Florbela Espanca
"Não
basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la" - Cícero
08 de
Dezembro de 1930: Suicida-se a poetisa portuguesa Florbela Espanca, no dia em
que completava 36 anos
Florbela
Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo
baptizada, com o nome de Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como
filha de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito. É em Vila
Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela
começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da
Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em
Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira
poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável
precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a
abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever
uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.
Conclui
a instrução primária em Junho de 1906, entrando para o actual sexto ano de
escolaridade em Outubro do mesmo ano. No ano seguinte, Florbela aponta os
primeiros sinais da sua doença, a neurastenia; além disso, escreve o seu
primeiro conto, «Mamã!». Em 1908, Antónia Lobo, a mãe de Florbela morre vítima
de neurose, após o que a família se desloca para Évora, para Florbela
prosseguir os seus estudos no Liceu André Gouveia, com o chamado Curso Geral do
Liceu, cuja sexta classe (próxima do 10º ano actual) completa em 1912.
Entretanto, em 1911, começa a namorar com Alberto Moutinho, mas acaba por se
afastar deste, em virtude de uma nova paixão por José Marques, futuro director
da Torre do Tombo. Após romper com este, no ano seguinte, Florbela reata o
namoro com Alberto Moutinho e, a 8 de Dezembro, uma vez emancipada, casa com
ele, pelo civil, aos 19 anos.
Em 1914,
apesar de algumas dificuldades económicas, o casal muda-se para o Redondo, na
Serra d'Ossa, onde abre um colégio e lecciona. Numa festa do colégio, Florbela
recita, pela primeira vez, versos seus em público. É no ano seguinte que
Florbela inicia o seu caderno «Trocando Olhares», que completa ao longo de
cerca de um ano e meio. Em 1916, a revista «Modas e Bordados» publica
o soneto «Crisântemos», cheio de alterações ao original, e Florbela torna-se
amiga da directora e da sub-directora da revista, Júlia Alves, com quem, aliás,
inicia correspondência. Alguns meses depois, torna-se colaboradora do jornal
«Notícias de Évora», e desiste de um projecto intitulado «Alma de Portugal», um
livro de acentuada carga patriótica, e que conteria as partes «Na Paz» e
«Na Guerra».
Em 1917,
após ter regressado a Évora, Florbela completa o actual 11º ano do Curso
Complementar de Letras, com catorze valores; apesar de querer seguir essa área,
acaba por se inscrever, em Outubro, na Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa, o que a obriga a mudar-se para Lisboa, onde começa a contactar com a vida
boémia. Na sequência de um aborto involuntário, em 1919, Florbela tem de se
mudar para Quelfes, perto de Olhão, onde apresenta os primeiros sintomas sérios
de neurose. Pouco depois, o seu casamento desfaz-se e Florbela decide ir para
Lisboa prosseguir o curso, separando-se do marido, e passando a conhecer a
rejeição da sociedade. Em Junho de 1919, depois de alguma correspondência
trocada com Raul Proença, sai a lume o «Livro de Mágoas»; posteriormente,
completa o terceiro ano de Direito. No ano seguinte inicia «Claustro das
Quimeras»; simultaneamente, passa a viver com António Guimarães, em Matosinhos,
com quem se casa em 1921, após o primeiro divórcio.
De volta
a Lisboa, em 1923, Florbela vê publicado o «Livro de Soror Saudade», mas
tem de se mudar rapidamente para Gonça, perto de Guimarães, para se tratar de
um novo aborto. Assim, Florbela separa-se do marido, que pede o divórcio,
oficializado em 1924; isso leva a que a família de Florbela não lhe fale
durante dois anos, o que a abala muito.
Em 1925,
depois de se ter mudado para a casa de Mário Lage em Esmoriz, casa
com ele, pelo civil e, depois, pela Igreja. Dois anos depois, enquanto Florbela
traduz romances franceses para a Livraria Civilização no Porto (que publica
oito trabalhos seus), e prepara «O Dominó Preto», o
seu irmão falece, o que a torna uma mulher triste e desiludida e
inspira «As Máscaras do Destino». Enquanto a relação com o marido se
desgasta progressivamente, a neurose de Florbela agrava-se bastante; é neste
período que, possivelmente, se apaixona pelo pianista Luís Maria Cabral, a quem
dedica «Chopin» e «Tarde de Música»; talvez por isso, tenta suicidar-se. Em
1929, Florbela passa por Lisboa, onde lhe é recusada a participação no filme
«Dança dos Paroxismos», de Jorge Brum do Canto, e segue para Évora, onde, em
1930, começa a escrever o seu «Diário do Último Ano». Passa, então a colaborar
nas revistas «Portugal Feminino» e «Civilização», e trava conhecimento
com Guido Battelli, que se oferece para publicar «Charneca em Flor».
Já em Matosinhos, Florbela revê as provas do livro, depois da segunda tentativa
de suicídio, em Outubro ou Novembro, período em que a neurose se torna
insuportável e lhe é diagnosticado um edema pulmonar. A 8 de Dezembro, dia do
nascimento e do primeiro casamento, Florbela suicida-se, cerca das duas
horas, com dois frascos de Veronal.
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