Por
detrás do antitabagismo
Mario Drumond
Peço ao leitor que veja este artigo com olhos livres
e sem preconceitos; escrevo-o desinteressadamente e a favor do bom senso e do
debate civilizado. Por ser uma voz solitária neste tema-tabu tive de alongá-lo
para que contivesse toda uma argumentação inédita nos meios de comunicação
(incluindo os “alternativos”), pelo que peço também a sua paciência.
Começo por alguns dados pesquisados na web em fontes
que podemos considerar como idôneas, pelo menos para as questões que aqui vamos
abordar.
A ONG inglesa ASH (Action on Smoking and Health),
dedicada ao antitabagismo, tem motivos para se orgulhar dos dados estatísticos
que vem obtendo desde o início de suas pesquisas em 1974: a proporção da
população adulta fumante (maiores de 16 anos) na Inglaterra caiu
vertiginosamente de 45% naquele ano para 20% em 2012. É uma bruta queda real de
56% na proporção de fumantes! E radical se considerarmos o substancial aumento
da população no período e que lá, ao contrário da maioria dos países
ocidentais, o debate sobre o tabagismo é aceito com naturalidade e sem
histerias, existindo até ONGs que se dedicam à crítica do antitabagismo,
sem constrangimentos (como p. ex. a Forest).
É possível que tal queda no número de fumantes tenha
sido ainda maior nos EUA e em países como o nosso onde só há espaços para a
campanha antitabagista. Jornais brasileiros em matérias recentes sobre a nova
(e mais rigorosa) legislação antitabagista, citando o INCA (Instituto Nacional
do Câncer), publicam que, “no Brasil, pouco mais de 11% da população adulta é
fumante” (portanto, se nossos números em 1974 fossem semelhantes aos da
Inglaterra, teríamos aqui uma queda de 75%!). A OMS (Organização Mundial de
Saúde) “estima” em um terço de fumantes na população mundial. Ou seja, eles não
se entendem em suas diversas “estimativas”. Mas, para efeito deste artigo,
vamos considerar os números ingleses como uma média referencial da vitória
antitabagista no chamado “mundo ocidental”.
Ora, tamanha vitória deveria significar uma
substancial derrota não somente do tabagismo, mas, também, ao menos em um grau
de razoável proporcionalidade, das doenças que os antitabagistas denunciam como
causadas pelo nefasto uso do tabaco. Afinal, seria (ou deveria ser) este o
objetivo da campanha antitabagista, não? Eis que, neste ponto, surgem severas
contradições para as quais chamamos a atenção do leitor.
O National Cancer Insitute (EUA) publica em
complexas e detalhadas tabelas as variações medidas sobre a incidência dos
diversos tipos de câncer na população daquele país, no período compreendido
entre 1975 e 2011. Nelas constatam-se quedas insignificantes (se comparadas com
a de fumantes), entre zero e 2,1%, e até ocorrências de aumentos também
residuais. Se considerarmos a espetacular evolução das tecnologias médicas e
farmacêuticas que nos são ostentadas quase diariamente pelos meios de
comunicação, temos de reconhecer que há um empate com sabor de derrota nesta
luta em que a enorme queda verificada no tabagismo para o mesmo período pouco
ou nada contribuiu.
Resultados parecidos verificam-se nas “doenças
isquêmicas do coração e cerebrovasculares, nas cinco regiões do Brasil, no
período de 1981 a 2001”, um estudo publicado pelo Ministério da Saúde e
Instituto do Coração do Hospital das Clínicas – FMUSP (vários autores) acusando
inclusive crescimentos relativamente substanciais observados nas regiões mais
pobres do país.
Não é o nosso propósito tratar a questão do tabaco e
dos males que por desventura causa aos que dele fazem uso, eis porque ficamos
apenas nessas duas que consideramos significativas contradições constatadas em
rápida pesquisa na web. O que este artigo propõe é o debate sobre a campanha
antitabagista, particularmente no Brasil, e os males que causa aos que
desgraçadamente dela se tornam vítimas (e não me refiro apenas aos fumantes).
A verdade irrefutável é que, em números absolutos,
apesar da queda abismal no consumo de tabaco que se verificou nos últimos 40
anos de combate ao tabagismo houve um crescimento astronômico das diversas
patologias supostamente causadas pelo tabaco. Neste período a população mundial
mais que duplicou e, apesar dos grandes avanços científicos e tecnológicos,
o mesmo (senão mais) parece ter ocorrido na incidência dessas patologias
na população adulta. Não deve ser por outro motivo que proliferam por todo o
“ocidente” gigantescos complexos hospitalares e farmacêuticos e o negócio da
doença (ou “da saúde”) tornou-se o mais lucrativo do mundo, superando até o
negócio do petróleo (fonte: Wall Street Journal).
