento. Vamos em frente. Felizmente agora o plural está correto, já que tenho várias pessoas me empurrando, se é para o abismo não sei, sei que vou sem sombra de dúvidas. Não quero ser visto por quem não vejo. O segredo para alcançar o do dom da invisibilidade é ver primeiro. Realmente eu preferia que você estivesse nua. Tudo resolvido, perguntou o coelho do Murilo Rubião em desembalada correria. Gostamos assim mesmo, responderam alguns. Em toda cama que eu durmo só dá você. Se São Francisco Tivesse encontrado Dom Quixote, o que você acha que teria dito? A que horas teria sido o encontro? Ao nascer do dia? Ao meio dia? De noite com o céu estrelado? Eis aí a dicotomia, ente o claro e o escuro. Pela manhã bom dia. Ensaio Diamante, veja alto e ouça rápido. Pouco a pouco vem a calma e compreendemos que a chave do conhecimento não está dependurada no baixo ventre. Roberto Rossellini. Você me desnorteia. Entendo que no mundo tudo se acabou. Tento escapar. Procuro um ponto de fuga, vejo que não há saída. Noite chamada saudade. Como fugir de mim mesmo? Imagino que em Youkali sou a verdade sentimental infinita e profunda, que a todo custo, escondo dos outros. 

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