ORÁCULO DE CINEMA
Dois Casamentos. Inusitado. Perturbador. Iconoclasta.
Divisor de Águas. Filosófico. Futurista. Preciso. Precioso. Profundo. Contundente.
Prosa Poética. Cinema de Autor e de Amor. Transgressor e Inventivo. Provocativo
e Evocativo. Emissor de Reflexões Existenciais. Enfim tudo que o bom cinema deve nos provocar
quando se trata de uma obra de arte.
Rosemberg retira da caverna da alma um tesouro de
conhecimento e percepção ao confrontar duas mulheres noivas, nos seus sonhos
burgueses, redescobrindo o tempo e projetando a realidade de suas míseras
existência, dos seus infortúnios, no palco da vida em busca do seu significado.
Rosemberg constrói assim um magistral diálogo
dramático, cheio de significantes, desnudando a trama burguesa da felicidade,
desconstruindo o ideal e a moral, arrebatando psicologicamente dois personagens
para que nós (“dentro de um único espectador”) pudéssemos imediatamente construir
um novo olhar (“um olho por fora e milhões de olhos por dentro” diria o poeta Murilo
Mendes) dentro da mesma personagem, da mesma pessoa em prosa libertária. Um
espetáculo digno do bardo inglês vestido de noiva.
Rosemberg supera a si mesmo, retorna a Grécia para
encontrar a suas musas, Gaia e Piton, no templo de Delfos e ambienta esse
encontro criativo nas cavernas de Platão, entre sombras terrenas e luzes
celestes, pois só assim pode observá-las, desnudá-las, amá-las, quando as
dirigindo, com seu bordado criativo, barroco, retirando do caos as curvas
sinuosas de todo dinamismo do movimento cênico, do ato perfeito, do equilíbrio
e de todo prazer que encontramos nessas
duas extraordinárias atrizes, PATRICIA
NIEDERMEIER e ANA ABBOTT, que há muito tempo eu não via no
cinema brasileiro.
Rozemberg, meu caro, não há texto que possa esboçar
a beleza de um filme onde cabe um pedaço grande de todos os nobres sentimentos das
mulheres em relação à liberdade e ao amor, que você, como que pintando um
quadro, vai, em fortes pinceladas, desvendando o grande quebra-cabeça, a forma,
uma a uma , peça por peça, até colocá-las nuas e provocativas buscando, neste
eterno conflito da libido, discutir a sensualidade, a pulsão sexual, a energia
vital, a paixão que só o cinema poesia pode nos permitir.
Rosemberg, além do excelente texto que constrói o diálogo,
da direção competente e segura, das duas maravilhosas noivas, atrizes sem os véus
do realismo novelesco, muito comum hoje na dramaturgia brasileira, você criou,
com o seu cenógrafo, um cenário de fim de mundo, digno do Hamlet de Orson
Welles, realçado com as cores fortes e equilibradas que o seu fotógrafo, VINÍCIUS
BRUM (o seu Gregg Toland), conseguiu registrar e imprimir. A música/trilha de
Rodrigo Marçal e Luciano Corrêa tem grandes momentos, assim como a edição da
Joana Collier é correta, todas essas combinações de talentos conseguem a
colagem cíclica que o filme pede e necessita.
Quero, para finalizar esses mal traçados comentários,
quase críticos, parabenizar CAVI BORGES e os produtores do filme “Dois
Casamentos”, que numa demonstração de coragem e sensibilidade artística deram a
Rosemberg, esse talento cinematográfico que estava esquecido pelos meios que
produzem cultura no país, a oportunidade, mais uma vez, de exibir na tela
grande um filme único, uma obra-prima que todos deveriam assistir e que faltava
na história do cinema poético, inteligente e de arte brasileiro.
Jose Sette - dezembro de 2014.
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