Se o leitor se der ao trabalho de repetir a pesquisa
“antitabagismo” que fiz no Google (fui até a página 25 dos 167 mil itens
encontrados) verá que quase todos os sites antitabagistas comemoram suas
vitórias nas reduções de fumantes, cada qual com seus próprios números.
Contudo, não encontrei algum que mencionasse as melhorias conquistadas na saúde
da população ou que as comentasse a partir de dados concretos. Pelo que me
parece, no que diz respeito ao (que deveria ser) seu objetivo maior, ou seja, a
melhoria da saúde da população, as campanhas antitabagistas resultaram em um
redondo fracasso.
Então, por que permanecem sem maiores
questionamentos ou autocrítica, sempre na mesma tática “persuasiva” e com os
mesmos meios e mensagens, ao longo de quatro décadas?
O pessimamente mal escrito verbete “Movimento
Antitabagismo” publicado em nossa língua no Wikipédia parece jactar-se de que
“a primeira proibição anti-tabagista (sic) nacional da era moderna foi a do
movimento anti-tabagismo (sic) na Alemanha nazista, imposta pelo Partido
Nazista em todas as universidades, correios, hospitais militares e escritórios
do Partido Nazista na Alemanha” (ufa! uma frase quatro vezes nazista), citando
como fonte o trabalho do prof. Robert N Proctor (Pennsylvania State University,
EUA) intitulado The anti-tobacco campaign of the Nazis: a little known aspect
of public health in Germany, 1933-45.
No abstract da obra citada que encontramos na web o
prof. Robert não menciona esse pioneirismo da “era moderna” por parte dos
nazistas. Ele diz o seguinte: “a Alemanha teve a campanha antitabagista mais
poderosa do mundo (world's strongest) na década de 1930 e início dos anos 1940,
abrangendo proibições de fumar em espaços públicos, proibições de publicidade,
restrições para mulheres e a epidemiologia do tabaco, ligando o seu uso com a
epidemia já evidente de câncer de pulmão. Aquela campanha antitabaco deve ser
entendida como pano de fundo da busca nazista pela pureza racial e corporal
(...)”. Informa também que Adolfo comandava pessoalmente a campanha afirmando
que o tabaco era a “vingança dos peles-vermelha contra os brancos que lhes
levaram a aguardente” e seu uso degenerativo se demonstrava nos “inimigos
fumantes Stalin, Churchill e Roosvelt, enquanto ele próprio e seus aliados
Mussolini e Franco dignificavam a espécie humana por serem antitabagistas”.
Claro que devemos confiar mais no prof. Robert do
que no site que o menciona. Não pretendo ler a obra dele e nem encontrei
menções na web sobre se chegou a verificar e comentar o resultado daquela
world's strongest campanha antitabagista para a melhoria da “raça”, se é que
ela chegou a obter algum resultado. Porém, creio que se resultados positivos
fossem constatados ali é evidente que o site os divulgaria euforicamente.
Pelo lado oposto, o também (menos) mal escrito site
da ONG inglesa Forest que critica as campanhas antitabagistas, mas se confessa
“ciente dos riscos à saúde associados ao tabaco e à natureza destes riscos”,
argumenta: “o Professor Sir Richard Doll (o primeiro a descobrir uma correlação
entre tabagismo e câncer de pulmão em 1950) constatou que quem começar a fumar
quando adolescente e parar com 30 anos, corre um risco de dois por cento de
desenvolver câncer de pulmão; se parar com 50 anos, o risco sobe para oito por
cento; se parar com 70 (ou seja, fumante há mais de 50 anos), o risco sobe para
16 por cento”.
Não vamos tomar este como um “argumento científico”.
Porém, não podemos negar que se trata de uma conjectura plausível (e douta) que
começa a explicar as contradições aqui apontadas. E é bem mais sensata do que
as “estimativas” do INCA que, sem nenhum respaldo científico, “mostram que
cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão, o mais comum de todos os tumores
malignos, estão relacionados ao tabagismo” ( jornal O Tempo, BH, MG; grifo
meu). Se assim fosse, como se explicam as contradições acima denunciadas?
A Forest menciona também (sem dar nomes aos bois) os
fatores positivos do tabagismo no combate ao estresse e “pesquisas que sugerem
que o tabagismo ajuda a afastar o mal de Alzheimer”, mas sem os nomes dos bois
não vamos considerar tais argumentos.
Por sinal, a absoluta ausência de respaldo em nomes
ou referências idôneas, estatísticas confiáveis, fundamentação científica ou
cultural é o que, de imediato, se faz notar nas campanhas antitabagistas.
Campanhas meramente proibitivas, de corte nazifascista (como vimos acima), sem
conteúdos educativos e com fortes componentes terroristas. Dominam com certa
facilidade, usando “táticas” de medo e terror, as mentes inseguras e
desprotegidas de análises críticas da realidade induzindo-as ao preconceito, à
ignorância e à arrogância. Emulam assim o conformismo, a repressão e o estado
policial fomentando ódio, ira e violência cujas infelizes consequências acabam
sendo os “retornos” mais imediatos dessas campanhas (e não somente as
antitabagistas; vide p. ex. a campanha tucana nas últimas eleições
presidenciais).
As fotografias divulgadas nos pacotes e maços de
cigarros são antes de tudo terroristas. Imagine o leitor se a lei determinasse
a obrigação de se imprimirem nos automóveis, motocicletas, ônibus e caminhões
umas fotografias de acidentes catastróficos com pessoas agonizando por entre os
destroços para advertir condutores e passageiros dos perigos que correm ao usarem
esses meios de transporte?! E o perigo (que de fato há, e muito maior), tal
como enfatizam as campanhas antitabaco, não existiria somente para os usuários
dos veículos, mas também para aqueles que circulem nas imediações (usuários
“passivos”).
São campanhas maldosas e capciosas, calculadas para
diminuir o consumo do tabaco pelo amedrontamento das consciências mais
despreparadas e provocando histeria e cizânia de todo o tipo, social e
familiar, por causa do simples ato de fumar; um hábito corriqueiro e inofensivo
que, em passado muito recente, era socialmente aceito sem problemas e até tido
como civilizado. “Dividir para reinar”.
Não há também ignorar os diversos aspectos sombrios
e interesses inconfessáveis que se ocultam por detrás dessas campanhas. O leitor
não será tão ingênuo ao ponto de crer que são produzidas pela “preocupação” dos
legisladores e governantes com a saúde das populações a quem (teoricamente)
servem.
“Com a vigência da Lei 12.546, aprovada em
2011, mas regulamentada em 2014, fica proibido fumar cigarrilhas, charutos,
cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo, públicos ou
privados, como hall e corredores de condomínio, restaurantes e clubes, mesmo
que o ambiente esteja parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou
até toldo” – dizem os jornais de hoje (27/11/2014 – Dia Nacional do Câncer).
Podemos dizer, respaldados no professor Robert, que temos aqui uma
“atualização” da world's strongest, não?
É fato histórico que a humanidade, na primeira
metade do século 20, logrou acabar com as doenças que eram as mais perigosas
até o fim do século 19. A lepra, a tuberculose, a febre amarela e outras
doenças que afligiam o mundo “civilizado” desde a antiguidade foram extintas ou
perderam letalidade nas cinco primeiras décadas do século passado. Nesta mesma
época, enfermidades que vinham sendo incubadas desde os inícios da revolução
industrial como o câncer, o diabetes e as doenças vasculares começaram a
tomar proporções de epidemias. Porém, os cientistas de então tinham boas razões
para serem otimistas quanto ao porvir dos avanços da ciência. Acreditavam que
tais epidemias em breve seriam controladas pelas conquistas tecnológicas que já
se faziam notáveis. O que teria ocorrido para o fracasso da segunda metade
do século, na qual o avanço tecnológico em todas as áreas, em especial nas
áreas médicas e farmacêuticas, foi infinitamente superior ao da primeira
metade?
Não somente aquelas recentes epidemias ganharam
poderio surpreendente como novas surgiram ameaçadoras como do nada, isto é, sem
explicação histórica convincente, como a AIDS, a gripe aviária, a gripe suína e
o ebola. Há fortes suspeitas de que estas “novas” e perigosas patologias foram
originadas em laboratórios farmacêuticos empenhados, ao menos formalmente, na
missão oposta de combate a epidemias. Por que “fracassaram”?
Assim como o diabetes e as doenças vasculares estão
relacionadas historicamente com os aumentos do consumo de açúcares e de
gorduras processadas industrialmente, a epidemia de câncer está historicamente
sincronizada com o surgimento e o crescimento igualmente histórico e
avassalador dos meios de transporte movidos a petróleo. E, como acima reporta o
professor Robert, se tornava já evidente na década de 1930.
Concentrando-se esses fumarentos veículos
primeiramente nos bairros mais ricos das cidades mais ricas das regiões mais
ricas dos países mais ricos, não é por acaso que inicialmente o câncer ficou
conhecido como “doença de rico”. Hoje “a peste de rodas” se espalha com cada
vez maior densidade por todo lugar e assim também o câncer se expandiu e se
“popularizou”.
O leitor conhece de sobra sobre o veneno que
significa a fumaça exalada pelos canos de descarga dessas máquinas. Suicidas as
utilizam fechadas em garagens e ligadas a “ponto morto” para morreram dormindo
em uns poucos minutos. Não é possível imaginarmos suicidas levando pacotes de
cigarros às garagens a fim de fumarem até a morte, pois sabem que antes
morreriam de sede ou de fome por mais que fumassem sem parar.
Quando os europeus invadiram a Pachamama no final do
século 15, o hábito de fumar o tabaco (e outras ervas “proibidas”) entre os
indígenas era mais que milenar. Stradelli relata que o ritual de fumar o tauari
(charuto) em grupos, passando-o de mão em mão, era hábito comum e ancestral em
todas as nações indígenas que conheceu na Amazônia. E o praticavam a qualquer
pretexto e em doses elevadas, especialmente em festividades ou nas tomadas de
decisões importantes. Na época das “descobertas” nenhuma das doenças que agora
são atribuídas ao tabaco era conhecida em parte alguma de sul a norte do
continente americano.
Por que então o tabaco é demonizado e não o
petróleo? Por que se persegue o fumante ocasional, restrito a alguns tragos
inofensivos e localizados, muitas vezes, solitário, e não a liberada e
constante inalação pública, em escala planetária, do poderoso e letal veneno
petrolífero borrifado quase diretamente nas narinas das pessoas em toda parte?
A conclusão “elementar”, meu caro Watson-leitor, é a
de que as campanhas antitabagistas, claramente inspiradas na world's strongest,
se constituem em instrumento de manipulação e de domesticação social contra o
processo histórico-libertário que se vai consolidando, inevitável, na
consciência crítica coletiva das massas exploradas e oprimidas.
Por detrás dessas “campanhas” e suas contradições
escondem-se a contradição principal, o imperialismo, e seus tentáculos (as
corporações transnacionais). E os seus muitos demônios, estes sim, verdadeiros:
os transgênicos, os agrotóxicos, o petróleo, as indústrias pesadas, químicas,
farmacêuticas e “alimentícias”, as previdências privadas, os complexos
hospitalares e os planos de saúde, e, principalmente, os banqueiros privados
que lucram com tudo isto administrando o colossal inferno capitalista em que
pretendem transformar o planeta Terra.
Há também, em imediata subjacência à contradição
principal, o ódio de classe. Hoje, o hábito de fumar é segregado e
preconceituosamente considerado (pela classe dominante e seus vassalos) “coisa
de gente pobre”. Pobre para eles é sinônimo de pessoa sem direito ao gozo da
existência – o proletário - e que tem, nas tragadas de um cigarrinho nos
intervalos da labuta diária, um de seus poucos lenitivos. Por isso devem ser
perseguidos (os pobres e os lenitivos).
Por outro lado, a contradição principal teme a
ameaça que a inteligência, o talento, a cultura e a arte significam para o seu
tenebroso “sistema”. Os que são dados a tais atividades cultivam mentes
libertárias, consciência crítica e são chegados à fumaça, ao álcool e à
rebeldia. Em geral, são também insubordinados ou recalcitrantes ao
estabilishment além de contumazes “criadores de casos”. Reprimi-los e
persegui-los é uma velha e conhecida obcessão fascista.
São apenas dois exemplos da longa lista de subjacências
e temores do imperialismo que, agregando-se a ele ou combatendo-o, se
subordinam ou resistem à sua ação enquanto contradição principal. A qual,
depois da queda da URSS ameaça não somente os países colonizados (ou de
“terceiro mundo”), mas o mundo todo.
Resulta que a campanha antitabagista jamais teve o
objetivo de melhorar a saúde dos povos ao procurar reduzir neles a incidência
de doenças perigosas e letais supostamente causadas pelo tabaco. Tal objetivo é
o que supomos que ela teria por indução semiótica intrínseca às suas táticas e
métodos muito bem arquitetados, calculados e executados. Mas, se o leitor
observá-la de perto e com o rigor das análises críticas, constatará de imediato
que a campanha antitabagista sequer declara tal objetivo, e nem se preocupa com
resultados neste sentido.
Ela é uma ferramenta de dominação projetada para
atuar através dos meios de comunicação. É concebida como um híbrido de
manipulação publicitária e de bode expiatório destinado a amedrontar e
confundir a opinião pública desviando sua atenção para os supostos “males do
tabaco”. Enquanto isso, oculta os verdadeiros (e terríveis) males e desgraças
que o estabilishment imperialista e suas subjacências vêm causando ao planeta e
à humanidade.
Leitor, não admoeste nem persiga o pobre fumante (e,
muito menos, o fumante pobre). Visto o que vimos aqui, asseguro-lhe que ele não
nos faz nenhum mal. Quem nos maltrata de fato são as campanhas antitabagistas
(e similares).
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